As cenas de guerra urbana no Rio de Janeiro este fim de semana podem representar um passo crucial, e positivo, no desenvolvimento da economia brasileira, caso a polícia seja capaz de manter o controle das favelas anteriormente fora do domínio da lei.A operação que retomou o Complexo do Alemão, uma das favelas de pior reputação do Rio de Janeiro, representou mais do que apenas a repressão a quadrilhas de traficantes que atearam fogo a carros e ônibus durante uma onda de violência que deixou ao menos 46 mortos na semana passada – 45 suspeitos e uma jovem de 14 anos, vítima de bala perdida.
As operações conjuntas promovidas pela polícia e pelas Forças Armadas – que terminaram com soldados eufóricos hasteando bandeiras do Brasil e do Rio no topo do morro – foram um sinal de que o país finalmente pode estar reunindo a vontade política e os recursos para reduzir uma das taxas de criminalidade mais altas da região, que há muito tempo têm sido um fardo para a economia emergente do Brasil.
O status quo – facções criminosas controlando enormes porções do território na segunda maior cidade do país, a capital energética e centro financeiro emergente – é incompatível com o sonho do Brasil de se tornar um país de classe média dentro da próxima década. O Rio também está sob pressão para resolver suas questões antes da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, que será realizada na cidade.
Resta saber se a polícia brasileira, que tem histórico negativo no que tange aos direitos humanos e no seguimento de operações de combate com policiamento efetivo, será capaz de consolidar as vitórias e expandi-las para outras cidades problemáticas.
Por enquanto, os sinais são de que desta vez será diferente.
Primeiro de tudo, as forças de segurança prometeram trabalhar em conjunto para manter o território recuperado, em vez de apenas entrar, atirar, fazer prisões e sair, como ocorrido no passado.
Desde que a criminalidade começou a aumentar, nos anos 1980, os políticos brasileiros costumavam tratar o problema como uma doença sociológica de longo prazo, e não algo que poderia ser resolvido pela polícia.
Políticos em postos-chave, porém, agora parecem comprometidos com a aplicação severa da lei, partindo do prefeito do Rio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo a sucessora dele a partir de janeiro, Dilma Rousseff.
Os recursos financeiros para uma presença policial no longo prazo em áreas problemáticas também estão presentes pela primeira vez.
Empresas como Coca-Cola e o banco Bradesco doaram milhões de dólares este ano para ajudar a financiar as operações policiais, sentindo que este é o momento para combater um problema que custa ao Brasil até 100 bilhões de dólares por ano em gastos com segurança, perda de investimentos e de produtividade, de acordo com o Banco Mundial.
Ainda assim, o elemento mais importante que joga em favor do Brasil agora pode ser algo menos tangível: a crença entre muitos brasileiros de que a recente prosperidade do Brasil tornou qualquer coisa possível – até a paz no Rio.
“Hoje podemos ter a certeza de que, quando o Estado de fato quer algo, ele é capaz”, disse o coronel Mário Sérgio Duarte, comandante-geral da Polícia Militar do Rio, depois de concluída a operação no Alemão.
Fonte: Reuters