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Dilma sabia de caixa dois, diz Marcelo Odebrecht ao TSE

O empreiteiro Marcelo Odebrecht afirmou em seu depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha conhecimento do uso de dinheiro de caixa dois para pagar o marqueteiro João Santana, responsável por sua campanha à reeleição em 2014. O empresário também disse que não chegou a conversar diretamente com ela sobre esse assunto. Em nota, Dilma negou as acusações e pediu que se investigue como um depoimento sigiloso se tornou público.

Trechos do depoimento que incriminam Dilma e outros petistas — como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros Antonio Palocci, Guido Mantega e Paulo Bernardo — foram divulgados nesta quinta-feira (23/03) pelo site “O Antagonista” e tiveram sua veracidade confirmada pelo GLOBO. Nesses trechos, há apenas uma menção ao presidente Michel Temer, que foi vice de Dilma até ela sofrer o impeachment, no ano passado. Como Dilma não é mais presidente, na prática a ação em curso no TSE pode levar à cassação do mandato de Temer. Mas o empresário negou ter tratado de repasse de dinheiro para campanhas diretamente com o presidente. Segundo Marcelo Odebrecht, a negociação foi com um aliado próximo de Temer, o atual ministro da Casa Civil Eliseu Padilha.

— A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem doa… quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para João Santana. Isso ela sabia — disse Marcelo Odebrecht no depoimento prestado em 1º de março.

O ministro Herman Benjamin, relator da ação no TSE, questionou então se Marcelo Odebrecht alertou Dilma sobre pagamento por caixa dois.

— O que Dilma sabia era que a gente fazia, tinha uma contribuição grande. A dimensão da nossa contribuição era grande, ela sabia disso. E ela sabia que a gente era responsável por muitos pagamentos para João Santana. Ela nunca me disse que ela sabia que era caixa dois, mas é natural, é só fazer uma… Ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do partido — respondeu.

Em outro trecho, Marcelo afirmou que também não tratou diretamente com Dilma sobre valores, mas com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

— Eu comentei isso referente à presidência Dilma, quer dizer, quem pediu os valores específicos era o Guido, eu me assegurava que ela sabia mais ou menos da dimensão do nosso apoio, ela dizia que o Guido ia me procurar, mas eu nunca falei de valor. A liturgia, a questão de educação, você não fala com o presidente ou o vice-presidente a questão do valor — afirmou o empreiteiro.

Em outro trecho, Marcelo disse que Dilma soube do caixa dois pelo “nosso amigo”, ou seja, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No depoimento, o empresário disse ainda achar que todos os pedidos de doação na campanha presidencial de 2010, a primeira vencida por Dilma, foram feitos por Lula e por Palocci.

— Porque 2010 ela (Dilma) praticamente nem olhou as finanças, acho que todos os pedidos de doação foram feitos por Lula, Palocci. Ela nem se envolvia em 2010. Então, a partir de 2011, eu nunca tive um pedido dela de contrapartida específica.

Em 2011, Palocci se tornou ministro da Casa Civil de Dilma, mas ficou no cargo por poucos meses. Com sua saída, diz Marcelo Odebrecht, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, ganhou mais destaque na tarefa de arrecadar recursos.

— O Guido, na prática, ele só começou a solicitar para mim recursos para o PT a partir de 2011, quando o Palocci saiu da Casa Civil. Até então era com o Palocci a maior parte dos pedidos que tinha PT.

— Ela (Dilma) falou: não, daqui para frente é com Guido. E várias vezes eu tratava de temas com ela, e ela dizia: olha, isso é com Guido.

Mas antes mesmo disso, há um episódio relatado por Marcelo Odebrecht envolvendo Mantega. Ele disse que, em troca da medida provisória 470, editada em 2009 e que permitiu refinanciar uma dívida da Braskem, empresa ligada à Odebrecht, a empreiteira se comprometeu a doar R$ 50 milhões. O dinheiro não foi necessário na campanha de 2010.

Fonte: Época Negócios