Personalidade | Saiba quem foi Veremundo Soares

Coronel, comerciante e líder político que transformou Salgueiro e marcou a história do sertão pernambucano.

Veremundo Soares, ladeado pelo médico e compositor Zé Dantas e Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

Veremundo Soares, nascido em 18 de agosto de 1878 e falecido em 28 de maio de 1973, foi uma das figuras mais emblemáticas do sertão pernambucano na primeira metade do século XX. Filho do padre Antônio Joaquim Soares, com dona Marcolina Maria da Gloria, e casado com Maria Bezerra Soares, ele construiu um legado que transformou a paisagem política, econômica e social da região entre as décadas de 1920 e 1940. Sua trajetória de quase um século de vida ilustra o fenômeno do coronelismo no interior nordestino, com suas complexas relações de poder, clientelismo e desenvolvimento regional.

Ao lado do irmão Benjamim Othon Soares, Veremundo herdou terras paternas e se estabeleceu como importante agricultor e pecuarista na região. Os irmãos eram sócios em diversos empreendimentos, incluindo o Empório Salgueirense, um grande armazém no centro da cidade que comercializava desde alimentos e vestimentas até armas e munições. Essa base comercial foi fundamental para a construção do poder econômico da família Soares.

A ascensão política de Veremundo começou a ganhar força em 1918, quando seu irmão Benjamim foi eleito prefeito de Salgueiro. Porém, foi no quatriênio 1925-1928, quando ele próprio assumiu a prefeitura, que sua liderança se consolidou definitivamente. Recebendo a patente de capitão cirurgião da Guarda Nacional em 1904, Veremundo utilizou sua posição para estabelecer alianças estratégicas com o governo estadual, tornando-se o principal mediador entre o poder público e a população local.

Um dos episódios mais controversos de sua trajetória foi sua relação com o cangaceiro Lampião.

Durante a década de 1920, quando o cangaço aterrorizava o sertão nordestino, Veremundo manteve uma relação ambígua com o famoso bandoleiro. Documentos da época sugerem que o coronel “jogava dos dois lados”, ora colaborando com as forças oficiais na perseguição aos cangaceiros, ora mantendo relações comerciais com o bando de Lampião, especialmente no fornecimento de munições. A frase atribuída a Lampião – “para o presente eu achava que nois era amigo” – evidencia essa complexa relação que se rompeu quando o coronel passou a apoiar oficialmente o combate ao cangaço.

Além do cangaço, Veremundo Soares teve participação ativa no combate à Coluna Prestes, que atravessou o sertão pernambucano em 1924 e 1926. Embora Salgueiro não tenha sido diretamente atingida pela marcha dos revoltosos, o município serviu como base logística para as tropas governistas, com o coronel fornecendo mantimentos e munições para os destacamentos militares que combatiam os tenentistas.

A Revolução de 1930 e o posterior Estado Novo (1937-1945) não significaram o fim da influência política de Veremundo, como ocorreu com muitos coronéis da época. Pelo contrário, ele demonstrou notável capacidade de adaptação às novas circunstâncias políticas. Mesmo sem ocupar cargos públicos diretamente, manteve seu prestígio junto aos governantes estaduais e continuou exercendo forte influência nos bastidores da política local, indicando nomes para posições estratégicas, como seu sobrinho para interventor municipal durante o Estado Novo.

Ao lado de sua esposa, Maria Bezerra Soares, Veremundo construiu uma família que seguiu seus passos na política local. Entre seus filhos destacou-se Raul Soares, que foi eleito prefeito de Salgueiro para o quatriênio 1951-1955, consolidando assim a dinastia política da família. Maria Bezerra, embora menos mencionada nos registros históricos, foi importante pilar de sustentação familiar enquanto o coronel se dedicava aos negócios e à política.

O período do Estado Novo representou o auge do poder econômico e político da família Soares. Veremundo diversificou seus negócios, investindo no beneficiamento de matérias-primas como algodão e caroá, e expandindo sua influência para além das fronteiras de Salgueiro. Em 1944, sua fazenda Monte Alegre foi palco da Segunda Semana Cooperativista de Pernambuco, evento que contou com a presença de importantes autoridades estaduais, incluindo o então prefeito do Recife.

O legado de Veremundo Soares para Salgueiro é ambivalente.

Por um lado, ele contribuiu significativamente para o desenvolvimento econômico e a modernização da região, com investimentos em infraestrutura, comércio e agroindústria. Por outro, seu modelo de liderança baseado em relações clientelistas e no controle político reforçou estruturas de dominação que limitavam a participação democrática e a autonomia da população local.

A trajetória do coronel Veremundo Soares, que viveu quase um século (1878-1973), ilustra as complexas transformações do poder local no interior nordestino durante a primeira metade do século XX, revelando como as lideranças tradicionais se adaptaram às mudanças políticas e econômicas do país, mantendo sua influência mesmo diante da crescente centralização do Estado brasileiro.

2 comentários em “Personalidade | Saiba quem foi Veremundo Soares”

  1. VEREMUNDO SOARES

    Um visionário além do seu tempo, um salgueirense ilustre.

    Sempre que oportuno, questiono o porquê de uma pessoa tão importante para Salgueiro, como foi o coronel Veremundo, não ser reconhecido publicamente, digo homenageado, prestigiado a altura do que ele merece. Um homem notável. A historia de Salgueiro se confunde com a sua historia e jamais pode-se contar uma ou outra separadamente, por toda essa importância, no meu ponto de vista entendo que as autoridades politicas e a quem de direito tenham atitude para promover através de símbolos, estátua, busto, nome de praça, escola, prédio público e ou qualquer outra forma de torná-lo reconhecido. Principalmente para a população jovem.

    PS:, à avida que leva seu nome na BR – 232, não tem identificação e nem iluminação pública, quem passa por lá nem toma conhecimento.

    Há um tempo, existia uma placa externa no prédio do Banco do Nordeste “EDIFÍCIO VEREMUNDO SOARES”, mas, atualmente foi retirada. Não sei o motivo.

    Agricultor, comerciante, banqueiro, cirurgião, músico, político e industrial e capitão. Assim foi seu Veremundo Soares.

    Eu o conheci ainda vivo labutando na loja (Hoje Casa da Cultura) e na usina (hoje shopping na Av Antônio Angelim).

    Salgueiro, 05/06/25.
    Assis Barros

  2. GONZAGA PATRIOTA

    GRANDE VEREMUNDO SOARES. COMO TELEGRAFISTA DA RFF, TIVE A HONRA DE CONVERSAR SEMANALMENTE COM VEREMUNDO SOARES, EM SUA LOJA, EM SALGUEIRO.
    GONZAGA PATRIOTA

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