Em meio às críticas do governo federal ao educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira desde 2012, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) apresentou um projeto de lei para transferir a honraria a São José de Anchieta, padre jesuíta canonizado pelo papa Francisco em 2014.
O texto nem sequer foi votado e já causa polêmica. A proposta foi rechaçada pelo Santuário Nacional de São José de Anchieta.
Em publicação na sua página de Facebook em 25 de maio, a instituição disse ter “recebido com preocupação” o projeto de lei e que “não pode aceitar que o legado de São José de Anchieta seja instrumentalizado para fins meramente ideológicos”.
O texto afirma que, assim como Paulo Freire, Anchieta “também foi pedagogo do oprimido” quando optou por educar, defender e proteger os indígenas nativos “da ambição dos poderosos”.
A nota oficial, assinada pelos padres Nilson Marostica e Bruno Franguelli, reitor e vice-reitor do santuário, respectivamente, atraiu centenas de comentários de fiéis, com críticas e demonstrações de apoio ao posicionamento. “Infeliz nota do santuário”, comentou um dos seguidores da página. “Manifesto em favor do bom senso”, manifestou-se outro.
Segundo Franguelli, a igreja decidiu se posicionar após receber vários abaixo-assinados da comunidade para que o projeto de Jordy fosse à frente.
— Nós lemos o projeto para tentar entender a proposta e percebemos que é totalmente ideológica. Já houve uma tentativa de instrumentalizar Anchieta durante a ditadura. Essa apropriação por parte de um grupo ideológico é muito perigosa. Anchieta é grande demais para servir apenas como um tapa-buraco — declarou o padre Franguelli — Tanto os que defendem Anchieta quanto os que atacam Paulo Freire desconhecem um e outro. Paulo Freire era contra as ideologias, ele queria que as pessoas fossem autônomas para decidir seu próprio caminho.
O vice-reitor do santuário afirmou que, se houvesse um desejo de tornar São José de Anchieta patrono da educação brasileira sem passar pelo viés ideológico, ele “certamente estaria apoiando”. Segundo ele, a nota oficial atraiu apoio de diversos setores da Igreja Católica, de bispos, padres e leigos.
— Além do mais, declarar Anchieta como patrono da Educação num momento em que a Educação não é prioridade, é, no mínimo, contraditório — afirma.
Fonte: O Globo