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Os dias atuais em Sertânia

Pela segunda vez consecutiva, após 27 anos de refúgio pessoal e profissional, consegui passar a festa da padroeira entre meus familiares e amigos, na querida cidade de Sertânia. Nossa! Quanta diferença a cada ano! Recordar o que tínhamos e comparar com agora, é covardia. Seria admitir um crescer como rabo de cavalo: pra baixo. Lembro que ano passado, ao chegar na companhia de três pessoas que convidei para conhecer minha terra natal, alegando de forma equivocada que viríamos na entrada da cidade uma imensa festa, recordando daquelas memoráveis nos anos 70 e 80, com novenas sempre muito frequentadas por quem gostava, os parques Lima e Trianon, o juju de ‘Zé de Carocha’, o pão com caldo de Dunda, o refresco rosado nas garrafinhas, o bingo de Zé e do famoso abacaxi ao final da festa. Riram de minha cara por uns longos minutos. Eu mereci! Fiz papel de palhaço e foi bem feito!

Achando pouca a saia justa em que entrara, ouvindo um som agradável vindo de algum lugar, convidei-os para me acompanhar à praça de eventos. Não tinha água nem para lavar o rosto na torneira, obrigando-os a tomar banho de cuia, uma coisa bem primitiva para os tempos atuais, mas que somos obrigados a ter no quotidiano em Sertânia. Lamentável, vergonhoso, deplorável, constrangedor e revoltante! Não encontro outras palavras. Não sei como era a questão da água antes de meu nascimento nessa Alagoa de Baixo antiga. Tenho 44 anos de idade. Nasci aqui, carreguei muita água no ‘quengo’, em galão e até em carrinho de carneiros, quando moleque. Desde aquela época eu já tinha uma bronca com a falta de compromisso dos mandatários e, atualmente, em relação à minguada água que teríamos disponível na torneira – que, aberta, cai uma conta, mas o líquido, que é bom, nada – sempre vi uma incompetência ímpar nos governantes e administradores da COMPESA. Não sei quem é o atual e nem quais foram no passado.

O bom é que isso vale para todas as legislaturas e partidos, visto que ninguém deu jeito até hoje, fosse situação em algumas ocasiões, ou oposição em outras. Muitas vezes me pergunto: isso ainda não foi visto pelos 2 deputados do lugar? Não dói em suas consciências? Não dá vergonha? A prefeita, quando da posse até hoje, fez algum requerimento pedindo providências a alguém? Os vereadores sofrem também? Todos gostam de tomar banho, como os demais cidadãos? O dinheiro das contas mensais é igual, ou seja, teria o mesmo valor para todos, logo: direitos e deveres iguais? Há ressarcimentos pelos dias no mês sem água? Alguém questionou isso algum tempo na Justiça? Falta água nas torneiras das casas dos que detêm o poder em qualquer esfera, dos familiares e amigos mais íntimos? Não se acovardariam em assinar uma promissória de incompetência para esta aberração? É muito difícil e complicado elaborar um projeto para uma adutora que atenda à demanda, uma reforma na tubulação, a reativação de algumas caixas de distribuição, exigindo respeito ao povo, com apreciação imediata, aprovação e medidas urgentes para pôr termo a essa mazela? Sinceramente, numa apresentação da peça teatral abordando o Homem de Nazaré, se Pilatos em Sertânia dissesse ‘lavo minhas mãos’ algum engraçadinho poderia perguntar: ‘com qual água?’ Enfim, perguntas e afirmações que carecem respostas. Espero tê-las ainda com minha estada na cidade.

Este meu desabafo não tem qualquer vinculação política, religiosa, simpatia por grupo A ou B, intenção de ofender quem quer que seja e muito menos atendendo apelo de alguém, a não ser a minha consciência de cidadão sertaniense e, se alguém quiser debater, trocar idéia, buscar uma solução algum dia, concordar ou replicar o que digo, me acione por meu telefone TIM (0XX69 – 8132-9963), antes de condenar ou tomar qualquer atitude repressiva em face de outrem que não eu, como autêntico responsável pelas explanações supra, respeitado o direito à livre manifestação, nos termos dos incisos IV e V, do artigo 5, da Constituição da República.

Este ano, em relação à festa, vim sozinho. Fui à novena, rezei, cantei, cumprimentei os conhecidos, dei o abraço da paz e exercitei meu lado religioso em sua plenitude. Muito boa a celebração, a banda ao final e as comidas vendidas na calçada da Igreja. Comentei saudoso dobre o parque. Paciência! Fui também à comemoração alusiva ao aniversário da Rádio FM, como – acredito – quase a metade do povo sertaniense. Muito boa numas coisas, entre as quais a possibilidade de reencontro com pessoas queridas como Zé Vitorino, o autêntico representante do poeta Zé Limeira em Sertânia. Isto é sempre uma honra para mim: reencontrar pessoas que muito colaboraram para o que sou hoje. Mas, como nada é perfeito, mais uma crítica que emito, sempre com a intenção de que podemos fazer melhor no próximo evento, para que os organizadores prestem atenção a certas coisas:

 1. Existe regulamentação quanto ao uso de banheiros, guardadas as devidas proporções, para grupos de trabalhadores, o que poderia, por analogia, ser aplicado à clientela que compareceu ao evento. Ou seja, a NR (Norma Regulamentadora) n. 24 do Ministério do Trabalho e Emprego prevê que, para cada 20 obreiros, haja um gabinete sanitário: também denominado de latrina, retrete, patente, cafoto, sentina, privada, WC, o local destinado a fins higiênicos e dejeções, inclusive com banheiro: o conjunto de peças ou equipamentos que compõem determinada unidade e destinado ao asseio corporal (as mãos, ao menos, antes de cumprimentar estas mesmas pessoas acima). Nestes termos, colocar 3 banheiros químicos na Praça de Eventos, soou, a meu ver, como uma provocação à inteligência das pessoas que se sensibilizavam com as mulheres que faziam filas para uso destes; 2. Segundo a CF no seu artigo 5º, todos são iguais perante a lei em direitos e obrigações (inciso I) e, sendo assim, cadê outros banheiros químicos destinados aos homens?; 3. Tutinha (responsável pela Rinha) merece um pedido de desculpas de vocês, quiçá um ressarcimento em cimento, areia e ÁGUA, bastante, para lavagem da calçada e paredes da Rinha e adjacências, que serviam de mictório para os homens da cidade que foram à festa; 4. As bandas, razoáveis, na minha singela opinião, mas não prestigiar nenhum artista local? Brincadeira de mau gosto; 5. Nem precisava 3 bandas, alugassem mais banheiros químicos, remanejando recursos de uma destas e colocando o número suficiente para evitar os aviltamentos vivenciados: mulheres correndo para se livrar das filas e para não ser expostas às vistas do contingente masculino, com homens fazendo uso da parede da Rinha e molhando os pés de outros, quando descartando seus excrementos, possibilitando uma eventual briga por este motivo; 6. Mijar na rua é a regra, exceção seria usar banheiro químico?; 7. O artigo de luxo mais caro da noite, água e, lavar as mãos, privilégios daqueles que retiravam as cervejas (mornas) dos freezers e 8. Mais dignidade às pessoas (respeitar e ser respeitado), para que não fique aquela impressão de que, ao público masculino, resta a célebre frase vulgarmente propalada e, com todo respeito a todos, merecida para a ocasião de outrora: ‘vá c… no mato, cachorro’! Podemos melhorar, muito!!! Vamos tentar?

Por José Cordeiro