Vida FM Asa Branca Salgueiro FM Salgueiro FM

Entrevista com o presidente do PV de Pernambuco

Por Daniel Leite
Da Folha de Pernambuco

Presidente do PV estadual, e suplente do senador Fernando Bezerra, Carlos Augusto tem uma preocupação que não se restringe às questões políticas locais, mas ao futuro da própria humanidade: a redução das emissões de carbono e, consequentemente, a possibilidade de que a temperatura terrestre não ultrapasse uma elevação de 2°C até o final do século. Por isso, acompanha, de perto, a realização da COP 21, encontro que reúne, em Paris, grandes potências mundiais, responsáveis pelo aquecimento. Na teoria, diz Carlos, houve avanço. Na prática, só o tempo dirá. O Verde também comentou sobre as políticas nacionais para o meio ambiente, que considera insuficientes, e falou, também, do Recife, Capital que cresceu além da conta, sem o planejamento necessário. Abaixo, a entrevista completa.

O que você acha da COP 21 e da participação brasileira no evento?
O desafio é tirar do papel as intenções. Alguns avanços foram obtidos, como a posição dos EUA em reduzir as emissões, mas nada garante que eles irão realmente executar o que estão dizendo. Isso vale também para o maior emissor, a China – responsável por 22% de toda a emissão planetária – e a Russia, que não querem se comprometer com redução significativa. Como sabemos, o desafio é grande: assinar um novo acordo global com o objetivo de reduzir as emissões e garantir que a temperatura da Terra não aumente muito mais que 2ºC até o fim do século 21.

O que o Partido Verde defende?
Nós, verdes, defendemos uma meta até mais ousada, não mais que 1,5°C; e também a criação de um fundo de US$ 100 bilhões por ano para conter e mitigar os efeitos da crise climática. Temos a esperança de que esse histórico encontro dê uma resposta contundente à crise climática e que se possa construir um caminho mais seguro para o planeta. Quanto ao governo brasileiro, nosso entendimento é que continua jogando para o público internacional, ao concentrar suas metas na Amazônia e “esquecer” dos diversos biomas ameaçados do país, como a nossa Caatinga, o Cerrado, o Pantanal ou a Mata Atlântica. O Brasil não pode se redimir a um posicionamento secundário dentro das negociações com as partes. Devia não só estar definindo uma meta ousada, mas também sendo protagonista no diálogo latinoamericano dentro da COP. Vivendo uma profunda crise hídrica e no meio de sua maior tragédia ambiental, o Brasil deveria estar fazendo mais e melhor em Paris e não perdendo a oportunidade de assumir o protagonismo na arena internacional.

É possível que o Brasil alcance os novos objetivos do milênio, previstos para o início de 2016, e que traçam metas relacionadas à sustentabilidade, em meio à crise política e econômica?
Já antes dessa crise que assola o País, as metas somente seriam cumpridas, com os volumes de investimentos que vinham sendo realizados, em décadas. Com a crise econômica, que para alguns economistas deve a ser a maior que o Brasil já viveu desde 1900, ficará, com certeza, muito mais difícil.

Como avalia o mandato da presidente Dilma, com relação à temática ambiental?
Neste particular vou usar um número das pesquisas internas do PV: 75% dos entrevistados desaprovam a gestão do Governo Dilma na área ambiental. Tomando como base esse número e as ações do governo, especialmente frente à maior tragédia ambiental do Brasil e na participação na COP 21, podemos dizer que a avaliação é negativa.

O PV, hoje, apoia o impeachment da presidente? E qual o posicionamento com relação a Eduardo Cunha?
O PV irá se reunir para tomar posição sobre o tema, mas a minha opinião é que tudo deve ser investigado, apurado e, sendo comprovada a ilegalidade dos atos praticados pela presidente Dilma e pelo presidente da Câmara, eles devem ser punidos com a perda do mandato, como prega a lei constitucional.

Qual a avaliação que o PV faz da gestão pública no Recife, com relação ao meio ambiente?
O entendimento do PV é que com o crescimento demográfico, a falta de planejamento urbano, a geografia do Recife cortada por vários rios, entre eles o Capibaribe e o Beberibe, há uma certa omissão do poder público e o fato de termos menos de 40% dos domicílios atendidos com saneamento básico, além de uma ocupação desordenada da cidade, não temos como avaliar a gestão ambiental como boa.

Quais os resultados das visitas que o senhor tem realizado nos bairros recifense, com o objetivo de entender como se está combatendo o Aedes Aegypti?
Como sabemos, o mosquito da dengue é um mosquito diurno e que gosta de água limpa. Sendo assim, mais de 85% dos casos são encontrados dentro das residências. No tocante a este particular, a Prefeitura está fazendo seu dever de casa. Porém, nas áreas públicas, durante as nossas caminhadas do projeto Recife bom para viver (blog: www.recifebomparaviver.com.br) temos encontrado uma quantidade significativa de lixo e esgoto a céu aberto que contribuem para dificultar o combate ao
mosquito.

O Governo do Estado tem apresentado propostas polêmicas na área ambiental, tais como a mudança nas regras para a aplicação do estudo de impacto ambiental, a diminuição da área de refúgio do tatu-bola, no Sertão do São Francisco, e a autorização para o desmatamento de áreas de brejo de altitude, no Sertão do Araripe, para a instalação de usinas eólicas. Como o PV enxerga estas questões? Qual avaliação faz do Governo do Estado, neste sentido?
Em 2011, a convite do governador Eduardo Campos, a partir de 15 compromissos programáticos amplamente divulgados e que resultaram na implantação da primeira Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade no Estado (Semas), o PV, com Sergio Xavier como secretário, entrou no Governo de Pernambuco e, hoje, podemos ver que grande parte dos 15 compromissos assumidos, começaram a ser implantados. Por exemplo: aumentamos a área de proteção da Caatinga e Mata Atlântica. Também realizamos parceria com mais de 70 prefeituras para municipalização das políticas e ações ambientais, criando o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade – Sisemas. Além disso, avançamos fortemente na reversão dos passivos ambientais de 30 anos de Suape, com preservação de 9.600 hectares de Mata Atlântica, Restinga e Mangue, incluindo o reflorestamento de 972 hectares, com plantio de mais de 1,4 milhão de árvores nativas.

Algo mais?
Cuidamos das águas, a partir da PPP da Compesa, com obras já em curso, que vai universalizar a coleta e tratamento de esgoto em 15 municípios da Região Metropolitana em dez anos. Também consolidamos o Estado como polo de energia eólica e inovamos com projetos de energia solar. Nosso Estado já é o maior gerador de energia solar do Brasil, mostrando que o Governo de Pernambuco incorporou de forma concreta as bandeiras defendidas pelos verdes. Gostaria de ressaltar o seguinte: construir um modelo de desenvolvimento sustentável é o maior desafio do século 21. O trabalho apenas começou, mas podemos afirmar que o Partido Verde já está mostrando resultados. Sendo assim, a nossa avaliação é extremamente positiva. Não poderia ser diferente.

Como o PV foi afetado pela criação da Rede Sustentabilidade? Quais as maiores semelhanças e diferenças entre os dois partidos?
Entendo que o PV cresce com a chegada da Rede. Cresce porque temos trabalhado harmonicamente em Pernambuco. O surgimento de uma nova sigla preocupada com a questão ambiental e com a vida das pessoas acarreta, necessariamente, o fortalecimento das duas siglas, PV e Rede.

A relação entre as siglas é harmoniosa? A saída de Sérgio Xavier atrapalha os planos do PV em Pernambuco?
Como disse anteriormente, muito harmoniosa. Com relação a saída de Sérgio Xavier é uma perda muito sentida. Sérgio Xavier é um dos maiores quadros em defesa do meio ambiente do Brasil, com trabalho prestado ao longo de mais de 20 anos. Porém, como disse antes, as nossas sinergias e afinidades nos move para uma atuação conjunta, reforçando as duas siglas.

Como o PV avalia o mandato de Daniel Coelho (PSDB), que já pertenceu aos quadros do partido e pode vir a ser, novamente, candidato à prefeito do Recife?
Pelo que tenho lido nos jornais, tem feito um bom mandato em Brasilia.

Como o PV está se estruturando para a eleição municipal em 2016? A tendência é apoiar a reeleição do prefeito Geraldo Julio?
Desde o inicio do ano temos, arduamente, trabalhado visando o fortalecimento do PV. Realizamos diversos seminários no interior do Estado e, em particular, no Recife. Lançamos o projeto social Recife bom para viver. Estamos caminhando pela cidade, ruas, bairros e morros identificando pontos positivos e negativos que estão sendo publicados no blog e que terão novos meios de visibilidade. As caminhadas acontecem pelas 18 microrregiões do Recife. Já realizamos oito, com mais de 65 km percorridos, interagindo com as pessoas dos bairros e comunidades. Vivenciando com essas pessoas seus anseios, suas demandas, as lutas diárias e os seus sonhos. Achamos que, com isso, o PV sai na frente dos outros partidos, com muita propriedade e se fortalece para uma eventual disputa municipal em 2016. Quanto a apoiar ou não a reeleição de Geraldo Julio, temos dito que estamos fazendo o nosso dever de casa. Vamos, ainda ouvir a nossa militância e, no momento oportuno, o PV decidirá qual caminho trilhar nas próximas eleições.