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Morre o produtor musical João Araújo, aos 78 anos

Morreu neste sábado no Rio, aos 78 anos, o produtor musical João Araújo. Ele foi um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica brasileira.

João Araújo teve uma parada cardíaca e morreu em casa. Ele enfrentava complicações de saúde, desde que fraturou o fêmur numa queda. Chegou a ser operado no início do mês.

Carioca do Leblon, torcedor do Flamengo, João Araújo era o caçula de seis irmãos. João Alfredo Rangel Araújo tinha 14 anos quando trocou o emprego de laboratorista pelo de auxiliar de imprensa de uma gravadora. A partir daí, nunca mais deixou a indústria fonográfica e se transformou num dos produtores musicais mais respeitados do Brasil.

João Araújo passou por várias gravadoras até ser chamado para criar a Som Livre, a gravadora das Organizações Globo, da qual foi presidente desde a fundação até 2005, quando se aposentou. Teve um papel importante no surgimento de muitos talentos da MPB. De Caetano Veloso a Elis Regina. De Gal Costa a Djavan.

“Ele me tratava mesmo como um filho. Ele sabia – e só ele sabia – que eu precisava daquela força para poder crescer, para poder evoluir”, conta o cantor e compositor Djavan.

“Caetano e Gal foram os primeiros que eu contratei. O Caetano, muito magrinho, muito humilde e tal, mas que a gente sentia nas letras dele já um talento explosivo, entende?”, disse em depoimento ao Projeto Memória Globo.

“O lançamento meu e de Gal existiu por causa do João Araújo”, conta o cantor e compositor Caetano Veloso.

Em 2007, João Araújo foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Grammy latino, concedido a pessoas com importantes contribuições em gravação e promoção musical.

“Quando eu penso que não tenho mais emoções para viver surge um Grammy na minha vida”, declarou, na época.

João Araújo era conhecido fora dos meios musicais como o pai do cantor Cazuza. Que, em 1982, ele relutou em lançar, por medo de ser acusado de favorecer o filho.

“Quando o Cazuza estava começando, ele não queria lançar o LP do Barão Vermelho, porque era filho. Essa firmeza do caráter dele”, comenta a cantora e compositora Sandra de Sá.

No filme “O tempo não para”, de 2004, João foi interpretado pelo ator Reginaldo Faria. “Tão logo o personagem foi construído e exibido no cinema, eu recebi do João Araújo um e-mail dizendo que ele tinha visto o personagem e que eu estava tão próximo dele, que ele sentia uma espécie de crise de identidade”, conta o ator.

Atualmente, João era presidente de honra da Associação Brasileira dos Produtores de Discos. O também produtor musical Guto Graça Mello trabalhou 19 anos com João Araújo.

“Ele se emocionava muito com os artistas e se emocionava muito com a música quando ele gostava. Isso eu sinto muito. Eu acho que esse buraco ele vai deixar”, lamenta Guto.

“Para mim, pessoalmente, eu existo graças à vontade do João”, conta o cantor e compositor Lulu Santos.

Muitos amigos estiveram presentes no velório. Entre eles, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, e sua mulher, Karen; e os vice-presidentes José Roberto Marinho com a mulher, Vânia; e João Roberto Marinho com a mulher, Gisela.

A apresentadora Xuxa Meneghel, que teve discos lançados por João Araújo e se tornou um fenômeno de vendas, mal conseguia falar.

O corpo de João Araújo foi enterrado no fim da tarde, debaixo de chuva fina, num cemitério da Zona Sul do Rio, no mesmo jazigo onde está o corpo do filho Cazuza.

Sobre o caixão, pétalas de rosas e a bandeira do clube de coração. Depois, palmas. E o olhar de despedida da mulher, Lucinha, com quem João Araújo foi casado por mais de meio século.

Fonte: Jornal Nacional