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A importância de uma política de alimentos

encontro-alimentos* Péricles Tavares

Em setembro último, Verdejante sediou encontro regional do Prorural para discutir sobre investimentos e projetos no setor produtivo de caprinovinocultura do Sertão Central, numa perspectiva de investimentos do órgão no setor que chega a 15 milhões de reais.

Foi sem dúvida uma ótima oportunidade para o debate sobre negócios agrícolas e empreendedorismo, o que terminou acontecendo com muito bom proveito.

O relatório conjunto da FAO e da OMS (Roma 1973), salienta que devemos encarar a nutrição como fator condicionante da velocidade do desenvolvimento sócio econômico, porque somente uma população sadia pode ter alta capacidade de trabalho, de criatividade e mínimas despesas com a assistência médica.

Pensando internamente, o Brasil, sem uma política correta de geração de alimentos, pode se transformar numa Índia faminta, então, há de se oferecer soluções para uma alimentação humana decente, balanceada e que sirva de apoio ao desenvolvimento.

E daí, ao contrário do que acontece atualmente, em que a agricultura e os agricultores são usados simplesmente para gerarem lucros, eles terão uma função eminentemente social: proteger a sociedade com alimentos de alta qualidade e na quantidade suficiente amparando o desenvolvimento sócio econômico do País.

A correlação entre alimentação e desenvolvimento sócio econômico é tão forte, que interfere em toda a vida das sociedades.

É sobejamente sabido que os brasileiros não têm vocação agrícola, ou melhor, são itinerantes e só fazem agricultura porque o País dispõe de condições excepcionais: grande extensão territorial, solos férteis e clima favorável e tanto isso é verdade que, ao menor aceno, fogem para as cidades.

Por este motivo, é fácil detectar a origem do êxodo rural, que despovoou brutalmente o campo, isto é, a baixa renda da agricultura, a legislação trabalhista, o crescimento das cidades com a multiplicação de empregos melhores remunerados que na agricultura, enfim, a vida em sociedade.

Assim, depois de 1950, muitos agricultores depuseram suas armas e sitiantes, colonos de café, meeiros e assalariados acabaram com os roçados, venderam suas criações e de “mala e cuia” se transferiram para as cidades, engrossando a classe dos subempregados e formando uma nova classe social de baixa renda e costumes rústicos, que passaram de pequenos produtores a consumidores marginais.

Por outro lado, o modelo agrícola brasileiro, que data do tempo do Império, sempre foi voltado para o exterior, rigidamente exportador de produtos primários para os países ricos que pagam em dólares. Nunca se preocupou com questões de abastecimento interno para conduzir à formação de um mercado de consumidores.

Indiscutivelmente, a política exportadora financiou o crescimento e a modernização das cidades, porém, em termos sócio econômicos não promoveu um amplo desenvolvimento da pessoa humana.

Não se pode confundir “crescimento” com “desenvolvimento”, crescimento é o aumento de produção e desenvolvimento é a melhoria geral das condições de vida: educação, saúde, alimentação, etc…

Portanto, pode haver “crescimento sem desenvolvimento”, como no nosso caso particular, já que ainda não desenvolvemos nossa própria tecnologia, consciente, ecológica e segura, para garantir às populações recursos alimentares de alta qualidade e na quantidade suficiente.

A estrutura de alimentação, ou seja, a qualidade dos alimentos, é um dos parâmetros mais importantes, que medem o grau de desenvolvimento de uma população. O alimento atende à necessidade básica da vida e cada povo procura desenvolver sua própria tecnologia para produzi-lo, estocá-lo, beneficiá-lo e consumi-lo.

Muitos povos pobres consomem imediatamente os alimentos que colhem, de uma agricultura braçal e custosa; não conseguem estocar alimentos, porque insuficientes e nos momentos críticos, quando há acidentes climáticos, pragas ou outros sinistro, são dependentes e sofrem fome, muitas vezes, crônica; outros povos, que desenvolveram tecnologias avançadas, conseguem estocar grandes quantidades de alimentos, enriquecê-los , consumi-los beneficiados, usá-los para alimentação de animais e exportá-los. E como a carne, leite, os ovos são alimentos protéicos, nobres e construtores do organismo, estes povos ricos mudaram a estrutura de alimentação de seus ancestrais, para uma alimentação mais rica de produtos animais. Assim, consomem mais proteínas que hidrocarbonados e gorduras.

Esta mudança de estrutura de alimentação conduziu a uma divisão do mundo em povos ricos, industrializados chamados povos desenvolvidos, porque comem mais e melhor e povos pobres, agrícolas chamados povos subdesenvolvidos.

O parâmetro “agrícola”, que, há anos, servia para identificar povos, foi mais tarde abandonado, porque alguns países agrícolas, grandes exportadores, possuem estruturas alimentares muito adiantadas e, portanto, o fato de um povo ter uma agricultura desenvolvida e em contrapartida uma moderna industrialização não significa absolutamente um povo subdesenvolvido.

Entretanto, os cientistas sociais, economistas, sociólogos, nutricionistas, educadores e sanitaristas, têm se escudado em certos indicadores, como porcentagem de alimentos protéicos e porcentagens de alimentos hidrocarbonados (vegetais) consumidos por populações, dando origem à classificação dos países nos dois grupos acima.

Os Estados Unidos e a França são grandes produtores agrícolas e grandes exportadores; transformam grande parte desta produção em carne, pela boca dos animais, para consumo próprio, e são também grandes importadores de carne.

Nessas condições, conseguem balancear a ração da população, dando-lhe condições de acesso a mais proteínas e têm condições de ditar normas de alimentação. Tanto isso é verdade, que às vezes se faz referência ao “padrão americano de alimentação”.

Os países do Norte da Europa, dada a escassez de terras cultiváveis, são grandes produtores, consumidores e exportadores de carne, particularmente de suínos e outros pequenos animais e o obtêm através da importação de grãos e farelos.

Finalmente, outros países como a Austrália, a Nova Zelândia, a Argentina e o Uruguai, são grandes produtores, exportadores e consumidores de carnes, feito à custa de pastagens.

Nos países desenvolvidos, o problema da alimentação é cuidadosamente manipulado, com departamentos especializados para levantamentos de oferta e demanda, verificando-se que alguns países estão desenvolvendo programas para maior produção e consumo de carnes.

Precisamos, portanto, estimular e apoiar esses encontros do tipo acontecido na nossa cidade, com presença máxima dos agricultores, além de motivar nossos alunos de cursos técnicos em alimentação e a população para atividades econômicas empreendedoras nas áreas de produtos alimentícios oriundos de atividades agrícolas e pecuária para que possamos usufruir dessa área e equilibrar o consumo com a produção de alimentos.

Assim como, procurar incentivar e participar de ações que beneficiem a criação e o aumento das atividades de nossa feira livre que dá sinais de renascimento, o que vai gerar negócios locais. É preciso massificar a idéia, entre os nossos, que a riqueza de uma população é originária da sua produção, e não de seguros de perda de produção como está se posicionando nossa sociedade.

Agora, imaginem o desafio que é alimentar com três refeições diárias uma China.

* Péricles Tavares, Engenheiro Ambiental, é o Prefeito de Verdejante-PE