A postura adotada pelo governo do Estado e as declarações feitas pelo governador Eduardo Campos sobre as denúncias de irregularidades reveladas no caderno especial sobre Fernando de Noronha provocaram surpresa e indignação entre os moradores da ilha. Integrantes do Conselho Distrital, que tem atribuições semelhantes às de uma câmara de vereadores, cobraram a presença do governador e de membros de sua equipe no arquipélago para que a população possa ser ouvida em relação aos problemas revelados pela reportagem. Em entrevista ao JC, o governador afirmou que tudo o que deveria ser dito oficialmente sobre as denúncias já havia sido feito pela administração da ilha, por meio de uma nota oficial encaminhada à redação.
“A resposta dada pelo Estado ao sofrimento e às dificuldades vivenciadas diariamente pela comunidade da ilha foi revoltante. Faltou respeito com uma população que deu ao governador mais de 80% de votos. A nossa sensação é de total abandono. Ao desconhecer as irregularidades praticadas pela atual administração, o que ele está dizendo é que não tem interesse pelos problemas da ilha nem por seus moradores”, afirmou a taxista e dona de pousada Francinete Santana.
A moradora Nádia Pereira das Chagas se disse surpresa com a reação do comando do governo estadual. “Então, tudo o que foi publicado no jornal foi em vão? Todas as denúncias são verdadeiras e a nossa esperança era a de que, quando o governador tivesse conhecimento do que estava acontecendo na ilha, as coisas iriam mudar. Pelo jeito, a gente vai amargar o mesmo descaso e abandono dos últimos anos. Não é possível confiar mais em nenhuma autoridade”, disse a moradora.
Membro do Conselho Distrital, Ailton Araújo Júnior disse que, diante das graves denúncias publicadas no caderno especial, a população de Fernando de Noronha esperava outra resposta do governador do Estado. “Diferentemente do que disse a administração, as irregularidades reveladas pelo jornal não são uma obra de ficção. As pessoas vivem espremidas numa favela chamada de Carandiru, uma empresa privada ocupa o lugar que deveria ser de uma biblioteca, os estudantes sofrem com as ruas cobertas de lama. Ficção é a resposta dada pelo comando do arquipélago ao governador e à sociedade”, afirmou. Ele cobrou a presença do governador na ilha para que os moradores possam ser ouvidos sobre os problemas que enfrentam diariamente.
“O governador precisa vir a Fernando de Noronha e escutar a população. E não ficar no Recife satisfeito com as respostas dadas pela administração. Nós tínhamos a expectativa e a esperança de que, quando os fatos e os desmandos fossem revelados, as medidas seriam tomadas. Ele não pode acreditar nesse papel de duas páginas que a administração escreveu porque ele não corresponde à realidade da ilha”, disse Ailton Araújo, se referindo à nota oficial divulgada pelo comando do arquipélago.
Outro membro do conselho, José Paiva disse que o governo do Estado foi informado, por meio de ofício encaminhado por ele em maio de 2009, da falta de gestão na ilha. “Desde aquela época, nós já solicitávamos a presença de uma equipe do governo do Estado para averiguar as irregularidades e desmandos praticados na ilha. Até hoje, isso nunca aconteceu”. José Paiva diz que o que acontece em Noronha contradiz a própria política adotada pelo governador Eduardo Campos para o resto do Estado. “O governador implantou um modelo de gestão de iniciativa privada no setor público. Infelizmente, Noronha foge à regra do próprio governo.”
Fonte: JC