Câmara propõe acúmulo de salário e aposentadoria para parlamentares em atividade

Projeto tramita com pedido de urgência enquanto Congresso resiste a medidas de arrecadação e discute cortes de gastos sociais.

Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino

Em meio ao debate sobre ajuste fiscal e resistência às propostas de arrecadação do governo federal, a Câmara dos Deputados apresentou o Projeto de Lei 2.809/2025 para permitir que parlamentares em exercício acumulem salário e aposentadoria. A medida, de autoria da Mesa Diretora da Casa, visa revogar dispositivo legal que atualmente veda o recebimento simultâneo desses benefícios durante o mandato eletivo.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, justifica a proposta alegando que a regra atual cria “tratamento desigual” em relação aos demais segurados dos regimes públicos de previdência. Segundo ele, a vedação é “inconstitucional” e “desestimula a continuidade da participação política” de cidadãos que já cumpriram os requisitos para aposentadoria, representando um “obstáculo à livre atuação parlamentar”.

O projeto também prevê que parlamentares incluídos no Plano de Seguridade Social dos Congressistas tenham direito à gratificação natalina, calculada com base nos proventos de dezembro de cada ano. A modificação beneficiará ainda parlamentares aposentados pelas regras do extinto Instituto de Previdência dos Congressistas, que funcionou até 1997.

A Mesa Diretora solicitou que a proposta seja aprovada “com a merecida urgência”, o que pode resultar em tramitação acelerada sem análise pelas comissões temáticas. Nesse caso, o texto seria analisado diretamente pelo plenário da Câmara, agilizando sua eventual aprovação.

Atualmente, os parlamentares recebem salário de R$ 46.366,19 brutos mensais, valor equivalente ao teto constitucional do funcionalismo público. O projeto, no entanto, não apresenta estimativa do impacto orçamentário que a medida geraria aos cofres públicos com a possibilidade de acúmulo desses valores com as aposentadorias.

A iniciativa surge em momento de tensão entre Executivo e Legislativo sobre o equilíbrio das contas públicas. Enquanto o governo propõe medidas de arrecadação e discute cortes que não firam de morte as políticas públicas, o Congresso Nacional trabalha para ampliar seus próprios benefícios e gastos.

A proposta evidencia a contradição entre o discurso de austeridade fiscal direcionado aos mais vulneráveis e a manutenção de privilégios para a classe política. Enquanto se defende redução de despesas com políticas públicas e se mantêm isenções tributárias para os mais ricos, parlamentares buscam aumentar suas próprias vantagens pessoais, em detrimento da população, inclusive por meio de emendas parlamentares que carecem da adequada transparência.

1 comentário em “Câmara propõe acúmulo de salário e aposentadoria para parlamentares em atividade”

  1. Nós vivemos -no passado não muito distante, em que a sociedade civil (qua acabara de amargar uma ditadura de mais de vinte anos) se mantinha de pé, de fronte erguida e disposta a ir pra rua brigar em favor da Nação.
    Hoje, depois da enorme bobeira da eleição do desclassificado Bolsonaro, estamos assistindo a coisas que não aceitamos como cidadãos civilizados e testados nas lutas enfrentadas ao longo do tempo: um congresso cheio de figuras que pouco ou quase nada se preocupa com a situação do nosso País, cheio de problemas, principalmente aqueles que haveremos de enfrentar num futuro que está bei ai a bater nas nossas portas.
    O presidente da Câmara, um nordestino como todos nós, se acha no direito de impor com sua verdade, como se fosse a verdade mais verdadeira, e bate no peito afirmando que a vontade dele é a que prevalece: não vai votar a favor das medidas que precisam ser adotadas para tirar a economia do atoleiro.
    Cadê os movimentos sociais, os sindicatos, o PT, o Psol, as igrejas que não intercedem em favor do povo?

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