Forças de segurança da Síria atiraram neste sábado contra manifestantes que acompanhavam os funerais de pessoas mortas nos protestos de sexta-feira, o dia mais violento desde que a onda de manifestações começou no país, há cinco semanas.
De acordo com testemunhas, as forças de segurança atiraram em milhares de pessoas que acompanhavam funerais em várias cidades, como Izraa, Douma e Basra.
Relatos indicam que a repressão aos protestos teriam deixado pelo menos 12 mortos.
Os números não puderam ser confirmados de forma independente por causa das restrições ao trabalho de jornalistas estrangeiros na Síria. Muitos profissionais da imprensa internacional foram expulsos do país pelo governo ou têm permissão para trabalhar apenas em áreas distantes dos conflitos.
Durante os funerais deste sábado, manifestantes gritaram palavras de ordem contra o presidente Bashar al-Assad, que está no poder há 11 anos, desde que herdou o cargo de seu pai. A violenta resposta do governo à onda de protestos ganhou novas proporções na sexta-feira, quando mais de 100 mortes foram registradas, de acordo com a oposição.
A escalada de violência levou dois parlamentares de Deraa – Nasser Haririr e Khalil Rifai – a renunciar, em protesto contra a resposta do governo aos proestos. “Se não posso proteger os peitos do meu povo deste ataques, não há razão para ficar no cargo”, afirmou Hariri, em entrevista à emissora Al-Jazeera.
As manifestações de sexta-feira começaram após as rezas e se espalharam por cidades como Damaszo, Ezra, Deraa, Hikar, Homs e Banias, entre outras. Testemunhas disseram que as forças de segurança atiraram contra os manifestantes, mas a agência estatal de notícias síria disse que foram usados gás lacrimogêneo e canhões d’água nos protestos “para impedir confrontos e proteger a propriedade privada”. De acordo com o governo, “algumas pessoas ficaram feridas”.
Os confrontos aconteceram um dia depois de o governo ter acabado com o estado de emergência que vigorava desde a década de 1960 na Síria. O governo sírio também anunciou a permissão para a realização de protestos pacíficos – desde que autorização fosse solicitada com antecedência. Bashar Al-Assad chegou a afirmar que não “haveria mais desculpas” para os protestos uma vez levantado o estado de emergência. Mas correspondentes dizem que o governo mantém ainda um amplo leque de opções legais para reprimir os oposicionistas.
Na sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acusou a Síria de usar força desproporcional contra manifestantes e de buscar ajuda iraniana para conter os protestos em curso no país.
“Esse uso revoltante de violência para reprimir protestos deve chegar ao fim agora”, disse Obama, em comunicado. “Em vez de ouvir seu próprio povo, o presidente Assad está culpando agentes externos enquanto busca assistência iraniana para reprimir cidadãos sírios através das mesmas táticas brutais que têm sido usadas por seus aliados iranianos.”
A França se disse “extremamente preocupada” e condenou a violência. “A luz deve ser lançada sobre esses crimes, e aqueles responsáveis devem ser identificados, presos e levados à justiça”, disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Christine Fages.
Fonte: Último Segundo