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Deterioração política e desemprego podem fazer grandes protestos voltarem

Ninguém nega uma crise de representatividade política como um fenômeno mundial. A dúvida quanto à legitimidade dos partidos, enquanto agentes de representação de interesses, traz à tona a falta de correspondência das demandas da sociedade. A crise econômica e crescente descrédito dos cidadãos para com suas instituições representativas inflamaram os ânimos do brasileiro, que se vê vítima de um processo de deterioração do serviço público, e ainda é obrigado a pagar a conta. O resultado desta fórmula explosiva, segundo especialistas, pode ser a volta às ruas dos grandes protestos, como aconteceu em 2013. Mas com o agravante de que, agora, o desemprego e os escândalos políticos incendeiam ainda mais a população.

Essa crise, que não é apenas econômica, pode ser demonstrada pelo aumento no número de eleitores que se abstiveram nas eleições municipais de 2014 e a emergência de formas alternativas de ativismo político, puxado, muitas vezes, pela violência.

Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a taxa de abstenção é crescente desde 2008, quando 14,6% dos eleitores não compareçam à votação. No pleito deste ano, o índice chegou a 17,6%. Este cenário de descrédito questiona o sistema democrático e deixa dúvidas sobre o futuro da política nacional. 

“A sociedade quando entra num colapso de representatividade, como acontece em várias democracias do mundo; a espiral do silêncio, dos que pensam e não falam, vem à toa em momentos exacerbados. No fim das contas, a baixa participação nas urnas também não é uma surpresa, e é até aceitável num momento de crise de representatividade”, disse o professor doutor em comunicação política, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Roberto Gondo Macedo.

Com o aumento crescente da insatisfação popular com a classe política, o lema “Sem partido” que se propagou pelo país nas manifestações de junho de 2013, resultou numa guinada conservadora, com a proliferação de discursos cada vez mais radicais. Neste sentido, o atual clima de despolitização se torna altamente nocivo e preocupante. 

“Acredito que 2017 pode ser um retorno de 2013, com o agravante das prisões, que ao mesmo tempo tranquiliza grupos e estimulam outros. Essa insatisfação dá brecha para discursos de mudanças radicais. No Brasil o exemplo é o caso do [deputado federal Jair] Bolsonaro. Mas não acredito numa vitória do radicalismo no Brasil. Você tem outros nomes em território nacional que não são tão ruins, trazendo uma ideia de renovação. A última fase de descrédito é de não acreditar nem na justiça, e esse ainda não é o caso do nosso país”, completou Roberto. 

Cristiano Noronha é cientista político, mora no Distrito Federal, em Brasília, e traça o mesmo paralelo com 2013, com o agravante, que segundo ele, o que a população insatisfeita tinha naquela época, ela não tem mais. 

“Naquela época, a gente tinha uma situação de baixo índice de desemprego, com acesso a produtos e serviços que antes eles não tinham, mas mesmo assim estavam insatisfeitos com a qualidade do que estava sendo ofertado. Hoje, esse cenário de economia forte não existe mais. As pessoas perderam aquilo que tinham, e passaram a viver uma situação bastante difícil”, disse.

Fonte: Jornal do Brasil