Suposto defensor de liberdade de expressão irrestrita, Trump silencia críticas em rede social

Trump bloqueia comentários no Instagram após brasileiros o confrontarem sobre as tarifas abusivas anunciadas sobre produtos do Brasil.

Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque

A ironia não poderia ser mais gritante. Donald Trump, que se autoproclamou o grande defensor da liberdade de expressão irrestrita, decidiu nesta quarta-feira (9) limitar os comentários em seu perfil oficial no Instagram. O motivo? Uma enxurrada de críticas de internautas brasileiros revoltados com o anúncio de tarifas de 50% sobre produtos do Brasil, que entrarão em vigor a partir de 1º de agosto. Para quem sempre bradou contra a “censura” e defendeu o direito de falar sem filtros, Trump mostrou que sua tolerância à liberdade de expressão tem limites bem claros: quando as críticas são direcionadas a ele.

Os brasileiros não pouparam palavras ao invadir o perfil do presidente americano. “O Brasil é soberano, Trump, deixa-nos em paz”, escreveu um internauta, ecoando o sentimento de milhões de compatriotas. Outra usuária foi ainda mais direta: “jamais aceitaremos interferência”. As mensagens se multiplicaram rapidamente, todas carregadas do mesmo tom de indignação e orgulho nacional. Era o povo brasileiro fazendo uso exatamente daquilo que Trump sempre disse defender: a liberdade de expressar opiniões, mesmo quando incômodas.

A resposta do magnata foi tão previsível quanto reveladora. Na noite de quarta-feira, qualquer tentativa de comentar nas postagens de Trump era bloqueada com a mensagem padrão: “os comentários nesta publicação foram limitados”. Nesta quinta-feira (10), a situação piorou ainda mais – mesmo quando o sistema aparentava permitir comentários, qualquer tentativa era respondida com a notificação de que “não é possível realizar seu comentário”. O homem que prometeu devolver a liberdade de expressão às redes sociais acabou se tornando seu próprio censor.

Trump justificou as tarifas punitivas em uma carta publicada em suas redes sociais, alegando que a medida seria uma resposta aos “ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”. A justificativa soa quase cômica quando confrontada com sua própria atitude de silenciar críticos. O presidente ainda aproveitou para pressionar as autoridades brasileiras a retirarem as acusações contra Bolsonaro relacionadas à tentativa de golpe, mostrando que sua preocupação com a “liberdade” é bastante seletiva.

O governo brasileiro não ficou calado diante da provocação. Em nota oficial, anunciou que pretende retaliar os Estados Unidos com base na legislação brasileira de reciprocidade econômica, lembrando que os americanos acumulam um elevadíssimo superávit comercial com o Brasil nos últimos 15 anos. Enquanto isso, Trump continua em seu perfil blindado, protegido das críticas que ele mesmo sempre disse que deveriam fluir livremente. A lição é clara: para alguns “defensores da liberdade”, a expressão só é livre quando convém aos seus interesses.

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