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De onde vem o amor pelo futebol?

As pessoas gostam de futebol porque se veem como jogadores. Gostam porque se pensam capazes de realizar uma jogada ainda melhor que aquela do final de semana do jogo transmitido ao vivo. E esperar pelos gols da rodada? E discutir a atuação do árbitro? Foi pênalti, como ele não marcou? O melhor site do Brasil afirma que foi pênalti. Hoje temos o VAR que, cá entre nós, resolve na base da insensibilidade. Pelo VAR, os lances discutíveis são esmiuçados por trezentos ângulos diferentes e tudo fica como que desnaturalizado.

As pessoas gostam de futebol porque apostam em si mesmas, confiam tanto em si mesmas que chegam a se sentir culpadas quando não assistem ao jogo e o seu time saiu derrotado. Elas fazem parte do time e a não presença pode significar a derrota ou o triunfo. As pessoas sentem-se responsáveis pelo seu clube e, é justamente por isso que não se furtam às vaias se preciso for e mesmo às ações mais contundentes contra a agremiação e contra os próprios jogadores. Isso tem nome, paixão.

O futebol leva ao paraíso e ao inferno. Leva o indivíduo à porta do clube para festejar uma contratação, como para pichar os muros com insultos e ameaças quando o time não demonstra raça,

quando os resultados negativos são atribuídos à falta de empenho dos jogadores ou à burrice do técnico. As portas do paraíso se fecham e as do inferno se escancaram. Títulos, conquistas individuais como artilharia, goleiro menos vazado, número de assistências alçam o torcedor à condição de ser encantado, ele se sente vitorioso, ele pulou junto com o goleiro e defendeu aquele pênalti aos quarenta e cinco do segundo tempo, ele viu o ala abrindo pela esquerda e fez aquele lançamento de sessenta jardas. O torcedor joga junto, ele é peça fundamental no esquema tático, o famoso décimo segundo jogador.

Gostar de futebol é da natureza humana, é como exercer um talento ou alimentar, sem economia, uma paixão, é questão de caráter. O jornalista e dramaturgo, Nélson Rodrigues, dizia, aliás, que “muitas vezes, é a falta de caráter que decide uma partida (…)”, referindo-se, obviamente, às artimanhas e pequenas maldades cometidas no jogo. Maradona, por exemplo, quando questionado sobre o célebre gol de mão na copa de 1986, não hesitou, “la mano de Dios”; poesia e cinismo ou desvario de um apaixonado?

As pessoas gostam de futebol porque se tornam Pelés, Garrinchas, Maradonas, Messis, Cristianos, Martas, Formigas, porque o futebol as livram da pobreza, porque faz o coração bater mais forte e nunca esquecer de que está vivo, pulsante e que, a qualquer momento, tudo pode ser diferente. O futebol é uma representação da vida. Muitos se comportam como atacantes, daqueles rompedores ou oportunistas, outros se comportam como zagueiros e, claro, há quem viva a vida como um goleiro, mas, independente de como o torcedor encara a vida, todos somos técnicos, todos nós temos a solução. É por isso que as pessoas amam o futebol, porque o futebol lhes dá a vida de volta.