Uma audiência pública ouviu dezenas de casos de agricultores prejudicados na suposta fraude envolvendo crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) na tarde desta sexta-feira (28) em Santa Cruz do Sul, na Região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Eles relataram como funcionava o esquema que, de acordo com o inquérito da Polícia Federal, desviou cerca de R$ 80 milhões.
Promovido pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, o evento lotou o auditório da Faculdade Dom Alberto, no Centro da cidade, e revelou o drama particular de produtores afetados. “Quase não adianta mais trabalhar assim como está. A minha mulher até chorou em casa porque a gente agora trabalha com dívida”, disse o agricultor Milton Kappel.
Ele detalhou o mesmo testemunho de outros produtores lesados: o interessado fazia o financiamento, mas quando ia começar a pagar descobria que tinha débitos de outros empréstimos. Segundo Kappel, a dívida inicial, que era de R$ 5,3 mil, já dobrou. “Estou devendo aquela dívida de R$ 15 mil no banco que nunca vi a cor do dinheiro até hoje”, desabafou o agricultor Edgar Robirwoll, outro afetado que participou da audiência.
De acordo com o inquérito, pelo menos seis mil agricultores do Vale do Rio Pardo foram prejudicados. Eles faziam o financiamento através do Pronaf, utilizando a Associação Santa-Cruzense dos Agricultores e Camponeses (Aspac), para intermediar a ação em duas agencias do Banco do Brasil na região. Parte dos financiamentos liberados era desviada para contas pessoais de membros da Aspac e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), indicam as apurações. A situação fazia os produtores assumirem as dívidas.
Na próxima segunda-feira (1), pelo menos 10 funcionários vão reforçar a equipe do Banco do Brasil em Santa Cruz do Sul para atender agricultores e analisar os pedidos de revisão dos financiamentos. Pela manhã, alguns vereadores receberam agricultores na Câmara Municipal para uma conversa reservada antes da audiência pública.
Entenda o caso
O esquema começou a ser investigado depois das queixas dos pequenos agricultores. Seis mil teriam sido prejudicados. Documentos do inquérito policial mostram que a fraude seria comandada pelo coordenador do MPA, Wilson Rabuske, que também é vereador de Santa Cruz do Sul pelo PT. No total, o desvio para as contas dele e da mulher chegariam a mais de R$ 1 milhão. Rabuske se defende e nega fraude.
“Foram feitos pagamentos pela minha conta pessoal, quando a associação não tinha disponibilidade, inclusive do uso de talões de cheques para nós honrarmos compromissos, nós usáA transcrição das escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também indica a participação do vereador Maikel Ismael Raenke, do PT de Sinimbu, e do deputado federal Elvino Bohn Gass, do PT. Como o deputado tem foro privilegiado, o inquérito foi enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou o arquivamento da investigação contra Bohn Gass. A decisão é do ministro Teori Zavascki, relator do caso, e atende a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O ministro determinou também que o inquérito retorne para a 7ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre.
Fonte: G1