gaias

As barrigudas do sertão e as gaias

sandroEra junho de 1971, quando um Gaia, Batista Gaia, morria a punhalada no pescoço, em um leito de um prostíbulo de Serra Talhada, ao lado de uma jovem prostituta, que o traiu por 500 cruzeiros, denunciando a presença dele naquele local aos policiais que o assassinaram. Segundo o jornalista Caco Barcelos, da Rede Globo de Televisão, em seus escritos datados de dezembro de 1976 “Do Sertão de Serra Talhada, onde não se brinca de valente, narrativas de morte e vingança”, ali, naquele ambiente corrompido, sangrava um homem valente do sertão pernambucano; a história narrada por esse profissional da imprensa é de uma beleza ímpar para ser lida e relida por todos nós sertanejos que antes de tudo, somos fortes, segundo Euclides da Cunha em sua grande obra “Os Sertões”.

No dia, 27/03/2010, acompanhamos a manifestação de cerca de um bilhão de pessoas em 4.000 cidades do mundo, em 120 países, sendo 70 cidades no Brasil, que durante aproximadamente 1 hora, denominada Hora do Planeta, apagaram suas luzes para, num ato simbólico, coordenado pela WWF – World Wildlife Fund, organização social apoiada pela ONU, com o objetivo de chamar a atenção da população mundial para as mudanças climáticas que o homem está provocando na Terra. A Terra, assim como Batista Gaia naquela noite escura de 1971 está sangrando.

James Ephraim Lovelock, cientista e ambientalista inglês criou em 1969 com apoio da norte-americana, bióloga, Lynn Marguliis, a TEORIA DE GAIA ou Hipótese Gaia. Essa teoria que há época sofreu muitas discordâncias dos cientistas e estudiosos do meio ambiente, hoje encontra guarida de toda sociedade. A teoria de James, em síntese, diz que a Terra é um ser vivo, tal qual era o Batista Gaia. Gaia, família de origem que não conheço, embora saiba que é muito grande e que povoa várias partes do nosso País, também era o nome da deusa Gaia, divindade que representava a Terra na mitologia grega.

O filho de Batista Gaia, Vilmar Gaia, que tinha 20 anos por ocasião da morte do pai, se tornou um valente sertanejo em busca da vingança pelas próprias mãos, vindo a causar grande reboliço na Segurança Pública do Estado de Pernambuco e do País, matando a todos os que estavam diretamente ligados ao assassinato do seu pai dentre outros, pois suas investidas assassinas com objetivo de vingar a morte do seu genitor, causaram repercussões nacionais. Veio a matar o terceiro acusado da morte de seu pai, na cidade de Salgueiro, o soldado Arnaldo Cipriano, com 16 tiros. Em 1975 chega a Serra Talhada David Jurubeba, homem desafiador, rastreador profissional que trabalhou na perseguição a Lampião, para perseguir Vilmar Gaia, não obtendo sucesso, pois quem o capturou foi o capitão João Ferreira dos Anjos. Ao ir embora de Serra Talhada desolado por não atingir o seu intento, Jurubeba declarou: “Eu não sei viver sem um grande duelo.

Desde Lampião espero por um bandido perigoso que me desafie. Vilmar era a minha grande esperança, eu queria matar esse menino, queria matar todos os Gaias em um grande incêndio. A prisão de Vilmar não teve graça. Por isso continuarei na perseguição aos pistoleiros. Ainda espero pelo grande duelo, tenho paciência. Enquanto esse dia não chegar perseguirei até MULHER BARRIGUDA DO SERTÃO. Veja você quanta ignorância. Será que ele perseguiu alguma mulher barriguda?

Nessa mesma época, eu era criança de aproximadamente 7 anos, quando da minha casa em Cabrobó, pela fresta da janela, assisti a um verdadeiro alvoroço, pois um homem corria atrás de uma mulher barriguda, esbravejando e com revólver em punho, disparava tiros contra a mesma, que caiu e morreu ali mesmo; em seguida, ele desceu a rua, um cachorro latiu e ele disparou contra o animal, fazendo-o dar seu último suspiro; dobrou a esquina, se recolheu a um tipo de beco ou viela e atirou contra sua própria cabeça, falecendo imediatamente. Seria reflexo desse movimento social violento? Seu suicídio seria aplicação do que está escrito no Livro Sagrado, em Êxodo 21 – As leis acerca dos que amaldiçoam os pais ou ferem qualquer pessoa; versículo 22, que diz “se alguns homens pelejarem, e ferirem uma mulher grávida, e forem causa que aborte, porém se não houver morte, certamente aquele que feriu será multado conforme o que lhe impuser o marido da mulher e pagará diante dos juízes”. Nos versículos 23 a 25, diz “mas, se houver morte, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”. Será que foi por isso que o homem se suicidou, ou foi o medo da aplicação da justiça pelas próprias mãos tão bem aplicada desde o velho Código de Hamurabi, da antiga Babilônia, passando pelo velho oeste americano até a lei dos Gaias?

Voltemos então a Teoria de Gaia, que se preocupa com o “sangue” que jorra da natureza. Há poucos anos fui convidado pela PETROBRÁS, juntamente com mais 03 empresários de Petrolina (Nelbe Freire, Pollux Cordeiro e Rossana Mastalez), e vários “ambientalistas” de São Paulo, a conhecer a Base de extração de gás natural de Urucu, no interior da Selva Amazônica, à uma hora de vôo após Manaus, confesso que foi uma experiência maravilhosa, apaixonante, embora tenha tido um medo enorme de que o pequeno avião que sobrevoava baixinho sobre aquele “mar” de árvores, pudesse vir a cair, mas o interessante é que lá em Urucu tivemos uma vasta explanação sobre o papel da Petrobrás e particularmente o cuidado que eles têm com o meio ambiente e me chamou a atenção o fato de que um funcionário que apresentava determinada palestra para nós se referiu à nossa platéia dizendo: “vocês ambientalistas…” prá quê? Um dos “ambientalistas” presentes, daquele tipo radical, talvez ativista do Greenpeace chateou-se e reclamou do palestrante que todo ser humano deveria ser um ambientalista e não apenas quem seja membro ativo de algum movimento ou ONG. Radicalismo à parte, também concordo até porque, acho que aquela observação me fez aprender sobre isso!

Hoje estudando Direito Ambiental, podemos ver com clareza a necessidade de fazermos valer o que prescreve nossa Constituição Federal de 1988, em seu Art. 225 – “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Nas palavras de Lynn Margulis:

A hipótese de Gaia afirma que a superfície da Terra, que sempre temos considerado o meio ambiente da vida, é na verdade parte da vida. A manta de ar – a troposfera – deveria ser considerada um sistema circulatório, produzido e sustentado pela vida…. Quando os cientistas nos dizem que a vida se adapta a um meio ambiente essencialmente passivo de química, física e rochas, eles perpetuam uma visão mecanicista seriamente distorcida, própria de uma visão de mundo falha. A vida, efetivamente, fabrica, modela e muda o meio ambiente ao qual se adapta. Em seguida este ‘meio ambiente’ realimenta a vida que está mudando e atuando e crescendo sobre ele. Há interações cíclicas, portanto, não-lineares e não estritamente determinista”.

Portanto, respeitemos as Gaias: A Teoria Gaia, do cientista James Ephraim Lovelock e as famílias Gaias (de Serra Talhada e da família Gaia fictícia desenvolvida pela Tah, em forma de uma série de livros que procura informar às crianças como proceder diante do meio ambiente e seus fatores importantes como o aquecimento global, a poluição, a água, o ar. Na verdade são historinhas infantis do tipo aventureiras, que mostram as crianças agindo de forma positiva, diante do que vão encontrando de negativo na floresta, nas praias, nos centros urbanos, etc).

Sandro Carlos Vieira Patrício, Administrador de Empresas/FACAPE-Petrolina/PE; Pós-graduado em Marketing/UFPE e Gestão de Negócios Internacionais/FGV-RJ; formando de Direito/FACAPE; Policial Rodoviário Federal e empresário das empresas Premier Material de Construção, Premier Construções e Bens Imóveis Empreendimentos Imobiliários.