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Jornalista saudita foi torturado, sedado e esquartejado, indica áudio

O jornalista saudita Jamal Khashoggi morreu minutos depois de entrar no consulado do seu país em Istambul, onde foi buscar papéis para se casar com a sua noiva turca em 2 de outubro, segundo diferentes fontes que tiveram acesso a uma suposta gravação do homicídio obtida pela polícia da Turquia. Relatos da imprensa turca informam que há registros em áudio que provam que o jornalista dissidente foi torturado e sedado no consulado, antes de ser morto e esquartejado.

O “Wall Street Journal”, a partir de informações de um funcionário turco que ouviu a gravação, disse que Khashoggi supostamente foi morto e teve o corpo seccionado no escritório do cônsul geral saudita em Istambul, Mohammad al-Otaibi.

Há relatos conflitantes sobre se o diplomata presenciou ou não o homicídio. Segundo o “Wall Street Journal”, a gravação registrou uma voz que pergunta se al-Otaibi quer deixar o cômodo, mas ele, que é o representante de mais alto nível de Riad em Istambul, teria ficado para presenciar a execução.

Segundo uma fonte ouvida pelo site “Middle East Eye”, especializado na cobertura do Oriente Médio, Khashoggi apenas foi capturado na presença do diplomata, que teria saído da sala no momento do assassinato. “O próprio cônsul deixou a sala. Não houve tentativa de interrogatório. Eles estavam lá para matá-lo”, disse o site.

O homicídio teria durado sete minutos. Ao perceber que seria morto, Khashoggi teria gritado em desespero, alto a ponto de ser ouvido por testemunhas no andar inferior. Durante o breve interrogatório, seus dedos foram decepados, disse um funcionário turco ouvido pelo “NYT”. Os urros só teriam parado após uma substância desconhecida ser injetada no jornalista.

O portal “Middle East Eye” informa que o corpo do jornalista teria começado a ser cortado enquanto ele ainda estava vivo. Um dos assassinos do grupo de 15 sauditas enviados a Istambul presumidamente com a missão de eliminar Khashoggi seria o doutor Salah al-Tubaigy, um especialista em autópsias.

A fonte turca afirmou que, enquanto conduzia o desmembramento, al-Tubaigy teria posto fones de ouvido e escutado música. O médico teria recomendado a seus cúmplices fazer o mesmo.

— Quando eu faço este trabalho, eu escuto música. Vocês também deveriam — al-Tubaigy teria sido gravado dizendo.

NYT identifica supostos executores

O médico forense Al-Tubaigy é um dos nove suspeitos já reconhecidos, dentre os 15 do grupo, por uma investigação independente realizada pelo jornal “New York Times”. Em uma reportagem produzida por 12 repórteres, em Istambul, Beirute, Nova York, Paris e Washington, o jornal americano mostrou que os suspeitos de serem executores de Khashoggi relacionam-se diretamente ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS), o que afasta a possibilidade de ser um grupo descontrolado, agindo por conta própria, como foi cogitado pelo presidente americano Donald Trump.

Um dos suspeitos identificados pela Turquia é uma companhia frequente de MBS e já foi visto em desembarques ao lado dele em Paris e Madri, além de ter sido fotografado fazendo sua segurança em visitas neste ano a Houston, Boston e às Nações Unidas. De acordo com testemunhas e outros documentos, outros três homens do grupo que foi a Istambul também fazem parte da equipe de segurança do príncipe.

Todos os identificados pelo “New York Times” trabalham para os serviços de segurança, as Forças Armadas ou outros organismos governamentais sauditas. Um deles, Maher Abdulaziz Mutreb, fazia parte do corpo diplomático saudita em Londres em 2007, de acordo com uma fonte diplomática britânica. Ele viajou diversas vezes com o príncipe, possivelmente como segurança.

Essas evidências enfraquecem qualquer sugestão de que Khashoggi morreu em uma operação não autorizada pelo príncipe herdeiro saudita. Elas também podem tornar mais difícil para a Casa Branca e o Congresso americano aceitar tal explicação. A Arábia Saudita é, ao lado de Israel, o principal aliado americano no Oriente Médio.

Inicialmente, o príncipe herdeiro e seu pai, o rei Salman, negaram qualquer conhecimento do paradeiro de Khashoggi, afirmando que ele deixara o consulado por conta própria. Em seguida, o próprio “New York Times” e a “CNN” disseram que o reino preparava-se para alegar que a morte ocorrera de modo acidental, como resultado de um interrogatório que deu um errado.

O jornal americano reuniu informações sobre os suspeitos usando softwares de reconhecimento facial, bancos de dados públicos, perfis de mídia social, listas telefônicas sauditas, notícias de meios de comunicação do país árabe, documentos do governo saudita vazados e, em alguns casos, relatos de testemunhas na Arábia Saudita e em países que o príncipe visitou.

Fonte: O Globo