Amparados pelo álibi de pertencerem à Vara da Infância e da Juventude, dois juízes que atuavam no interior foram citados em uma série de denúncias de crime de abuso sexual e aliciamento de crianças. Os casos, publicados na revista Isto É desta semana, ganharam repercussão nacional. Segundo a presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco, um deles já foi julgado. Trata-se do juiz Max Cavalcanti, da comarca de Palmeirina, no Agreste, que já foi punido com a medida de aposentadoria compulsória e pode responder ainda a processo criminal. O outro – e mais grave – é do juiz Francisco de Assis Timótio Rodrigues, de São José do Belmonte, no Sertão, acusado, além do crime de pedofilia, de montar uma rede de influência e cometer homicídios no município. A situação de corrupção nesse município é tão séria que a Corregedoria-Geral de Justiça agendou, para o próximo dia 9, uma inspeção geral nos procedimentos e processos da comarca.
Os dois casos foram investigados pela Corregedoria-geral de Justiça, com apoio das polícias civil e militar e do Ministério Público de Pernambuco, e vieram à tona após a divulgação de denúncias anônimas. Em algumas situações, os crimes ficavam escondidos sob o perdão do medo de testemunhas. Após o início das diligências, no entanto, o silêncio foi quebrado. Relatório apresentado pelo corregedor-geral de Justiça, José Fernandes de Lemos, mês passado, revela, por exemplo, indícios de uma possível rede de crimes em São José do Belmonte. Entre os depoimentos colhidos, está o da promotora de justiça Ângela Márcia Freitas da Cruz, que confirmou ter recebido denúncias de populares sobre crimes sexuais. O Diario tentou entrar em contato com ela, mas a promotora respondeu que estava de férias.
No relatório da corregedoria, o juiz Francisco de Assis é apontado como um homem que utilizava crianças atendidas na comarca para serem levadas a tomar “banhos de piscina” na sua casa. Também indica que ele pagava pelo serviço de aliciadores, além de participar de orgias, inclusive com a participação de policiais militares e até padres. O documento levanta ainda a suspeita de que ele tenha matado três pessoas por “queima de arquivo”, entre eles “João Dentão”, pistoleiro que atuava como aliciador. Já o juiz Max Cavalcanti é acusado de fazer sexo com um menino de 10 anos de idade. A empregada doméstica que trabalhava na casa do magistrado é citada como uma das testemunhas do suposto crime.
Segundo o TJPE, Max Cavalcanti já foi processado em julho deste ano e recebeu a punição administrativa de aposentadoria compulsória. O órgão, porém, enviou as peças do processo também ao Ministério Público para que ele responda criminalmente pelas denúncias. Já Francisco de Assis foi afastado temporariamente como medida preventiva para proteger o andamento das investigações. “Estamos construindo as peças para entrar com o processo administrativo disciplinar contra o juiz. Ele também poderá ficar aposentado compulsoriamente e até responder a processo criminal”, explicou o presidente interino do TJPE, Bartolomeu Bueno.
Fonte: Diário de Pernambuco