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Nova marcha da família quer ‘uma intervenção’, não um governo militar

Diante das arcadas do Largo São Francisco, que abriga a Faculdade de Direito da USP, uma jovem vê a Marcha da Família se aproximando e começa a gritar: “Liberdade! Abaixo a ditadura!”. Algumas pessoas deixam a passeata e tentam agredi-la, mas são contidas por outros manifestantes.

Um senhor mais irritado atira panfletos em direção à moça, nos quais se lê que “o Brasil pede socorro”. Era a reedição, 50 anos depois, da Marcha da Família, reunindo algumas aproximadamente 500 pessoas – a Polícia Militar chegou a falar em até 1.000 – durante quatro horas cortando a região central de São Paulo, da praça da República até a praça da Sé.

O ato teve muitos apelos por uma “intervenção militar, constitucional”, críticas e ofensas à presidenta Dilma Rousseff, ataques ao comunismo que estaria ameaçando o país, imagem de Nossa Senhora à frente da caminhada e até a execução de Eu te Amo, meu Brasil, música de 1970 que se tornou conhecida com a gravação de Os Incríveis e virou símbolo do ufanismo do governo de então. Começou às 14h30 e terminou por volta de 19h, com algumas brigas e quatro prisões.

As faixas e frases iam das previsíveis às mais agressivas: “Comunismo é morte”, “Assaltante de banco não pode representar a família brasileira”, “O Brasil não é vermelho”, “As Forças Armadas estão esperando o clamor popular”, “O governo é cúmplice do terrorismo internacional”, “Dilma e Lula, vão pra Cuba que os pariu”, “Querem expulsar Deus do Brasil”, “A melhor liberdade é quando você se livra do que te faz mal”.

Uma manifestante, com a bandeira brasileira, portava uma placa na qual se apresentava: “Sou reaça contra o que não presta”. Durante todo o percurso, os dois carros de som tocavam repetidamente o Hino Nacional e o Hino da Independência. Um homem toca um clarim, como que chamando a tropa. “Aqui estão as pessoas de bem”, repetiam os oradores.

Em um trecho da caminhada, já na rua Xavier de Toledo, perto do Teatro Municipal, manifestantes teriam confundido jovens que iam para o show do grupo Mettalica, no estádio do Morumbi, com black blocs. O grupo que passava foi hostilizado, mas conseguiu chegar até a estação Anhangabaú do Metrô.

Patriotas

Uma das organizadores da marcha, Cristina Peviani, saúda os presentes que chegam à praça da República, ponto de partida: “Obrigado, patriotas!”. Em seguida, saúda o movimento de março de 1964. “Os militares não deixaram nossa pátria ser cubanizada. Dona Dilma não quer que eles comemorem, mas nós podemos.” Chama os policiais de heróis e avisa: “Entendam os comunas como quiserem. Esta é a primeira marcha. Temos de tirar a rua deles”.

As críticas mais comum são contra a “corrupção generalizada” e o “descaso” das autoridades com os serviços públicos. Também se ouvem ataques à Comissão Nacional da Verdade e ao PT (versão atual do perigo vermelho), elogios aqui e ali ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e lamentos contra a “perda de valores” da sociedade atual. A composição é diversa. Há vários jovens e pessoas de mais idade, como um senhor apresentado como “ex-combatente, de 101 anos”, que diz ser um homem revoltado: “Nunca vi uma desgraça tão grande no nosso país depois que as Forças Armadas deixaram o poder”.

Estão ali também ali católicos, muitas pessoas comuns, curiosos, e também podem ser vistos monarquistas  e skinheads. Com manifestações gerais de que “naquele tempo” a vida era melhor: “Cresci com segurança”, diz, por exemplo, a empresária Ana Prudente, que se cobria, como vários, com uma bandeira brasileira.

Havia um efetivo de 150 policiais militares, segundo o major Genivaldo. Mas a manifestação contou também com esquema próprio de segurança, formado por jovens que se identificavam com fitas no braço. “Nosso grupo é o Brasil. Formamos grupos para nos proteger”, explica Moisés, que dá apenas o primeiro nome e se apresenta como vendedor de software e morador do Butantã, na zona oeste, cabelos curtos, crucifixo no pescoço e voz firme. “O grupo é formado para evitar que a marcha perca seu propósito.”

Ele afirma que a violência não é um recurso, mas torna-se admissível como autodefesa. “É preciso que o povo de bem não confunda amor à paz com covardia. Vamos nos defender como determina a Constituição.” Quando alguém fala em tortura em tempos de ditadura, Moisés diz que ninguém pode apoiar de barbárie, mas defende o movimento de 1964. “O Exército defendeu totalmente o interesse do povo. Foi uma revolução completamente gloriosa.”

Para o jovem, a revolução hoje deve ser feita com ideias. “Não adianta o gigante acordar se a consciência dormir.” Segundo ele, nenhum partido representa o povo brasileiro. E o país passou por uma “desconstrução da educação pela esquerda”.

Fonte: RBA