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Dilma faz considerações finais e repete que não cometeu crime

O processo de impeachment contra Dilma Rousseff, entrou nesta terça-feira (30) na fase de debates, a última etapa antes da votação.

A fase anterior, a de arguição da presidente afastada, se estendeu quase até a meia-noite da segunda-feira (29). A última pergunta foi da advogada de acusação, Janaína Paschoal.

“Vossa Excelência disse que 2015 foi um ano difícil em virtude da crise no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Eu gostaria de saber se vossa excelência poderia explicar por que o Chile, o Peru, o Paraguai, a Bolívia e o México cresceram, apesar dessa mesma crise. Em que medida essa crise atingiu o Brasil e não atingiu esses países? Também gostaria de saber de vossa excelência: por que não foram feitos cortes em 2014, e foi feito um corte histórico em 2015?”, questionou Janaína Paschoal.

Na resposta, Dilma não falou dos países citados pela advogada, preferiu fazer uma comparação da economia brasileira com a chinesa e atribuiu a responsabilidade da crise à disputa política.

“Por todas as estatísticas disponíveis no Brasil, a crise não começa em 2014; ela se intensifica no final de 2014. A partir de um determinado momento, nós tivemos uma queda brutal. Essa queda brutal começa no final do ano de 2014, a partir de outubro de 2014, e se intensifica e torna-se extremamente pronunciada – é só ver o desempenho dos preços – a partir de janeiro. A partir de janeiro, por exemplo, o petróleo afunda. Considerando que o petróleo e o minério de ferro tiveram um comportamento parecido e que o comportamento das commodities agrícolas vinha desacelerando, a partir de setembro – começa mais forte em outubro e despenca a partir daí -, nós temos um cenário de extrema preocupação econômica, que, de repente, coloca diante de nós a dificuldade que é gerir o país num momento de uma intensificação dessa natureza. Acredito, advogada Janaína, que nós teríamos conseguido superar esse processo se, por acaso, tivesse havido menos politização na tentativa de inviabilizar o meu governo. Acho que é uma experiência para o futuro deste país. Diante da crise, é de bom tom que a oposição e a situação se unam pelo bem do país e, depois que passar o momento mais difícil, voltem a brigar o quanto quiserem. Porém, o que não é admissível é que, diante desse fato, que era a chegada das consequências da crise ao Brasil – e lembro que a primeira fase da crise, que acontece em 2009, nós conseguimos superar em 2010. Em 2010, nós crescemos 7%. Nós conseguimos isso em 2011 e 2012. Nós só, não; a China também. A China teve o mesmo processo. A China segura a taxa de crescimento. Vai despencar a taxa de crescimento da China na mesma hora em que a nossa despenca. E ela passa de uma taxa de crescimento de 10% a 9,5%, 9%, para uma taxa de menos 7% hoje. Considerava-se uma taxa de menos 7% para a China um verdadeiro absurdo. Ninguém esperava que isso acontecesse”, respondeu Dilma Rousseff.

Depois da advogada de acusação, seria a vez de o advogado de defesa fazer perguntas. Mas José Eduardo Cardozo abriu mão do tempo para que Dilma Rousseff fizesse as considerações finais e ela repetiu que não cometeu crime de responsabilidade.

“Acho que a disputa política, a relação oposição-situação é absolutamente normal e muito vantajosa num país democrático como queremos ser, mas tentar inventar crimes de responsabilidade onde eles não existem ou transformar o orçamento público, a execução do gasto público num espaço de disputa ideológica que não tem consequências para o bem do país, acho que nós já temos maturidade suficiente para superar esse processo. Quero, finalmente, dizer: é muito grave, é muito grave afastar uma presidenta da República sem crime de responsabilidade, mesmo que o impeachment esteja previsto na nossa Constituição. É muito grave! Não se trata de um golpe como aquele que nós todos, que têm a minha idade, ou um pouco menos, ou um pouco mais, sofremos ao longo da nossa juventude. Mas não é possível supor que, quando se faz exceções e se tira um presidente eleito sem crime de responsabilidade, este ferimento será muito difícil de ser curado. Por isso, eu peço aos senhores senadores e às senhoras senadoras que tenham consciência na hora de avaliar este processo. Muito obrigada”, disse Dilma Rousseff.

Fonte: Jornal Nacional