Presidente americano evita confronto direto com bilionário, enquanto assessores se preocupam com duração da trégua.
Donald Trump está frustrado com Elon Musk por criticar duramente a principal prioridade legislativa de seu governo, mas até o momento tem evitado levar os ataques para o lado pessoal. Esta distinção tem ajudado a manter a resposta da Casa Branca sob controle, embora assessores presidenciais já se questionem por quanto tempo a paz entre os dois poderá durar, conforme as críticas do bilionário entram em seu segundo dia.
“No mundo de Trump, sabemos que o sinal de que as coisas estão indo mal rapidamente é quando o presidente se torna pessoal, mesmo que seja apenas meia frase no Truth”, disse um assessor próximo ao presidente, referindo-se à rede social de Trump. A Casa Branca tem minimizado publicamente a divergência, enfatizando que Musk agora é um cidadão privado e que ainda concorda com Trump em vários outros assuntos.
O embate começou quando o CEO da Tesla chamou o projeto de lei orçamentário republicano de “abominação repugnante”, apenas dias depois de uma entrevista amigável no Salão Oval, onde Trump lhe presenteou com uma chave de ouro. Musk intensificou seus ataques na quarta-feira, conclamando republicanos a “matarem o projeto” e escrevendo em sua rede social X: “Ligue para seu senador, ligue para seu congressista, falir a América NÃO é aceitável!”
A ofensiva de Musk representa o maior teste até agora para uma relação que sobreviveu muito mais tempo do que muitos no círculo de Trump antecipavam, mas que agora parece estar terminando da maneira que a maioria deles previu. O episódio renovou discussões internas sobre como contra-atacar a ofensiva repentina de um ex-aliado cuja proeminência, plataforma de mídia social e recursos financeiros o tornaram extremamente influente dentro do Partido Republicano.
Aliados de Trump argumentam que as críticas de Musk estão ligadas aos seus interesses comerciais com a Tesla, que será prejudicada após o projeto eliminar créditos fiscais para veículos elétricos. Entretanto, o bilionário recebeu mais munição para suas críticas quando o Escritório de Orçamento do Congresso anunciou que o megaprojeto poderia adicionar mais de dois trilhões de dólares ao déficit federal na próxima década.
A liderança republicana no Congresso tem rebatido as críticas de Musk. O presidente da Câmara, Mike Johnson, afirmou que tentou ligar para o bilionário e disse após reunião com republicanos que eles não podem “voltar à estaca zero”. “Não temos tempo para um projeto totalmente novo”, declarou. “E quero que Elon e todos os meus amigos reconheçam a complexidade do que estamos fazendo.”
Enquanto isso, republicanos da linha de frente e conservadores estão preocupados com as potenciais consequências de se indisporem com Musk e seus recursos financeiros praticamente ilimitados. Se o bilionário escalar sua retórica e ameaçar mais explicitamente apoiar desafiantes nas primárias, isso poderia forçar os republicanos à posição desconfortável de escolher entre o presidente e seu ex-assessor — aumentando as apostas para a própria decisão de Trump sobre como responder ao desafio.
Tudo indica para uma questão de “quando”, não de “se”.
Parece improvável tão longo convívio pacífico entre duas pessoas de egos tão inflados.
Hoje (5/6), por exemplo, durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz, Trump declarou que está muito decepcionado com Musk. Este, por sua vez, na sua rede social X, afirmou que sem ele, Trump teria perdido a eleição e os democratas controlariam a Câmara e os republicanos estariam em 51-49 no Senado. “É muita ingratidão”, complementou.