Sem políticas públicas, sem ação do Estado, sem opção. Desesperada, a mãe de um adolescente viciado em crack usou um último recurso: acorrentou o filho em casa em Piracicaba, a 168 km de São Paulo. A mãe vai responder a processo por maus tratos. Ela justifica a posição de acorrentar o adolescente como uma única forma de tentar tirar o menino do vício. Segundo a mulher, o adolescente ainda pratica furtos para sustentar o vício do crack.
– Ele já tentou fugir pelo teto e fica muito nervoso quando acorda (após consumir a droga). Eu não aguento mais esta situação. Eu quero que alguém me ajude – afirmou a mãe.
– É difícil. Dói ver ele assim todo dia, assim acorrentado, sem comer. Quando come, vomita por causa da droga. Tem vez que ele fica três dias dormindo assim direto – desabafa.
Quando o garoto acorda, segundo a mãe, ele fica muito agressivo. Para tentar fugir, já quebrou móveis e portas. O consumo da droga é pago com pequeno furtos praticados há um ano.
– A polícia já chegou aqui na porta da minha casa. Falei para o policial que ele estava acorrentado. Ele falou: infelizmente ele vai morrer na mão de bandido ou vai morrer na nossa mão – conta a mãe.
Quando tomou conhecimento do caso, o Conselho Tutelar levou o menino para o hospital. A mãe foi encaminhada para o distrito policial. Na delegacia, a mãe teve que assinar um termo circunstanciado. Isso acontece quando alguém é acusado por um crime considerado leve. Por ter acorrentado o próprio filho ela vai responder a um inquérito de maus tratos. Se condenada, pode ficar presa por um ano e quatro meses.
– Não é maus-tratos. Se tiver que acorrentar de novo eu acorrento. Prefiro fazer isso a vê-lo morto – avisa a mãe.
Fonte: O Globo