Geral, História de Salgueiro

Dia do trabalho: conheça algumas profissões que contam a história de Salgueiro

Ferreiro Reginaldo. Uma das profissões mais antigas do mundo está se tornando rara.

Roçadeira, foice, machado, alavanca e talhadeira são algumas das ferramentas produzidas por Reginaldo Raimundo de Sá, em sua oficina, em Salgueiro. Sua matéria-prima é o ferro-velho que ele molda no fogo, nas mais diversas formas. Aprendeu a profissão de ferreiro com o pai, aos 11 anos. Já são 31 anos de uma rotina de calor, muita força e habilidade manual.

Qualquer desatenção pode resultar em um acidente “Esse dedo quando é bem cedo, dói. Eu bati numa alavanca”, mostra. Reginaldo conta que já cortou a barriga com disco de lixadeira. Sobre sua realização enquanto profissional ele diz: “Não é gostar ou não gostar, é daqui que eu como, daqui que eu pago minhas contas. É aqui mesmo que eu tenho que ficar”.

Na era da informação, quando as redes sociais e a inteligência artificial têm feito parte do nosso dia, algumas profissões se tornaram desconhecidas das novas gerações, como é o caso do ferreiro e da confecção de ferramentas de forma artesanal.

A professora graduada em história e mestra da Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central – Fachusc, Rafaela Hildita, explica que a utilização do ferro remonta a pré-história: “Sempre houve essa relação muito próxima entre o homem e a utilização de ferramentas. No que remete a história de Salgueiro, a gente vê que algumas profissões já estão em extinção, como por exemplo o fladeleiro que era aquela pessoa que usava o flandres para fazer alguns utensílios, entre eles silos, onde, antigamente, as pessoas armazenavam cereais, produção de milho e feijão e também os utensílios domésticos como panelas, copos, pratos.”.

Professora de História, Hildita, em uma aula de Antropologia da Educação, na Fachusc, usando um vestido que representa a diversidade do município de Salgueiro.

Outra antiga profissão que ultrapassou milhares de ano é a contação de histórias. Pode-se dizer que o escritor, o historiador e o jornalista têm as raízes do seu trabalho nas inscrições em cavernas, por meio das quais o homem registrava, na pré-história, o seu cotidiano. Para Hildita, é gratificante interagir com o meio em que seus estudantes vivem, suas histórias de vida, seu cotidiano, como também, o contato com história do município, “os territórios existentes dentro dos vários ‘Salgueiros’ que conhecemos”. Ela ainda completa que “o mais gratificante é apresentar essa realidade aos estudantes e fazer com que eles se fascinem com a história local”.

Bloco do Caneco Amassado. O Carnaval era a única oportunidade que as mulheres tinham de entrar no centro da cidade de Salgueiro.

Ao lado do ferreiro e do contador de história, outra profissão muito antiga merece ser citada: a exercida pelas profissionais do sexo. Em Salgueiro, ficou famoso, nas décadas de 30 a 60, um complexo de cabarés conhecido como Caneco Amassado, onde as mulheres ofereciam serviços sexuais. “Em Salgueiro [a profissão] tem sua ascensão após a revolução de 30 e a construção das primeiras estradas, dos primeiros veículos, e seu auge acontece entre as décadas de 40 e 60 com a construção das BR 232 e 116, as grandes obras vindas através da ferrovia, e a industrialização de Salgueiro”.

Em Salgueiro, o meretrício tem sua ascensão após a revolução de 30.

As mulheres “da vida” não podiam frequentar o centro da cidade e, por isso, foi construído no entorno dos bordéis um vilarejo onde se montou uma logística de comércio para atendê-las, com pequenas mercearias ou “bodegas”, verdureiros, costureiras, entre outros. “Houve uma geração de renda nessa área, parafraseando Ítalo Calvino, por conta delas se montou uma cidade invisível dentro da cidade de Salgueiro”, encerra a professora mestra.

Raquel Rocha