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Félix, de ‘Amor à Vida’, e a vitória do vilão

Ele roubou, traiu, mentiu, sequestrou e quase matou diversas vezes – a primeira delas, ao abandonar a própria sobrinha, que havia acabado de nascer, em uma caçamba de lixo. Sem falar nas incontáveis vezes em que blasfemou com tiradas como: “Devo ter feito pole dance na santa cruz para merecer isso”. Apesar de tudo, Félix, personagem de Mateus Solano em Amor à Vida, caiu no gosto popular e tem tudo para receber um final feliz na trama, que termina esta semana com a audiência média em torno dos 35 pontos no Ibope da Grande São Paulo, pelo menos um acima da antecessora, Salve Jorge – e isso graças a ele. É a vitória do vilão, em uma época marcada por malvados: de séries comoBreaking Bad e Bates Motel a releituras de contos de fada pela ótica dos antagonistas, no cinema, a vilania está em primeiro plano.

Para Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo) e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova York, além do talento de Solano, reconhecidamente o grande nome dessa produção, é Freud quem explica o sucesso de Félix. “Há uma razão de teor psicanalítico para o fascínio que o personagem exerce sobre a plateia. A sombra que todos nós possuímos estaria iluminada ou seria de certa forma resolvida pela identificação com a vilania. Não deixa de ser uma catarse.”

Essa identificação com a maldade também é apontada por Clarice Greco, outra doutora formada pela USP e autora do e-book Qualidade na TV: Telenovela, Crítica e Público (Atlas), que acrescenta um motivo quase literário para a “boa fase” dos vilões. Como personagens, diz, eles estão mais complexos e interessantes. “Houve um tempo em que a representação na novela era caricata: o mocinho todo bom, e o vilão completamente ruim. Hoje, os personagens exibem contornos sutis, com traços bons e ruins, próximos do ser humano real. Isso faz o público se identificar mais com os ícones da vilania, que em casos como o de Félix têm bom humor, sarcasmo e ousadia e deixam para trás os mocinhos mornos e sem sal.”

O bom humor é, de fato, um diferencial de Félix, que dispara ao menos uma pérola a cada capítulo. O próprio “pai” do personagem e autor das tiradas, o dramaturgo Walcyr Carrasco, acredita que a característica tenha impulsionado o “hit” Félix. “O personagem tem humor, ironia e uma grande atuação do Mateus Solano”, diz Carrasco, que já manifestou orgulho por ter criado aquela que vem se consagrando como a maior “bicha má” da teledramaturgia nacional. “Bicha má”, vale lembrar, foi uma alcunha colada a Félix já no início da novela, por uma plateia que, órfã da terrível Carminha de Avenida Brasil, sentia por ele uma espécie de paixão ao primeiro capítulo.

Fonte: VEJA