PF pede ao STF investigação sobre senador Ciro Nogueira e empresário de apostas
Representação sigilosa questiona conexões financeiras entre político piauiense e dono de bets após viagem conjunta a Mônaco.

A Polícia Federal encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma representação sigilosa solicitando autorização para investigar as relações entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, do setor de apostas online. O pedido foi distribuído ao gabinete da ministra Cármen Lúcia no final de maio, pouco antes do encerramento da CPI das Bets no Senado.
A investigação ganhou força após revelações sobre uma viagem conjunta dos dois a Mônaco, em maio, para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1. Na ocasião, Nogueira integrava a comissão parlamentar que investigava justamente as atividades de Fernandin. Os dois ficaram hospedados em uma embarcação na marina do principado europeu, utilizando o jato particular do empresário.
Relatórios de Inteligência Financeira acessados pela CPI mostram movimentações suspeitas entre os envolvidos. Fernandin transferiu 625 mil reais para Victor Linhares de Paiva, ex-assessor de Ciro Nogueira, entre dezembro de 2023 e setembro de 2024. No mesmo período, Paiva repassou 35 mil reais diretamente à conta pessoal do senador. Nogueira justificou o valor como reembolso de reserva hoteleira na Itália, enquanto alegou que os 625 mil reais foram pagamento por um relógio de luxo negociado entre o empresário e seu ex-assessor.
Outras operações chamam atenção dos investigadores. Em 2022, Fernandin adquiriu três apartamentos em Teresina por mais de 1,5 milhão de reais em um empreendimento que tem como sócio da incorporadora a empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, pertencente ao senador. O patrimônio do empresário cresceu quase 300% entre 2022 e 2023, saltando de 36 milhões para 143 milhões de reais, sem que analistas identificassem a origem dos recursos.
A CPI das Bets terminou em junho sem aprovar seu relatório final – fato inédito em mais de uma década no Senado. A relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS) havia proposto o indiciamento de 16 pessoas, incluindo Fernandin, mas quatro dos sete senadores votaram contra. Apesar disso, Thronicke encaminhou os dados coletados à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República, citando inclusive a reportagem sobre a viagem a Mônaco. O STF ainda não decidiu se autoriza a abertura formal do inquérito.














