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Cerveró defende compra de refinaria sem trombrar com Dilma

Em depoimento de mais de cinco horas na Câmara dos Deputados, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró defendeu a compra da refinaria de Pasadena, dividiu responsabilidades pela decisão com a cúpula da empresa, mas, para alívio dos petistas, não comprometeu mais ninguém da estatal ou do governo. Como havia se oferecido para depor, a oposição esperava que o diretor  defenestrado da Petrobras esclarecesse o “parecer falho”, atribuído a ele, que levou a estatal a fazer um “mau negócio”. Em vão: fazendo coro ao discurso do ex-presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, Cerveró opinou que a operação não pode ser considerada “malfadada”. Quanto às cláusulas Marlim e Put Option, que envolviam riscos e acabaram sendo responsáveis pelo prejuízo amargado pela Petrobras, ele alegou que elas não eram importantes “do ponto de vista negocial” – e por isso foram excluídas do resumo executivo analisado pelo Conselho de Administração, à época presidido por Dilma Rousseff. O depoimento agradou aos petistas. “Ele traz argumentos consistentes. Foi tecnicamente correto”, disse Fernando Ferro (PT-PE). “Temos que analisar o negócio com dados da época, e não de hoje. Se fosse hoje, o negócio seria ruim, mas na época era bom”, emendou Amauri Teixeira (PT-BA).

Cerveró procurou se defender sem trombar com declarações de Dilma. A presidente afirmou que o colegiado não tinha conhecimento das cláusulas Marlim e Put Option, ou não teria aprovado o negócio. A cláusula Marlim previa à belga Astra Oil, parceira inicial da Petrobras, um lucro de 6,9% ao ano, independentemente das condições de mercado, e a Put Option obrigava a empresa brasileira a comprar a outra metade da refinaria caso houvesse desentendimento com a parceira da Bélgica. O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, chegou a negar a versão de Dilma, dizendo que o conselho recebera com 15 dias de antecedência a documentação completa sobre a refinaria do Texas, voltando depois atrás, em entrevista ao site de VEJA. Nesta quarta-feira, Cerveró disse que seu advogado se precipitou, mas não chegou a esclarecer o caminho das informações sobre a transação até a mesa do conselho. “Qualquer aquisição é submetida à diretoria toda. No caso de Pasadena, um conjunto de documentos ficou submetido à aprovação da área tributária e da área jurídica. Daí em diante a diretora encaminha aos conselheiros, mas não tenho certeza se passou ao conselho. A diretoria, quando aprova [uma transação], recebe toda a documentação e ela depois é encaminhada ao conselho, mas não sou eu [que encaminho]. É praxe que seja encaminhado”, relatou.

O ex-diretor da Petrobras evitou responder a perguntas mais controversas, como a identidade de seus padrinhos políticos, ou as críticas que a presidente fez a seu “parecer falho”, mas afirmou que “não enganou” nenhum conselheiro da Petrobras com o resumo executivo em que relatou os principais pontos da compra da refinaria de Pasadena. “De forma nenhuma [enganei Dilma]. Apresentei um trabalho desenvolvido ao longo de mais de um ano para essa refinaria. Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém. Não há nenhum sentido de enganar a ninguém. A posição [sobre a compra] não é só minha, é da diretoria e o conselho aprovou esse projeto. Não existem decisões individuais nem na diretoria nem no conselho. Foi tudo baseado em uma série de consultorias e trabalhos técnicos ao longo de mais de um ano”, completou. “Sobre indicação política, acho uma desconsideração. Isso é extremamente ofensivo. Tenho 39 anos de Petrobras. Sou um técnico. Fui indicado pela minha capacitação e competência. Se preferem reduzir a mera indicação política, não posso fazer nada”, reclamou o depoente. Cerveró foi indicado ao cargo de diretor da Área Internacional da Petrobras pelo senador petista Delcídio Amaral (PT-MS) e mantém laços políticos com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).

Fonte: VEJA