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Funcionário que enterrou mais de 100 vítimas da Kiss luta contra depressão

Viver uma tragédia como a da Boate Kiss, em Santa Maria, onde 242 pessoas morreram em um curto espaço de tempo, na madrugada de 27 de janeiro, é bem diferente de apenas ouvir os relatos a uma distância segura emocionalmente. Entretanto, até mesmo quem estava acostumado com a morte sucumbiu ao que aconteceu na cidade. É o caso do administrador dos cemitérios municipais, Gelson Altemir Silva da Silva, 49 anos, que presenciou mais de uma centena de enterros em apenas dois dias. Experiência que ele nunca vai esquecer, com consequências psicológicas contra as quais ele ainda luta, mas que amoleceu de vez o coração de alguém que lidava cotidianamente com a morte.

“A gente trabalha normal, só que a gente percebeu que, com aquilo, perdeu um pouco(da blindagem). A gente trabalha ali dentro, infelizmente a gente tem que ter o coração meio duro, saber separar. Mas depois daquilo a gente não conseguiu, o nosso coração amoleceu mais. A gente tratava aquilo friamente, e hoje não”, relata Silva, ao contar na tarde nublada de sábado o cenário de guerra que vivenciou naqueles dias, e que ainda o assombram diariamente.

Mesmo depois de décadas trabalhando com a morte, assunto que a maioria prefere evitar, Silva relata que ninguém poderia estar preparado para algo semelhante ao que aconteceu em Santa Maria. “A gente não sentiu a dor que a família sente, mas a gente podia imaginar, e um pouco você tira também. Era muito sofrimento, era muita gente chorando, tinha gente desmaiando. Aquilo ali virou tipo uma praça de guerra”, relembra, dizendo que a cena mais horrível daqueles dias, e talvez de sua vida, foi o que presenciou no ginásio de esportes para onde eram levados os corpos das vítimas.

Fonte: Terra