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A saudade em dois mundos

nelsonSe a existência humana está carregada de tanta dor, sendo que a morte é a maior delas, que razão podemos ver nela? A pergunta tem inquietado os filósofos desde a Antiguidade. Sócrates e Platão trataram o mundo, a vida e a morte em reflexões sobre a existência de um mundo espiritual, de onde provem nosso espírito e o qual ocupa o corpo, para depois retornar ao mundo original a fim de retirar as “impurezas” adquiridas da vida material. As bases desses temas são encontradas em “Fédon” e “Fedro”, de Platão, e comparadas com “O Livro dos Espíritos” e “Céu e Inferno”, de Allan Kardec – daí os gregos serem considerados os “precursores do espiritismo”.

Não há como negar, “As Mães de Chico Xavier” se coloca neste questionamento espiritual-filosófico, mas tachá-lo de doutrinário é enveredar pela maledicência, a qual levará de roldão para o interior dessa classificação clássicos da sétima arte, como “Ben Hur”, “A Maior História de Todos os Tempos” e “A Última Tentação de Cristo”.

“As Mães…” é, em primeiro plano, um drama sobre a dor da perda e, no contexto, da existência materialista, se abre para uma busca de respostas sobre o sentido da vida e da morte. Ruth (Via Negromonte) e Elisa (Vanessa Gerbelli) choram e amargam as dores da perda de seus filhos em circunstâncias diferentes. Não entendem como eles se foram tão de repente, cuja falta de aviso prévio abre um fosso em suas vidas.

Lara (Tainá Muller) vive inicialmente o drama de estar despreparada para uma gravidez indesejada. Em comum às três mulheres, em circunstâncias diferentes, um fator cruel: o inesperado. Como lidar com ele?

O contexto do bem amarrado roteiro de Emannoel Nogueira e Glauber Filho traz para dentro da história outros elementos como a passagem do tempo e a memória (os fotos dos filhos, as roupas, os objetos pessoais), as quais se agarram às personagens como o martírio de uma jornada sem fim. As nuvens e o céu, captadas em algumas passagens, fazem a metáfora da impossibilidade do controle humano sobre o seu próprio destino. Parece sinalizar a existência de uma força maior acima disso.

Fonte: Diário do Nordeste