Chamar a atenção de todos sobre o autismo, uma doença que atinge até 2 milhões de pessoas no País e chega a 70 milhões no mundo. Foi com esse objetivo que a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu o 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
Por causa do desconhecimento do problema, principalmente sobre suas causas, a grande dificuldade apontada por especialistas é lidar com o comportamento do autista, que, diferente do que muitos pensam, não vive isolado em seu mundo. “Essa é uma impressão que temos de fora. O autista vê o mundo de maneira muito confusa, desordenada. Por isso são agitados, têm comportamento gestual bem característico. Apesar da dificuldade, compreendem a realidade”, explicou o psiquiatra Estevão Vadasz, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Ele lembra que existem diversos graus de comprometimento do autista, que varia desde o autismo clássico, com bastante movimentos gestuais e repetitivos, até o menos comprometido, como a síndrome de Asperger, mais comunicativos e articulados.
A repercussão que a data mundial ganhou neste ano, no Brasil, está emocionando quem está acostumado a lidar com a doença. “O autismo é tão sério e complexo que se torna muito pesado para uma família só. É preciso dividir e compartilhar com a sociedade e governo. Depois de 27 anos de atuação, estamos emocionados com o destaque que o assunto está ganhando”, disse Ana Maria Mello, superintendente da AMA (Associação de Amigos do Autista), na Capital, que atende 220 crianças e jovens. Para marcar o dia, diversos monumentos e prédios ganharão a cor azul.
A data foi criada em 2008, e só neste ano chegou ao Brasil. A pedagoga Eliane do Carmo Meira, 45 anos, moradora de Ribeirão Pires, atribui o alcance à mobilização feita em grupos de discussão na internet por centenas de pais e mães de autistas.
Eliane se dedica integralmente aos estudos sobre a doença desde 2006, quando descobriu que o filho, Matheus, 14, é portador da síndrome de Asperger. Mas as dificuldades surgiram desde seu nascimento. “Descobri na saída da maternidade que ele não enxergava. Já maior, foi taxado de deficiente visual malcriado. Até no Conselho Tutelar fui chamada por causa dele”, lembrou Eliane, que criou uma sala de recursos dentro de casa para o filho.
Matheus está na 8ª série, matriculado na rede municipal, e tem aulas domiciliares com três professores. Sua matéria preferida é inglês, e pretende fazer faculdade de Ciências da Computação.
Diagnóstico é tardio por falta de capacitação, diz especialista
Falta capacitação médica para o diagnóstico precoce do autismo. Segundo o psiquiatra Estevão Vadasz, que há 33 anos trabalha com pacientes autistas, cerca de 90% dos casos não são diagnosticados no País.
O médico, que coordena o Programa de Transtorno Espectro Autista do HC (Hospital das Clínicas), explicou que o ideal é que o diagnóstico fosse feito pelo pediatra, nas primeiras consultas do bebê.
Ele disse que em países desenvolvidos há um questionário a ser respondido pelos pais que indica se a criança tem ou não características de autismo.
“No País não há nada parecido. No HC estamos começando projeto de diagnóstico em bebês. Quanto mais cedo se descobre, melhor é a socialização e a capacidade de organização”, contou Vadasz.
Estimativas internacionais apontam que a prevalência da doença é de um autista para cada grupo de 110 a 150 pessoas.
Fonte: Diário do Grande ABC