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Personagem (XXII)

17741174_1326124880817640_117918911_nO personagem de hoje é o Pe. Remi, que está em Salgueiro desde o começo dos anos 90 e completou recentemente 50 anos de sacerdócio. Leia um pouco da história deste religioso contada pelo radialista e historiador Thiago Lima, da rádio Asa Branca AM.

Padre Remígio de Vettor SdC, nasceu em 06 de Janeiro de 1939 num vilarejo no norte da Itália entre Veneza e a Áustria, numa região montanhosa chamada de Dolomitas. O povoado tinha cerca de 200 habitantes e era um vilarejo de agricultores que trabalhavam na montanha cortando grama para se manter. Sua família era uma das mais numerosas do lugar, sua mãe teve oito filhos. Em meio a todo este cenário humilde, viveu o Padre Remi os primeiros anos de sua vida.

Em 1945 o pequeno Remi perdeu o seu pai assassinado durante a Segunda Guerra Mundial, com isso sua família passou por uma série de dificuldades. Para poder ter um futuro melhor, o então órfão de guerra foi acolhido no colégio Guanelliano; tinha, então oito anos de idade. Foi nesse colégio que ele cursou os seus primeiros anos de estudo. Quando chegou na quinta série teve que decidir se voltava para a família para ser um agricultor ou pensava em alguma coisa. Como a Congregação dos Servos da Caridade oferecia outras oportunidades de estudo, ele acabou ficando e, naquele ano, fez um retiro no qual expressou o seu desejo de ser padre e missionário tendo, inclusive, a oportunidade de ir para fora da Itália, mas era preciso ir para o seminário que ficava longe de sua terra. O seu ingresso no seminário aconteceu quando ele tinha onze anos de idade e lá viveu por 16 anos.

Foi um choque grande para o jovem Remígio sair do seio de sua família, do carinho materno, para viver a rigidez e disciplina próprias de um seminário. Enfrentou várias dificuldades durante seu tempo de seminarista, vendo sua família somente uma vez por ano, mas a sua vocação amadureceu e em 01 de Abril de 1967, foi ordenado sacerdote. Uma vez ordenado, Remi já sabia que o seu destino seria cruzar o oceano Atlântico para o Brasil. Antes disso ele tinha o desejo de ir para a África, mas como a Congregação dos Servos da Caridade não tinha obras no Continente Africano teve que escolher a América-Latina. Seu superior lhe deu a opção de escolher entre o Chile e o Brasil, Remi quis vir para o nosso país, devido ao contexto social que o estado brasileiro vivenciava com a mal governabilidade e com os direitos humanos violados: a Ditadura Militar.

Em 1968 chegou ao Brasil  e seu primeiro trabalho foi em um educandário que acolhia 120 crianças na periferia de Porto Alegre-RS. Em seguida foi para a Rio de Janeiro trabalhar em outra área periférica onde ficou por 11 anos  no meio das crianças e os mais necessitados. Vendo a necessidade de atuar no lugar mais pobre, com seca e fome, que se via na época na mídia nacional, decidiu vir juntamente com o Pe. Lino Della Morte SdC, para o nordeste nem meados da década de 80. Como eram considerados padres aventureiros, Remi e Lino viajaram de fusca do Rio de Janeiro a Petrolina chegando a Pernambuco em 1986.

No dia 12 de Junho de 1986, o então Bispo da Diocese de Petrolina Dom Frei Paulo Cardoso da Silva, O.Carm., nomeou os Padres Remi e Lino para os cuidados pastorais das paróquias de Granito, Sitio dos Moreiras (Moreilândia), Serrita e Cedro. Pe. Remi passou cinco anos evangelizando nesses lugares. Remi chegou a Salgueiro em 1991 em meio a um dos momentos mais difíceis da história da cidade, a violência estava grande no município, o Padre José Maria Prada havia sido assassinado. Já era certa a vinda de Pe. Remi para Salgueiro, mas esse ato violento antecipou o momento. Certa vez um homem de Salgueiro procurou Pe. José Maria para se casar. Nada demais se ele já não fosse casado. O indivíduo mentiu dizendo que havia residido com uma mulher em outra cidade, mas não tinha se casado. Não acreditando na versão do homem, Pe. José Maria entrou em contato com a paróquia da outra cidade e conseguiu uma certidão de casamento dele. Por ser casado, o sacramento do matrimônio não poderia ser realizado. Mediante a recusa, o indivíduo disse que o mataria se ele não efetuasse o casamento, mas o padre não quebrou as regras da igreja. No dia 29 de abril de 1991, o sujeito, contrariado, tirou a vida do servo de Deus às 11h dentro da estrutura da secretária paroquial da Igreja de Santo Antônio. A missa de corpo presente  teve participação de todo clero da Diocese Petrolina e de uma multidão de fiéis da cidade e vizinhança. No enterro o caixão foi coberto com a camisa ensanguentada do mártir.

A cidade de Salgueiro precisava naquele momento de uma mudança e sabendo disso, Pe. Remi passou a liderar uma sociedade que estava a mercê da criminalidade, com sua coragem passou a enfrentar e não aceitar qualquer ato violento. Por causa disso a população passou a ter uma maior consciência de seus direitos. Com o crescimento da participação e mobilização da população liderada pelo Padre Remi, a igreja de Santo Antônio passou a não comportar o número de fiéis que vinham participar das celebrações, por isso então as missas passaram a ser campais.

Além da violência, Salgueiro tinha uma grande taxa de pobreza no início da década de 90 sem falar na seca que assolava a região. Vendo estes problemas sociais, o pároco da então matriz de Santo Antônio passou a buscar obras socias que ajudassem os mais necessitados. Para o enfretamento da seca foram construídas mais de 70 barragens na região, as verbas foram conseguidas através de doações de franceses, italianos, dentre outros. Outra obra importante foi a “Vaca Mecânica” que distribui até hoje leite de soja para crianças e idosos de áreas pobres da cidade. Pe. Remi também liderou a construção de creches que atendem crianças carentes de Salgueiro. Estas são só algumas das obras socias por ele idealizadas e geridas.

O Padre Remi deu sua contribuição para a organização de pastorias em Salgueiro, pois na época a única Paróquia existente na cidade era a de Santo Antônio. Com reuniões de formação muitas lideranças surgiram nas pastorais, sem contar na preocupação que o Padre Remi teve em organizar o espaços físicos para os encontros e organização das pastorais. Uma das primeira aquisições foi o CEPAMA (Centro Pastoral Mandacaru), local onde se encontra instalada hoje a Casa de Acolhimento São Francisco de Assis e o Propedêutico da Diocese de Salgueiro.

Atualmente Padre Remi é Vigário Paroquial  da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Salgueiro.