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Ameaçado pelo PCC, promotor não sabe mais o que é privacidade

O promotor Lincoln Gakiya não sabe há algum tempo o que é privacidade. Em 2005, quando chefes doPrimeiro Comando da Capital(PCC) decretaram sua morte pela primeira vez, experimentou a vida com escolta policial. Há cinco anos, passou a ser acompanhado 24 horas por dia por policiais militares. Na última semana, Gakiya foi alvo de nova ordem de assassinato. A polícia apreendeu duas cartas cifradas na saída da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde estão detidos os chefes da facção. Atribuídas à cúpula do PCC, as mensagens sugeriam que os bandidos já haviam levantado a ficha de Gakiya, a quem se referiam como o “frango japonês”.

Há dez anos à frente do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público em Presidente Prudente, Gakiya é hoje o rosto do combate ao crime organizado numa região que concentra o maior número de presídios do Brasil — são 22, com cerca de 23.300 detentos.

No começo da carreira, a iminência da morte o apavorava tanto que ele passou a carregar em seu carro a fotografia de um de seus algozes, para tentar reconhecê-lo na rua. Aos 51 anos, trata com surpreendente naturalidade o fato de ser acompanhado por homens armados em tempo integral, ter cursos de tiro e carro blindado.

— Dentro do possível, minha vida é normal. Vou à academia, pescar, corro no parque… Não posso viver encarcerado na minha residência. Mas é claro que não é agradável explicar pros seus filhos, pra sua mulher e sua mãe por que tem tanta polícia na porta da sua casa —diz Gakiya.

Pedidos de remoção

A ordem do assassinato seria uma reação do PCC à intenção do Ministério Público (MP) de transferir para um presídio federal o número um da organização criminosa, Marcos Camacho, o Marcola, além de outros líderes. À revelia do governo do estado, no fim de novembro, Gakiya ingressou na Justiça com pedidos de remoção de 15 integrantes da facção. A medida abala a rede de contatos dos chefes ao afastá-los de familiares e advogados.

O governador Márcio França (PSB) é contrário às transferências. Teme retaliações nos moldes dos ataques de 2006, quando membros do PCC se rebelaram em presídios, incendiaram ônibus e alvejaram delegacias. O juiz responsável ainda não se pronunciou a respeito.

O pedido de transferência, por sua vez, foi motivado por um plano de resgate descoberto pela polícia em outubro. Com medo da invasão, a Justiça decidiu fechar o aeroporto de Presidente Venceslau. O governo do estado mandou para a região mais de 200 homens da tropa de elite da PM.

Fonte: O Globo