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Mensagem para Salgueiro

salgueiro12NÃO. Hoje eu não quero falar de minha Salgueiro com seus problemas, com suas angústias e com outras tantas mazelas tão frequentes em cidades de porte médio. Até porque todo progresso tem seu preço.

Hoje eu quero falar da minha Salgueiro dos meus tempos de infância e adolescência.

Quero falar de um tempo em que, às noites, sentava-me na calçada da casa de “seu” Audílio Sampaio e contava estórias malassombradas a dezenas de coleguinhas. Eram estórias improvisadas. Às vezes elas me olhavam com olhos de pavor e alguns até tremiam de medo.
Lembro-me de uma vez que eu contei uma tão pavorosa, tão arrepilante que até eu (o autor da bela obra) não consegui dormir. Naquela noite, pedia a mamãe para deixar acesa a lâmpada do meu quarto.

Quero relembrar de passagens e personagens reais que povoaram o meu mundo particular: A valentia verbal de Primo Salomão, a mansidão de Boléu, Zé “Lotero” transportando lavagens para alimentar os porcos de Dona Amelina, Maria Bandé, Berrada, “seu” Epitácio expulsando os guris da quadra esportiva do antigo BNB, hoje Pizzaria Ponto de Encontro; “seu” Leó e filhos na labuta da olaria próximo à Pedra do Urubu. “Tutuzinho” e o seu inseparável reco-reco, a boemia de Flare, Mário Néu dirigindo a sua rural marrom, Antônio Grosso com um telefone de plástico pendurado no pescoço, Dona Argentina e suas milagrosas raízes, o vendedor do cuscuz paulista. Ain da hoje sinto o inconfundível sabor daquele cuscuz na boca. O ferreiro “Tubiba”, “Moça Velha” e suas cabeludas pornofonias… Quase todos moravam no bairro da Bomba.

Os carnavais daquela memorável época eram vivenciados à base do mela-mela, dos lança-perfumes, dos jippe sem capota, da alegria contagiante da turma que estudava no Recife. A Bicharada do Mestre Jaime já fazia sucesso.

Lembro-me dos São Joões e das espigas de milho assadas nas fogueiras, dos bolos de Dona Sebastiana rezadeira, na minha opinião, os melhores do Sertão.

Todos dançavam animados forrós nas vozes do Trio Nordestino, de Assisão, de Terezinha do Acordeon. Esta, minha conterrânea. Filha de “Seu Belo” protético.

Também dava muito prazer participar das festas juninas promovidas pela Escola Professor Manuel Leite.

As festas de final de ano tinham um aspecto nostálgico. Na rua Otávio Leitinho eram armadas barracas e mais barracas. Lá ouviam-se os lançamentos musicais do Rei Roberto Carlos, principalm,ente, à medida que no famigerado Parque de Diversões Lima ouviam-se músicas dos Fevers, de Agnaldo Timóteo, de Jerri Adriane, de John Lennon e tantos outros que ainda fazem parte da minha vida.

Onde funciona a a agência bancária da Caixa Econômica Federal havia o prédio do Cine Salgueiro. Tudo isso me faz lembrar do cheiro de pipoca que exalava da carroça de um irmão do ex-vereador Damião Peba. Na calçada do cinema eu vendia e trocava revistinhas. Eu era o conhecido “piolho de cinema”. Não perdia um filme faroeste, nem de Teixeirinha, nem de Mazarope, nem de Trzan e muito menos de Bruce Lee.

Figuras como as de Zé de Rosa, Antônio de Capanga (projetista), “Seu” Isnard e Zé de Osmundo jamais se pagarão da minha memória.

Tempos bons que Salgueiro me proporcionou.

Apesar de pobre e sofrido, fuio muito feliz. E não existe riqueza maior, como alguns dizem, do que a felicidade.
Hoje estou grato a esta cidade e aos que nela viveram e aos que nela vivem por terem me proporcionado escrever sobre algumas passagens da minha infância d da minha adolescência neste abençoado torrão.

Ofereço esta mensagem ao município de Salgueiro pelos seus 147 anos de Emancipação Política.

Escrito por Ivo Júnior (postado originalmente no blog de Wilson Monteiro)

2 comentários sobre “Mensagem para Salgueiro

  1. Alvinho Patriota

    Parabéns Ivo Jr. por sua perspicácia, por seu conhecimento de causa (de Salgueiro), continue escrevendo, enriquecendo nosso conhecimento.