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Artigo: O regresso de uma juventude equivocada

Quando as velhas formas de destruição renascem, é porque o chão da esperança está ficando cansado. É preciso renovar o solo, amolar o arado, preparar a terra, e rejuvenescer a força da liberdade para poder retomar o direito à vida, a paz, a igualdade, a cidadania, ao direito de ir e vir, de falar, de pensar, enfim… ao verdadeiro sentido da palavra amor.

Quando me deparo com o semblante de uma juventude, envelhecido, me dá pena, e pena não é um sentimento bom. Não falo envelhecido no sentido de idade, mas de pensamento, de ideias, de futuro, de coletividade, de um por todos e todos por um.

Um dia, também me vesti de verde e amarelo; pendurei uma bandeira no braço do violão, e saí “Caminhando, cantando, e seguindo a canção…” Muitos anos de espera até o momento de libertar meu canto e poder escolher o mote para a próxima canção; de poder dizer “sim e não a reis e rainhas”, e “de peito aberto” gritar a minha liberdade, podendo escolher o chefe da nação onde eu nasci.

O Brasil é o chão que eu piso, e eu preciso dele plano, pleno, firme e forte, para que eu possa continuar minha jornada, “sem medo de ser feliz”. Já cheguei quase perto, já fui muito longe, andei léguas além.

Sempre houve pedras no meio do caminho; tirei todas, e vou tirar tantas quanto preciso for. As mais leves, eu chutava; as mais pesadas, eu esperava chegar um camarada e pedia ajuda. Às vezes, pegávamos uma vara de marmeleiro para facilitar a remoção; ela se quebrava; pegávamos duas; elas quebravam-se, pegávamos três; elas envergavam, pegávamos quatro, formávamos um feixe, e fazíamos a força. Mais adiante, no mesmo caminho, outra pedra, dessa vez ainda maior. Aí, já não estava só, éramos dois; esperávamos mais alguém que viesse em nossa trilha, e somávamos três, e depois quatro, e depois cinco… e não deixávamos que as pedras criassem limos no meio do caminho. Já éramos multidão.

Semeei amores, germinei afetos, escoei a chuva para não ser tempestade. Nunca tive tanto, mas o pouco que tive dividia para ser muito mais. Talvez seja por isso que nunca me iludi com a ganância do vil metal.

Por Maciel Melo