Congresso pode aprovar hoje R$ 150 milhões em novos gastos com parlamentares

Custo real da ampliação da Câmara supera orçamentos de ministérios inteiros enquanto parlamentares exigem cortes sociais.

Hugo Motta, presidente da Câmara, em festejo junino | Imagem: Redes Sociais

O Senado Federal pode votar nesta quarta-feira (25) um projeto que representa o mais evidente paradoxo da atual política fiscal brasileira: enquanto deputados e senadores pressionam sistematicamente o governo federal para cortar gastos em programas sociais, eles próprios aprovam um aumento de R$ 150 milhões anuais em despesas do Poder Legislativo. A proposta amplia de 513 para 531 o número de cadeiras na Câmara dos Deputados, criando 18 novos mandatos parlamentares e gerando custos que superam o orçamento de ministérios inteiros.

O impacto financeiro real da medida vai muito além dos R$ 64 milhões inicialmente divulgados pela Câmara dos Deputados. Levantamento do portal G1 revela que o custo total alcança R$ 150 milhões anuais, podendo chegar a R$ 600 milhões ao longo dos quatro anos de mandato. Esse valor supera o orçamento de 2025 do Ministério do Empreendedorismo (R$ 132 milhões) e é maior que importantes programas federais como o Programa Espacial Brasileiro (R$ 117 milhões) e iniciativas de direitos humanos como “Mulher Viver sem Violência” (R$ 85 milhões).

A diferença entre os custos divulgados e os reais decorre do fato de que a ampliação da Câmara Federal gera automaticamente a criação de 30 novas vagas para deputados estaduais, conforme determina a Constituição. Esse efeito cascata adiciona R$ 85 milhões anuais aos cofres públicos, distribuídos entre verbas de gabinete (R$ 56 milhões), cotas parlamentares (R$ 16 milhões) e salários (R$ 13 milhões). Os estados mais impactados serão Mato Grosso (R$ 22,3 milhões), Amazonas (R$ 17,3 milhões) e Rio Grande do Norte (R$ 15,4 milhões).

A contradição política torna-se ainda mais evidente quando se observa que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e diversos deputados de oposição têm cobrado sistematicamente que o Executivo realize cortes orçamentários, mesmo que isso coloque em risco programas sociais destinados às camadas mais vulneráveis da população. Simultaneamente, esses mesmos parlamentares aprovaram na Câmara, em maio, o projeto com 270 votos favoráveis e apenas 207 contrários, com praticamente todos os partidos dando sinal verde, exceto PSOL, Cidadania, Novo e Rede.

O projeto tramita em caráter de urgência devido ao prazo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, que determinou a atualização da distribuição de vagas até 30 de junho. Contudo, a escolha por aumentar o número total de deputados, em vez de redistribuir as cadeiras existentes conforme a proporcionalidade populacional, revela a prioridade dada aos interesses corporativos do Legislativo sobre a eficiência dos gastos públicos. A última redistribuição ocorreu em 1994, baseada no Censo de 1985, criando uma defasagem de três décadas.

A rejeição popular é expressiva e contundente: pesquisa do Datafolha mostra que 76% dos brasileiros são contrários ao aumento de vagas, contra apenas 20% favoráveis. Mesmo assim, os parlamentares ignoram a vontade popular e seguem com a tramitação acelerada. O cientista político Claudio Couto critica que a medida “não se justifica de forma alguma” como gasto adicional, especialmente num momento em que se discute a necessidade de contenção fiscal.

Para completar o quadro de incoerência, a Câmara dos Deputados emitiu um ofício afirmando que a medida “não importará na necessidade de nenhum acréscimo ao orçamento atual desta Casa”, numa tentativa de minimizar o impacto real da proposta. Entretanto, os números demonstram que os parlamentares priorizaram seus próprios interesses corporativos em detrimento da racionalidade fiscal, justamente no momento em que cobram austeridade do Executivo e sacrifícios da população mais vulnerável.

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