Vida FM Asa Branca Salgueiro FM Salgueiro FM

PSB e Marina podem ficar neutros no 2º turno

Ainda tentando entender como a chance de disputar o segundo turno da eleição presidencial escapou entre os dedos, a candidata Marina Silva e seu partido, o PSB, ainda não têm clareza sobre o que farão no segundo turno, se ficarão neutros ou se apoiarão Aécio Neves (PSDB).

Um experiente dirigente do PSB ouvido pela Reuters avalia que Marina tende a ficar neutra e não apoiar o tucano, que deu uma arrancada na reta final da campanha para chegar ao segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição.

Seria uma repetição do que aconteceu em 2010, quando a ex-senadora e ambientalista também disputou a eleição presidencial, naquela ocasião pelo PV, e não apoiou no segundo turno José Serra, então candidato do PSDB, e nem Dilma, que venceu as eleições.

“Uma coisa é certa. Com o PT ela não vai de jeito nenhum. O Beto (Albuquerque, candidato a vice-presidente do PSB) também já me disse que não apoiaria o PT”, disse neste domingo esse socialista, pedindo para não ter seu nome revelado.

O presidente da legenda, Roberto Amaral, disse à Reuters neste domingo que o partido terá que se debruçar sobre três possibilidades: liberar a militância, apoiar Aécio ou apoiar Dilma.

“Vou lutar pela unidade da aliança para que tenha uma posição única. E em segundo lugar vou lutar pela unidade do PSB”, disse Amaral. “Nada é natural e não há tendência”, acrescentou.

O outro dirigente socialista acredita que a tendência neste momento é que a militância seja liberada para apoiar quem desejar, porque há uma forte divisão no partido, que está contaminado ainda com o processo decisório sobre uma nova cúpula para o PSB.

Amaral assumiu interinamente a presidência da legenda após a morte do candidato titular do PSB ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos, num acidente aéreo em 13 de agosto. Amaral convocou o diretório nacional para escolher um novo comando partidário no próximo dia 13.

O presidente do PSB terá que tentar agradar todas as alas para se manter no comando do partido, em meio à negociação de segundo turno da eleição. Isso reforça a ideia de posicionamento neutro da legenda, avaliou a fonte do partido que falou sob condição de anonimato.

“O Amaral é mais ligado ao PT, mas nós estamos muito divididos”, disse o dirigente socialista.

Os diretórios do PSB do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais são mais ligados ao PSDB, lembrou essa fonte. Mas os diretórios do Nordeste, à exceção de Pernambuco, e do Rio de Janeiro têm maior proximidade com o PT.

“Mas o que importa, mais do que o partido, é uma manifestação dela (Marina)”, analisou esse dirigente.

No meio político, há até quem aposte que Marina aprendeu com a eleição de 2010 e compreende que não pode ficar sem uma posição no segundo turno. Se for esse o caso, seria mais natural um apoio a Aécio pelo fato de ser ele a oposição ao PT.

Contudo, um eventual apoio ao PSDB não é tão simples para Marina, porque ela fez uma campanha se apresentando como representante de uma “nova política”, capaz de acabar com a polarização entre PT e PSDB que governam o país há 20 anos. Assim, sua associação a qualquer um dos lados poderia soar incoerente.

O cientista político do Insper, Carlos Melo, acredita que a ex-senadora só tem duas escolhas. “Ou ela se mantém neutra ou ela apoia o Aécio”, disse.

Segundo ele, Marina ficou mais próxima dos tucanos em seu programa econômico. “Mesmo com toda a crítica, ela adquiriu mais identidade, pelo menos no projeto econômico, com o PSDB do que com o PT”, argumentou.

Em seu programa de governo, Marina assumiu o compromisso de restabelecer o tripé macroeconômico (formado por regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal) adotado inicialmente na administração do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso.

O governo Dilma é duramente criticado por profissionais do mercado financeiro e mesmo por acadêmicos por ter privilegiado uma política fiscal expansionista, o que acabou contaminando não apenas o superávit primário, mas também a inflação e o câmbio.

Melo, do Insper, aposta que Marina e PSB dificilmente terão posição conjunta no segundo turno. “O PSB vai ter um raciocínio próprio, independente da Marina”, disse o cientista político. “Acho que o PSB vai fazer um cálculo eleitoral, vai olhar as pesquisas”, acrescentou.

Fonte: Agência Reuters