Na minha pré-adolescência, em Verdejante, nas noites de Natal, havia um movimento de venda no quadro da feira, sempre após o anoitecer, de um refresco que não sei por que cargas d’água denominaram de AMOROSA.
O danado desse refresco ficou tão popular naquela época, que a frase “Você já tomou a sua amorosa?” era mais comum na noite do Natal do que a frase “Você já votou?” em dia de eleição. No natal, se a resposta fosse “sim”, o perguntador emendava com um “então tá turbinado”.
Não sei o que colocavam nessa bebida porque a noite do natal às vezes se transformava numa criança.
A receita oficial, que vinha devidamente impressa nas embalagens (garrafas de refrigerante), era que sua composição tinha Q-suco, açúcar cristal e água da Sogepa, que naquela época aparecia em todas as torneiras da cidade, diferentemente de hoje e tinha boa qualidade.
O Q-suco, tradicional, de boa procedência, era encontrado nas boas casas do ramo, mas no natal era uma guerra arranjar fornecedores. E sempre aparecia uns engraçadinhos vendendo Q-suco do Paraguai.
Mas no gosto resultante da amorosa esse perigo era imediatamente detectado. Ninguém nos enganava não. Éramos matutos espertos. Havia provadores que passavam antes no local para certificar o produto.
Para quem perdeu esse tempo, a verdadeira amorosa era consumida natural, tomada diretamente na boca da garrafa e o seu reabastecimento era feito ali mesmo, com concha e funil no caldeirão de alumínio atrás das bancas que sempre ficavam localizadas já na praça bem ao lado do banco do picolé.
O sistema altamente complicado de higienização das garrafas era o que menos nos interessava pois o bom mesmo era nos baldarmos com aquele líquido precioso e os vendedores previamente credenciados para a operação eram gente da nossa total confiança.
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Péricles Tavares é de Verdejante-PE, Proprietário da empresa CADNORTE LTDA – consultoria de projetos industriais e ambientais (www.cadnorte.com.br), engenheiro ambiental, técnico em mecânica, técnico em saneamento, programador e analista de sistemas em CAD.
