Vida FM Asa Branca Salgueiro FM Salgueiro FM

O Sertão de Machado Freire

Considero o jornalista Machado Freire como um dos homens que tem contribuído para a história do povo sertanejo. Muitas das matérias escritas pelo jornalista serve de documento histórico para pesquisas, seminários. Machado Freire representa o Sertão vestido na própria aridez, mas cheio de esperança e foi, através deste jornalista, que passamos a escrever para jornais.

Escrito por Wilson Monteiro 

Machado Freire Diz:
novembro 23rd, 2010 às 9:02.

Caro companheiro-irmão Wilson, é muita generosidade de sua parte. Eu não mereço tanto.

O que nós (somos um conjunto de opeários) fazemos é apenas o dever de casa. Vez por outra a gente exagera na dose. Eu retribuo em dobro a você e a todos que pensam e agem em favor do nosso sertão.  

Num futuro próximos haveremos de nos reunir para elaborar um trabalho em conjunto contanto os atos e fatos que permearam a história recente forjada por nossos companheiros de luta, para que ela possa servir de exemplo para os nossos sucessores. Muita gente pensa que vivemos “um mar de rosas” e que as coisas aconteceram como nascem o sol e a escuridão; a chuva e a seca.

Não, nada acontece por acaso. A luta em defesa da nossa gente (ai eu lembro meu querido amigo Miguel Arraes) é um ato de coragem que nasce (espontaneamente) dentro de cada um de nós.

Sempre enfrentamos os poderosos de cabeça erguida, sem levar em conta, inclusive, que estávamos (e ainda estamos) arriscando nossa própria vida. Precisamos dizer aos jovens que muitos companheiros nossos desapareceram, foram presos e torturados. Nada disso aconteceu por acaso.

A nossa trincheira de luta, diferente da deles, se fortaleceu na base da dialética, na organização social e sindical; nas bancas das escolas, no meio da feira e nas caatingas.

Eles se fortaleciam e se agigantavam com a ajuda dos coronéis do mato e do asfalto, dos usineiros e dos grande fazendeiros (isso em todo pais), e no caso do Sertão seus padrinhos se firmavam nas oligarquias sustentadas pela ditadura militar.

Não tínhamos direito à universidade nem a empregos dignos. Nossos companheiros, quando precisavam estudar, tinham que deixar seus pais e toda a família e rumavam para a capital.Eram dois degredos, um lá e outro cá, ficando a família dividida.

Não existiam concursos públicos: eles davam empregos a quem queria,ao bel prazer, obrigando famílias inteiras a se tornarem eternos cabos eleitorais.

Para eles, o povo só servia para dar o voto e dizer amém. Aliás, foi por causa desse tipo de coisa que nós (e eu particularmente) comecei a pedir em praça pública que elegéssemos uma prefeita em Salgueiro, Cabrobó, Santa Maria da Boa Vista,Verdejante e Petrolina. Que fosse uma trabalhadora rural, uma professora.

Foi a partir dai que tivermos as primeiras participações de mulheres na política regional. Salgueiro, Cabrobó e Santa Maria da Boa Vista tiveram suas primeiras candidatas.

Já tivemos prefeitas (e ainda temos três no Sertão) uma gama de vereadoras e uma deputada. Vários indicatos de trabalhadores rurais sertanejos são conduzidos por mulheres, a exemplo de Salgueiro. Ainda falta muito o que fazer.

Queremos que todas as escolas contem com uma biblioteca,grupos de dança e teatro; que tenhamos cinema público e gratuito, banda larga oferecendo Internet de graça, nas cidades e nos campos.

A defesa da ecologia tem que continuar nas escolas e ser lembrada diariamente em casa. A violência tem que ser contida à toda prova, dentro de casa e nas ruas.

A oportunidade de trabalho precisa ser uma regra e acabar de uma vez com o apadrinhamento político. Defendo, inclusive, a eleição para secretário e ministro de estado.

O movimento popular, que iniciamos em Salgueiro, com a criação das associações de Moradores do Prado, Bomba, Santa Margarida e Umãs, precisa ser reciclado e fortalecido, sofrendo cada vez menos a interferência de oportunistas.

Quando fundamos a Asmop, por exemplo, sugerimos que a entidade ajudasse a comunidade nas questões culturais, esportivas e pugnasse, cada vez mais, pelos direitos coletivos da sociedade. 

Me inspirei nos movimentos organizados que passaram a existir depois da gloriosa revolução francesa. Pois é, companheiro Wilson, confesso que vivi. Não estou satisfeito ainda, pois temos muito o que fazer.

Desculpe a verborragia enfadada e a língua afiada. Um abraço fraterno a você e todos e todas que acreditam na força da vontade e que a luta vence o ódio e a ignorância. É de coração

2 comentários sobre “O Sertão de Machado Freire

  1. Ed Ramos

    Freire está de PARABÉNS!

    Este jornalista tem feito um magnífico trabalho com o seu jornal
    para o Sertão.

    Aqui em Cabrobó regidtro a garra e competência da mulher Irenice
    a frente do Conselho de Desenvolvimento Municipal.

    Grande abraço, Machado.

  2. Alvinho Patriota

    Parabéns Machado,

    Você tem a língua afiada em defesa dos direitos coletivos. Não podemos apagar essa trajetória de luta.