Jovens que protestaram por mais investimento em saúde e educação esperam que o papa Francisco, com sua forte mensagem a favor dos pobres, apoie suas demandas durante sua visita ao Rio, e não descartam aproveitar o evento para retomar os protestos.
“As manifestações têm um caráter social e protestar por justiça, contra a corrupção e os abusos é uma virtude do Evangelho”, declarou à AFP Tanat Resende (22), estudante de direito e católico, que participou dos históricos protestos que, em junho, reuniram mais de um milhão de jovens em várias cidades do Brasil.
Os manifestantes pediam mais dinheiro para reformar os sistemas de transporte, educação e saúde e penas maiores para políticos e empresários corruptos, em vez de estádios para o Mundial de futebol de 2014.
“É perfeitamente razoável que o Papa apoie estas causas”, acrescentou Resende.
A única manifestação com reivindicações similares às de junho – convocada pelo grupo Anonymous Rio para segunda-feira, 22 de julho, dia da chegada do pontífice, durante sua reunião com a presidente Dilma Rousseff na sede de governo do Rio – causou surpresa e polêmica entre os jovens, já que muitos questionam a relação entre as demandas e a visita do Papa.
A convocação, realizada através da rede social Facebook, convoca um protesto a favor de um estado laico, contra o gasto público gerado com a visita do Papa, contra as autoridades locais e “contra a violência desmedida da polícia nos protestos” de junho.
“Já estão misturando as coisas, sempre apoiei todos os atos e manifestações, mas neste caso não concordo”, comentou em sua conta do Facebook o brasileiro Felipe Costa, em resposta à convocação.
As outras mobilizações convocadas nas redes sociais são por parte de grupos de defesa dos direitos dos homossexuais e uma “marcha das vadias” para protestar contra a violência de gênero e pela legalização do aborto.
Apesar de eventuais protestos, a agenda do Papa não será modificada, afirmou o Vaticano, que não teme que as manifestações perturbem a visita do Papa, já que sabe que “não são dirigidas contra o Papa e a Igreja”, explicou o porta-voz, Federico Lombardi, em uma coletiva de imprensa.
O papa Francisco, que escolheu seu nome pelo santo italiano Francisco de Assis, que consagrou sua vida à defesa dos pobres, insistiu desde sua eleição, em março, na necessidade de que a Igreja, os fiéis e os governos prestem mais atenção nos mais pobres.
Sua mensagem foi acompanhada por gestos de afastamento dos luxos, como, por exemplo, a decisão de não aceitar o quarto de dois ambientes que lhe foi oferecido para dormir no Rio, e optar por um mais simples, como o dos sete cardeais que o acompanham.
“O papa Francisco é um homem muito sensível ao contexto social e eu não me surpreenderia se houvesse algum tipo de referência” aos protestos, expressou à AFP Benjamin Paz Vermal, um dos porta-vozes da JMJ.
O Papa tomou iniciativas contra a corrupção na Santa Sé e planeja uma reforma no banco do Vaticano, um dos mais secretos do mundo.
A postura anticorrupção do Papa “vai nos ajudar a lutar mais contra a corrupção, a pobreza, a miséria”, comentou à AFP Nathalia Pinto (21),que se declara católica e que também participou dos protestos de junho.
“O Papa chega em boa hora ao Brasil, num momento em que a população sai às ruas pedindo justiça, igualdade, saúde, educação”, aspectos sociais que são o lema de seu papado, explicou à AFP Iván Esperanza Rocha, historiador e especialista em religiões da Universidade Estadual Paulista.
“A visita do Papa é muito mais delicada, já que o Brasil é um país muito católico. E as pessoas não consideram que isto seja o mesmo que a Copa do Mundo ou as Olimpíadas”, opinou à AFP Mario Campagnani (29), membro do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, um dos principais movimentos que convocou os protestos de junho.
Cerca de 64,6% da população se declara católica no Brasil, segundo o censo de 2010.
A JMJ – a segunda a ser realizada na América Latina – espera 1,5 milhão de fiéis e custará ao Brasil entre 145 e 160 milhões de dólares, 53 milhões dos quais serão pagos pelos cofres públicos, segundo a imprensa.
Fonte: AFP