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Professor de Direito abandona a docência após Toffoli atropelar Marco Aurélio

O Blog Alvinho Patriota reproduz texto postado no Facebook por Afrânio Silva Jardim, docente associado de Direito Processual Penal da UERJ:

A MINHA DECEPÇÃO E DESGOSTO É MUITO GRANDE. COMO LECIONAR DIREITO COM UM SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ESTE ??? ESTOU ME RETIRANDO DESTE “MUNDO” FALSO E HIPÓCRITA.

APÓS QUASE 39 ANOS LECIONANDO DIREITO PROCESSUAL PENAL E 31 ANOS ATUANDO NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO E.R.J., DIANTE DA NOTÓRIA PERSEGUIÇÃO DO NOSSO SISTEMA DE JUSTIÇA CONTRA O EX-PRESIDENTE LULA, CONFESSO E DECIDO:

1) Não mais acredito no Direito como forma de regulação justa das relações sociais.

2) Não mais acredito em nosso Poder Judiciário e em nosso Ministério Público, instituições corporativas e dominadas por membros conservadores e reacionários.

3) Não vejo mais sentido em continuar ensinando Direito, quando os nossos tribunais fazem o que querem, decidem como gostariam que a regra jurídica dissesse e não como ela efetivamente diz.

4) Não consigo conviver em um ambiente tão falso e hipócrita. Odeio o ambiente que reina no forum e nos tribunais. Muitos são homens excessivamente vaidosos e que não se interessam pelo sofrimento alheio. O “carreirismo” talvez seja a regra. Não é difícil encontrar, neste meio judicial, muito individualismo e mediocridades.

5) Desta forma, devo me retirar do “mundo jurídico”, motivo pelo qual tomei a decisão de requerer a minha aposentadoria como professor associado da Uerj. Tal aposentadoria deve se consumar em meados do ano que se avizinha, pois temos de ultrapassar a necessária burocracia.

6) Vou procurar outra “trincheira” para uma luta mais eficaz em prol de um outro modelo de sociedade. A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para mim.

7) Confesso que esta minha decisão decorre muito do que se tornou o Supremo Tribunal Federal e o “meu” Ministério Público, todos contaminados pelo equivocado e ingênuo punitivismo, incentivado por uma mídia empresarial, despreparada e vingativa.

Com tristeza, tenho de reconhecer que nada mais me encanta nesta área.

8) Acho que está faltando honradez, altivez, cultura, coragem e honestidade intelectual em nosso sistema de justiça criminal.

9) Cada vez menos acredito no ser humano e não desejo conviver com certas “molecagens” que estão ocorrendo em nosso cenário político e jurídico.

10) Pretendo passar o resto de meus dias, curtir a minha velhice em um local mais sadio…

Afranio Silva Jardim, professor associado de Direito Processual Penal da Uerj. Mestre e Livre-Docente em Direito Processual Penal pela Uerj. Procurador de Justiça (aposentado) do Ministério Público do E.R.J.

Comentário de Alvinho Patriota:

Esse artigo retrata a realidade de um judiciário midiático e uma mídia despreocupada e descomprometida com a verdade. Hoje qualquer pessoa e geralmente são pessoas – com exceções – sensacionalistas, se arvoram no direito de fazer parte do quarto poder – a imprensa, sem qualquer preparo, maculando a vida digna de muitos que ralaram para manter essa condição.

3 comentários sobre “Professor de Direito abandona a docência após Toffoli atropelar Marco Aurélio

  1. Machado Freire

    Estamos em uma tremenda encruzilhada.

    Quando eu comecei a fazer jornalismo (ainda nos tempos duros da ditadura) quando existir um censor na redação, ou havia auto-censura, era muito difícil um repórter “arrancar” um pronunciamento de um magistrado.

    Quando a gente propunha fazer uma pergunta, vinha logo a cara feia e a expressão (mesmo que bater com a porta na cara) : juiz só fala nos autos.

    Pronto, não adiantava insistir, caso contrário, o profissional de imprensa era logo “convidado” a retirar-se do recinto.

    Hoje é moleza, temos uma liberalidade danada, todo mundo gosta de falar, de se aparecer nos holofotes.

    Respeito a indignaçao do professor, mas confesso que eu no caso dele não tomaria uma posição tão radical.

    Ora, nós esperamos longos vinte anos (e não foi esperando deitado, não) para que as coisas mudassem e estamos aqui contando a história dos nossos dias.

    Imagine a situação vivida pelo nosso querido Miguel Arraes, ele que foi retirado do Palácio das Princesas, para onde foi nos braços do povo, e teve que amargar um exílio demorado na Argélia.

    Ele me dizia: “o danado é que eu não estava só, pois tinha minha mulher e um bocado de menino para criar”….

    E aqui ficamos nós amargando um sistema que não permitia que nós tivesse a liberdade que conquistamos desde a nossa concepção no ventre das nossa mãe

    Aqui, acolá, aparece um desavisado e diz “ah, você não morreu e ainda reclama”.

    Graças a Deus, ficamos para contar a história, mas muitos desapareceram outros morreram e seus famíliares tiveram que enfrentar todo esse sofrimento.

    Caro professor, receba nossa solidariedade.