A mídia tradicional no Brasil – leia-se grandes jornais impressos em circulação, os grupos com suas rádios e suas emissoras de TV – por motivos óbvios e financeiros tratam com hipocrisia, ainda, a nova roupagem da informação cotidiana, embalada pela tecnologia que nos ronda a cada dia mais. Fecha os olhos para o inevitável: veículos de informação podem sair do mercado, ou transmutar, mas o jornalismo nunca morre. E é esse conceito que sustenta a forte ascensão da nova mídia.
Os gastos com papel e logística (impressão, distribuição, pessoal etc) estão insustentáveis para os jornais no mundo. Idem, no Brasil. Mas por aqui a resistência dos grandes jornais é tão banal que explico a classificação de hipócrita acima. Ao passo que tratam com desdém o avanço das novas mídias on-line e sustentam suas fortalezas (de papel), mantêm os custos da distribuição tradicional da informação – na maioria dos casos com verbas oficiais de governos estaduais e o federal – entregam-se nas próprias páginas ao convidar, em anúncios institucionais, o leitor a assinar a versão digital dos jornais e revistas.
A banda larga está chegando ao Brasil – atrasada, vale destacar; o país já vende 15 milhões de computadores pessoais por ano (números de um deputado da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal) e os brasileiros estão cada vez mais on-line, não apenas fãs das redes sociais, mas atrás de notícias diariamente, gratuitas ou não. O fato é que o dono da banca de jornais já percebe que o número de compradores e visitantes curiosos atrás das manchetes vem sumindo.
Isso comprova-se com números, principalmente nos Estados Unidos. O sucesso do portal de notícias Huffington Post, com o jornalismo colaborativo; o lançamento, semana passada, do The Daily Digital, apenas para Ipads, dos poderosos Rupert Murdoch e Steve Jobs; a migração mensal de grandes e médios diários impressos, em todo o mundo, para o formato digital (mês passado O Estado do Paraná anunciou sua mutação, seguindo o Jornal do Brasil, o pioneiro no país); o The New York Times, cujo CEO anunciou para alguns anos o fim da versão no papel, já tem mais leitores na versão digital que no próprio impresso, revelou a empresa no início de janeiro; e o Brasil vai ganhar este ano mais um jornal exclusivo para Ipads, Kindle e similares. Isso para citar apenas alguns casos, e recentes.
A mídia brasileira e seus leitores vão se adaptando à nova era, a passos lentos, ao contrário dos americanos, que tornar-se-ão a vanguarda deste novo conceito de jornalismo. Um obstáculo para o setor ainda vem justamente de um dos pilares do segmento: o financiador. No Brasil, principalmente, há resistência tanto dos anunciantes quanto das agências de publicidade, que se abriram pouco ainda a esta tendência, esnobando o poder multiplicador de leitura da rede on-line. Infelizmente. Mas só por aqui. O NYT, por exemplo, anunciou que, pela primeira vez em sua história, a publicidade on-line superou em valor a do impresso no ano de 2010.
Não há mistério em tudo isso, nem há teoria. É uma tendência. A História da humanidade já provou que muitos pioneiros em suas áreas acertaram, outros tantos erraram. Mas, para Jobs e Murdoch, dois experientes craques em suas áreas, se unirem nesse projeto, não há dúvidas de que este caminho é sem volta para a imprensa.
Por Leandro Mazzini