O risco de haver um racionamento de energia neste ano subiu, embora continue baixo, avalia o governo. Em nota divulgada na quarta-feira, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) disse que a probabilidade de desabastecimento passou de ‘baixíssima’, no mês passado, para ‘baixa’.
Apesar de ter voltado a chover nas últimas semanas, o volume foi insuficiente para recompor adequadamente os reservatórios, que estão com cerca de 35% da sua capacidade, em média, nível similar ao do mesmo período de 2001, ano do apagão.
Segundo especialistas, um sistema elétrico mais estável no Brasil terá de ser, necessariamente, mais ‘sujo’ do que o atual, onde predomina o uso de usinas hidrelétricas. Eles dizem que, para reduzir os riscos de desabastecimento, inevitavelmente o país terá de continuar expandindo o uso de usinas térmicas, que geram energia mais cara e poluente.
A construção e o acionamento das térmicas se acelerou nos últimos anos, numa estratégia para evitar a repetição do racionamento de 2001, que se refletiu em baixo crescimento econômico e queda da popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal, mostram que a capacidade de geração de energia por termoelétricas cresceu 68% entre 2008 e 2013, passando de 22.999 megawatt para 38.529 megawatt. No mesmo período, a capacidade instalada das hidrelétricas teve expansão de 11%, para 86.019 megawatt.
Com isso, a participação das termoelétricas na matriz elétrica brasileira subiu de 22,3% para 30,4% no período, enquanto o peso das hidrelétricas caiu de 75,3% para 68% – ainda alto quando comparado internacionalmente.
Complemento
As térmicas servem como uma fonte complementar às hidrelétricas. Elas são acionadas para garantir o abastecimento quando os reservatórios de água estão baixos.
O problema é que dois fatores estão elevando a demanda por essa energia mais suja e cara: 1) as hidrelétricas construídas nos últimos anos têm reservatórios pequenos ou são a fio d’água (sem reservatório); 2) a estiagem prolongada e o calor recorde diminuem a disponibilidade de água nas hidrelétricas ao mesmo tempo que elevam a demanda por energia, por exemplo, com uso de ar-condicionado.
Um estudo da Firjan, federação que representa a indústria do Rio de Janeiro, mostra que houve uma redução gradual da capacidade das hidrelétricas em manter o abastecimento mesmo em período de chuvas.
Em 2001, as hidrelétricas, caso estivessem com os reservatórios completamente cheios, seriam capazes de atender a demanda por energia no Brasil por 6,27 meses, mesmo sem chuvas e sem o uso de outras fontes. Já em 2012, a capacidade de regularização do sistema havia caído para 4,91 meses. Considerando o crescimento esperado para o consumo de energia e que a ampliação do parque hidrelétrico será quase todo com usinas a fio d’agua, a Firjan projeta que, em 2021, essa capacidade recuará ainda mais, para 3,35 meses.
Vale ressaltar, porém, que os reservatórios nunca estão completamente cheios. Dessa forma, a capacidade de regularização de fato existente passou de 3,99 meses, em 2001, para 3,13 meses, em 2012, e deve chegar a 2,14 meses em 2021, caso se mantenha a média dos últimos anos do nível dos reservatórios (63,8%).
Fonte: BBC Brasil