Acordo mediado por Trump, com apoio do Catar, põe fim temporário a confrontos que mataram mais de 600 pessoas e geraram tensões econômicas globais, enquanto revelações sobre doutrinação de autoridades brasileiras expõem estratégias de propaganda israelense.

O conflito entre Israel e Irã, que durou 12 dias e deixou mais de 600 mortos, chegou ao fim na madrugada desta terça-feira (24) com um cessar-fogo mediado pelo presidente americano Donald Trump. O acordo, anunciado após intensa negociação com apoio do Catar, encerrou os confrontos mais intensos entre os dois países em décadas, mas a fragilidade da trégua já se manifestou nas primeiras horas com acusações mútuas de violação.
O conflito teve início em 13 de junho, quando Israel lançou ataques contra instalações iranianas sob a alegação de que Teerã desenvolvia armas nucleares. A escalada ganhou nova dimensão quando os Estados Unidos entraram diretamente no confronto, atacando três instalações nucleares iranianas, incluindo o complexo subterrâneo de Fordo, considerado impenetrável pelas forças israelenses.
As baixas reportadas revelam a intensidade dos combates: autoridades iranianas informaram 610 mortos e 4.746 feridos em território iraniano, enquanto Israel registrou 28 mortes, marcando a primeira vez que suas defesas aéreas foram sobrecarregadas por mísseis iranianos. Os números evidenciam o caráter sem precedentes do confronto entre as duas potências regionais.
A entrada dos EUA no conflito representou a primeira ação militar direta americana contra alvos iranianos em quase quatro décadas. Trump ordenou o uso de sete bombardeiros B-2 e dezenas de mísseis de submarinos, incluindo 14 bombas “destruidoras de bunkers” de 13 toneladas cada contra o complexo de Fordo. A operação atendeu a pressões do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que há anos solicitava apoio militar direto americano.
O cessar-fogo foi anunciado por Trump após conversas com Netanyahu e mediação do Catar, com participação do vice-presidente J.D. Vance, do secretário de Estado Marco Rubio e do enviado especial Steve Witkoff. Ambos os países reivindicaram vitória: Netanyahu declarou que Israel alcançou uma “vitória histórica”, enquanto o presidente iraniano Masoud Pezeshkian classificou o desfecho como “grande vitória” para Teerã.
A fragilidade do acordo ficou evidente quando, apenas duas horas após o início da trégua, Israel acusou o Irã de violar o cessar-fogo e prometeu responder com firmeza. O Irã negou qualquer violação, enquanto Trump criticou ambos os lados por não respeitarem os termos negociados. As trocas de acusações levantam dúvidas sobre a durabilidade da paz.
O conflito gerou significativas tensões econômicas globais, com os preços do petróleo Brent subindo 19% desde a véspera dos primeiros ataques israelenses. O Irã, que produz 2,7 milhões de barris por dia, viu sua capacidade produtiva ameaçada, enquanto especialistas alertaram que uma escalada em áreas produtoras poderia retirar 5 milhões de barris diários do mercado mundial.
Paralelamente aos combates, revelações sobre estratégias de propaganda israelense vieram à tona através do relato do prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião. Durante visita oficial a Israel, uma comitiva de 40 autoridades brasileiras foi orientada por um porta-voz do Ministério da Defesa israelense a propagar a versão pró-governo de Israel no retorno ao Brasil, sendo chamadas de “embaixadores da verdade”.
O episódio de doutrinação ocorreu em 15 de junho, um dia antes da saída da comitiva, quando o brasileiro Rafael Rozenszajn, representante do Ministério da Defesa israelense, pediu que as autoridades propagassem a narrativa oficial israelense. O porta-voz criticou a imprensa brasileira por supostamente publicar “narrativas enganosas” contra Israel, propagando versões do Hamas e do Irã.
Com o cessar-fogo em vigor, Israel anunciou que voltará a concentrar esforços em Gaza contra o Hamas, mantendo o objetivo de resgatar reféns, enquanto Netanyahu deixou claro que a campanha contra o “eixo do Irã” não foi abandonada. A comunidade internacional, representada pelo secretário-geral da ONU António Guterres, alertou para os riscos de uma “escalada perigosa” que pode sair rapidamente do controle, enquanto o mundo observa se esta trégua frágil conseguirá evoluir para uma paz duradoura na região.