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Exportação de carne brasileira pode ser afetada pela operação da PF, diz setor

O escândalo de venda de carne “maquiada” e de pagamento de propina a fiscais sanitários deflagrado nesta sexta-feira (17) pode manchar a reputação no exterior de duas das maiores exportadoras do produto no mundo – BRF e JBS – e também prejudicar a recuperação do agronegócio no Brasil, que encolheu 6,6% em 2016, acreditam especialistas do setor ouvidos pelo G1.

As gigantes do setor de alimentos foram citadas na Operação Carne Fraca. As duas empresas são acusadas de subornar funcionários do governo para conseguir melhores avaliações em auditorias sanitárias.

A BRF é ainda acusada de pagar propina para evitar o fechamento de uma unidade em Mineiros (GO), que produz aves para exportação, e que teria exportado carga contaminada, segundo informações na decisão da Justiça Federal. O Ministério da Agricultura fechou a unidade da BRF nesta sexta-feira à tarde.

O receio dos investidores no impacto que a Operação Carne Fraca terá nos negócios nas gigantes de carne brasileira já se refletiu na cotação de suas ações nesta sexta-feira. As ações da BRF e da JBS lideraram as perdas do Ibosvepa e caíram, respectivamente, 7,25% e 10,59%.

Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF tem 47 fábricas no Brasil e exporta para 120 países. A BRF é dona de 14% do mercado de aves mundial. Já a JBS é o maior frigorífico do mundo, dono das marcas Friboi, Seara, Swift, Pilgrim’s Pride e exporta para 150 países.

Risco às exportações

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, vê chances de outros países barrarem a exportação de carne do Brasil. A fábrica da BRF que foi fechada tem cerca de 80% de sua produção exportada.

“Neste momento há navios cheios de carne brasileira a caminho de outros países. Se exames comprovarem alguma irregularidade, eles podem até cancelar os pedidos e proibir o desembarque da mercadoria e a situação pode complicar mais”, diz Castro.

Segundo o presidente da AEB, o Brasil não corre risco de perder a liderança na venda de carne no mundo porque o mercado é dominado por poucos fornecedores. Os outros grandes exportadores de carne no mundo são Estados Unidos e Austrália. “Não existem muitos fornecedores alternativos para substituir o Brasil”, acrescenta.

Contudo, os compradores do produto brasileiro podem fazer pressão por uma redução dos preços da carne brasileira, alegando queda na qualidade, diz Castro. “Eles podem passar a exigir preços menores, como se fosse ‘carne de segunda'”, avalia.

O Brasil conquistou recentemente grandes mercados de carne bovina como a China, terceira maior compradora do produto nacional em 2016, atrás de Hong Kong e União Europeia, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas).

“A carne bovina do Brasil levou muitos anos pra conseguir exportar para países importantes como o Japão e a comunidade europeia. Agora essa conquista pode estar em risco”, diz o sócio-diretor da consultoria Mesa Corporate, Luiz Marcatti.

O escândalo acontece em um momento em que o setor de carne tenta expandir as vendas para países como Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Canadá, México e Japão, que tem um alto nível de exigência de qualidade. No ano passado, o Brasil embarcou 1,4 milhão de toneladas de carne bovina para outros países, mas o faturamento das empresas caiu 7%, em função da queda do dólar.

Fonte: G1