Na noite de quarta-feira (20), o Banco Central decidiu não mexer nos juros básicos da economia, que estão no maior nível dos últimos dez anos. O resultado da reunião era muito esperado no mercado financeiro, por causa de declarações dadas na véspera pelo presidente do Banco Central.
A decisão de não mexer na taxa de juros sacudiu o mercado financeiro. O dólar subiu muito, fechou o dia valendo R$ 4,16, a maior cotação desde a criação do Plano Real.
Na quarta-feira (20), Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, creditando à decisão às elevações das incertezas domésticas, mas principalmente, as incertezas externas. A taxa de juros é uma das armas para controlar a inflação.
Na terça-feira, o Fundo Monetário Internacional apontou a China e o Brasil como os maiores responsáveis pela piora nas projeções de crescimento mundial, nos próximos dois anos. Caiu ainda mais a estimativa do FMI pra economia brasileira.
“Se essa notícia foi surpreendente pro Banco Central, é motivo de preocupação porque esse é o consenso dos economistas, das análises econômicas já algum tempo”, aponta Marcos Lisboa, presidente do Insper.
No mesmo dia, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que essas revisões do FMI para o crescimento do Brasil eram significativas. E que seriam consideradas pelo Copom.
O mercado financeiro costuma olhar pra frente, vive de expectativas. É por meio dessas expectativas que os economistas indicam, por exemplo, por qual o caminho a economia brasileira deve passar. Essa declaração de Tombini na terça-feira fez com que vários economistas mudassem de opinião e revisassem suas projeções.
Até terça, o mercado financeiro esperava uma alta entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na taxa de juros. Depois da declaração, todo mundo começou a esperar uma alta menor ou até a manutenção, que foi o que aconteceu.
O professor de economia Simão Silber disse que a decisão do Banco Central foi correta, mas feita de maneira errada.
“Ele anunciou que ia aumentar e não aumentou e isso mexeu muito com a credibilidade do Banco Central que deu a sensação pra quem estava de fora, no mercado financeiro, pra quem estava lá fora acompanhando o Brasil que houve uma interferência direta no Copom por parte do Planalto, evitando esse aumento da taxa de juros, mas do ponto de vista racional, a meu ver, não tinha argumento técnico nem social pra aumentar juros”, comenta Simão Silber, professor de economia da USP.
Pro setor produtivo, foi bom não ter aumentado, mas um economista da confederação das indústrias está preocupado com a retomada da confiança.
“O ideal é que a política monetária tenha uma previsibilidade e as decisões passem confiança aos agentes econômicos. Precisamos recuperar a credibilidade, a confiança na condução da política monetária por parte do Banco Central”, diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI.
Outro economista foi contra. “Um Banco Central que fique inerte face a isso, estimula, na verdade, a prática de reajuste de preços ainda mais agressivos e, provavelmente, contribui para fazer com que a inflação estoure inclusive o limite de 6,5 esse ano, se não for muito mais alto do que isso”, aponta Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.
Fonte: Jornal Nacional