O embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, disse ontem que a valorização do real nos últimos anos dizimou completamente a proteção oferecida pelas tarifas de importação no Brasil quando foram feitas barganhas para tentar concluir a Rodada Doha, e o país não fará abertura adicional de seu mercado. Ele advertiu que a situação mudou, exemplificando com a reversão de quase US$ 50 bilhões na balança de comércio de produtos industriais em apenas quatro anos, com o país passando de superávit de US$ 14,5 bilhões em 2006 para déficit de US$ 35,3 bilhões este ano nesse segmento.Os números indicam que a valorização do real desde 2008, sobretudo, jogou por terra a eficácia das tarifas de importação no Brasil para proteger a indústria doméstica. A enxurrada de produtos estrangeiros tornou o país o campeão global da alta de importações este ano. Em termos efetivos, o câmbio já abriu o mercado brasileiro num nível provavelmente maior do que seria possível pela negociação global de liberalização na OMC.
No entanto, a pressão aumentou para que Brasil, China e Índia se comprometam com uma abertura similar a dos países ricos nas áreas de produtos industriais e de serviços, na nova tentativa de concluir a Rodada Doha. Para os americanos, o “mundo mudou” e os emergentes têm de pagar mais pelo novo protagonismo na cena global. Azevedo, porém, foi enfático em discurso diante dos 152 membros da OMC, considerando que a demanda por “mais desarmamento unilateral em tarifas é irrealista, ilógica e irrazoável”.
Ele observou que a acumulação de superávits comerciais no passado foi um pilar forte e central da estabilidade econômica do país, mas que agora “vivemos em tempos e circunstâncias diferentes”.
Azevedo mostrou que em 2006 o saldo comercial do país alcançou US$ 46,5 bilhões, mas desde então “nossa moeda tem se apreciado constantemente pela combinação de políticas cambial, monetária e fiscal adotadas em outros países”. A consequência direta, disse, foi a redução do saldo comercial para US$ 14,5 bilhões até novembro.
Ao detalhar resultados do comércio exterior, Azevedo apontou a reversão de US$ 50 bilhões na balança de produtos industriais. De outro lado, as exportações agrícolas cresceram de US$ 32 bilhões para US$ 50 bilhões no mesmo período, graças a preços recordes das commodities desde 2006.
Os Estados Unidos (país que mais exige abertura do Brasil) é quem já está ganhando mais com o mercado brasileiro escancarado pelo câmbio. A balança bilateral de produtos não agrícolas sofreu uma reviravolta: de saldo positivo de US$ 7 bilhões, o Brasil registra déficit de US$ 9 bilhões nos primeiros dez meses de 2010 apenas. “É notável que agora o Brasil seja um dos maiores contribuidores da redução do déficit dos EUA. Estamos perplexos quando contribuições adicionais são exigidas de nós”, disse Azevedo.
“Esse desempenho mais pobre decorre, e não em pequena parte, de políticas econômicas de fora, que têm um impacto direto sobre a taxa de câmbio do real”, acusou. “As condições nas quais abordamos o jogo final da Rodada Doha são significativamente diferentes”, acrescentou. Azevedo reiterou que a questão de moedas e comércio dizem respeito a empregos, estabilidade e sustentabilidade do desenvolvimento social. E avisou que considerar os emergentes como motores do crescimento da economia mundial significa “colocar o carro na frente dos bois”.
Azevedo disse que alguns países em desenvolvimento emergiram da crise melhor do que economias desenvolvidas, porque “adotaram políticas conservadoras e regulações que sacrificaram um crescimento econômico mais rápido durante os anos anteriores”.
O embaixador americano, Michael Punke, não estava presente na reunião da OMC, mas em entrevista à “newsletter” BNA, de Washington, afirmou que os EUA estão “frustrados no momento” com o Brasil na discussão de Doha. E espera que o novo governo, de Dilma Rousseff, dê “sinal positivo de engajamento em Doha”, ou seja, que faça mais concessões.O embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, disse ontem que a valorização do real nos últimos anos dizimou completamente a proteção oferecida pelas tarifas de importação no Brasil quando foram feitas barganhas para tentar concluir a Rodada Doha, e o país não fará abertura adicional de seu mercado. Ele advertiu que a situação mudou, exemplificando com a reversão de quase US$ 50 bilhões na balança de comércio de produtos industriais em apenas quatro anos, com o país passando de superávit de US$ 14,5 bilhões em 2006 para déficit de US$ 35,3 bilhões este ano nesse segmento.
Os números indicam que a valorização do real desde 2008, sobretudo, jogou por terra a eficácia das tarifas de importação no Brasil para proteger a indústria doméstica. A enxurrada de produtos estrangeiros tornou o país o campeão global da alta de importações este ano. Em termos efetivos, o câmbio já abriu o mercado brasileiro num nível provavelmente maior do que seria possível pela negociação global de liberalização na OMC.
No entanto, a pressão aumentou para que Brasil, China e Índia se comprometam com uma abertura similar a dos países ricos nas áreas de produtos industriais e de serviços, na nova tentativa de concluir a Rodada Doha. Para os americanos, o “mundo mudou” e os emergentes têm de pagar mais pelo novo protagonismo na cena global. Azevedo, porém, foi enfático em discurso diante dos 152 membros da OMC, considerando que a demanda por “mais desarmamento unilateral em tarifas é irrealista, ilógica e irrazoável”.
Ele observou que a acumulação de superávits comerciais no passado foi um pilar forte e central da estabilidade econômica do país, mas que agora “vivemos em tempos e circunstâncias diferentes”.
Azevedo mostrou que em 2006 o saldo comercial do país alcançou US$ 46,5 bilhões, mas desde então “nossa moeda tem se apreciado constantemente pela combinação de políticas cambial, monetária e fiscal adotadas em outros países”. A consequência direta, disse, foi a redução do saldo comercial para US$ 14,5 bilhões até novembro.
Ao detalhar resultados do comércio exterior, Azevedo apontou a reversão de US$ 50 bilhões na balança de produtos industriais. De outro lado, as exportações agrícolas cresceram de US$ 32 bilhões para US$ 50 bilhões no mesmo período, graças a preços recordes das commodities desde 2006.
Os Estados Unidos (país que mais exige abertura do Brasil) é quem já está ganhando mais com o mercado brasileiro escancarado pelo câmbio. A balança bilateral de produtos não agrícolas sofreu uma reviravolta: de saldo positivo de US$ 7 bilhões, o Brasil registra déficit de US$ 9 bilhões nos primeiros dez meses de 2010 apenas. “É notável que agora o Brasil seja um dos maiores contribuidores da redução do déficit dos EUA. Estamos perplexos quando contribuições adicionais são exigidas de nós”, disse Azevedo.
“Esse desempenho mais pobre decorre, e não em pequena parte, de políticas econômicas de fora, que têm um impacto direto sobre a taxa de câmbio do real”, acusou. “As condições nas quais abordamos o jogo final da Rodada Doha são significativamente diferentes”, acrescentou. Azevedo reiterou que a questão de moedas e comércio dizem respeito a empregos, estabilidade e sustentabilidade do desenvolvimento social. E avisou que considerar os emergentes como motores do crescimento da economia mundial significa “colocar o carro na frente dos bois”.
Azevedo disse que alguns países em desenvolvimento emergiram da crise melhor do que economias desenvolvidas, porque “adotaram políticas conservadoras e regulações que sacrificaram um crescimento econômico mais rápido durante os anos anteriores”.
O embaixador americano, Michael Punke, não estava presente na reunião da OMC, mas em entrevista à “newsletter” BNA, de Washington, afirmou que os EUA estão “frustrados no momento” com o Brasil na discussão de Doha. E espera que o novo governo, de Dilma Rousseff, dê “sinal positivo de engajamento em Doha”, ou seja, que faça mais concessões.