22 de junho de 2025

Geral

A eterna ironia da guerra se repete nos conflitos de 2025

Frase não raro atribuída a piloto da Segunda Guerra Mundial ganha nova relevância em meio aos múltiplos conflitos que assolam o mundo atual.

Imagem: Reprodução

A célebre frase “A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam entre si, por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam” voltou a circular intensamente nas redes sociais desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Embora sua origem não seja consensual – sendo frequentemente atribuída ao piloto alemão Erich Hartmann ou remontando à antiguidade clássica -, a reflexão continua atual e dolorosamente precisa ao observarmos o cenário geopolítico contemporâneo.

O mundo de 2025 apresenta um panorama de conflitos interconectados que exemplifica perfeitamente essa cruel ironia. Na guerra entre Rússia e Ucrânia, soldados jovens de ambos os lados, muitos ainda na casa dos vinte anos, enfrentam-se em trincheiras e campos de batalha por decisões tomadas em gabinetes presidenciais. A situação se tornou ainda mais emblemática com a chegada de tropas norte-coreanas para apoiar as forças russas – jovens de um país fechado que nunca conheceram seus adversários ucranianos, mas foram enviados para morrer por alianças políticas estabelecidas por líderes septuagenários.

No Oriente Médio, o padrão se repete com variações igualmente trágicas. Em Gaza, jovens palestinos e soldados israelenses se enfrentam em um conflito que já causou mais de 54 mil mortes palestinas, enquanto as decisões estratégicas são tomadas por líderes políticos que permanecem em segurança. O recente confronto entre Israel e Irã, que já deixou 248 mortos, coloca novamente em risco a vida de jovens militares por disputas geopolíticas entre governos que se conhecem há décadas e cultivam rivalidades históricas.

A guerra civil em Mianmar, iniciada após o golpe militar de 2021, ilustra outro aspecto dessa dinâmica perversa. Jovens civis organizados na chamada Força de Defesa do Povo enfrentam as forças governamentais em um conflito que já matou mais de 12 mil pessoas. Enquanto isso, os generais que ordenaram o golpe e os líderes da resistência, em sua maioria homens de meia-idade ou idosos, raramente aparecem nas linhas de frente. Situação semelhante ocorre no Iêmen, onde a guerra civil entre governo e rebeldes houthis já causou mais de 233 mil mortes, com jovens de ambos os lados pagando o preço de disputas sectárias alimentadas por potências regionais.

A persistência dessa dinâmica ao longo da história humana revela uma das contradições mais cruéis da condição humana: aqueles que têm o poder de declarar guerras raramente são os que pagam seu preço mais alto. Enquanto líderes mundiais, em sua maioria homens acima dos 60 anos, tomam decisões em salas climatizadas, são os jovens – muitas vezes com menos de 25 anos – que carregam armas, enfrentam o frio das trincheiras e morrem longe de casa.

Economia, Internacional

Tensão sobre Ormuz: mundo prende a respiração

Ameaça de bloqueio no Estreito de Ormuz, pelo Irã, eleva preocupações globais e impacta mercados.

Imagem: REUTERS/Hamad I Mohammed/File Photo

O Parlamento iraniano aprovou o fechamento do estratégico Estreito de Ormuz, uma medida que surge como resposta a uma ofensiva dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas. Embora a decisão ainda dependa da ratificação de órgãos superiores, como o Conselho Supremo de Segurança Nacional e o aiatolá Ali Khamenei, a mera possibilidade de um bloqueio já acende um alerta global, gerando apreensão nos mercados internacionais e entre as principais potências econômicas.

Este estreito, que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã, é uma das rotas marítimas mais cruciais do planeta. Por suas águas estreitas, transita aproximadamente 20% de todo o petróleo comercializado mundialmente, além de uma parcela significativa do gás natural. Sua importância estratégica o torna um gargalo vital para o suprimento energético global, essencial para a manutenção das cadeias de produção e consumo em diversas nações.

As consequências de um eventual fechamento seriam drásticas para a economia mundial. A interrupção do fluxo de petróleo e gás resultaria em uma disparada imediata nos preços do barril, que poderiam facilmente ultrapassar a marca de US$ 100. Esse aumento nos custos da energia se traduziria em uma elevação generalizada da inflação, impactando diretamente setores como a indústria, o transporte e a agricultura em escala global.

Além da escalada inflacionária, um bloqueio em Ormuz provocaria severas disrupções nas cadeias de suprimentos internacionais. Atrasos na importação de matérias-primas e bens manufaturados seriam inevitáveis, afetando a produção e o comércio em diversos países. Na Europa, que depende fortemente do petróleo e gás do Golfo, a situação poderia evoluir para uma crise energética, com risco de desabastecimento.

Para o Brasil, as repercussões seriam sentidas diretamente no bolso do consumidor. A alta do petróleo no mercado internacional pressionaria a Petrobras a reajustar os preços dos combustíveis, elevando o custo da gasolina e do diesel. Tal cenário agravaria a inflação interna, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já operando acima da meta. Analistas, contudo, ponderam que, apesar da retórica, o Irã pode adotar uma resposta mais contida para evitar uma escalada ainda maior do conflito.

Internacional

ONU enfrenta crise de credibilidade em mundo com recorde de conflitos

Organização admite que proteção de civis está “desmoronando”; 2024 registrou o maior número de guerras desde a Segunda Guerra Mundial.

Imagem: Reprodução

O ano de 2024 entrou para a história como o mais violento desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 61 conflitos armados registrados em 36 países, segundo relatório do Instituto de Pesquisas de Paz de Oslo. Os dados, baseados em levantamento da Universidade de Uppsala, revelam um cenário que expõe as limitações crescentes da Organização das Nações Unidas em cumprir sua missão fundamental de manter a paz e a segurança internacionais. As guerras resultaram em aproximadamente 129 mil mortes, consolidando uma tendência ascendente que faz dos últimos quatro anos os mais letais desde o fim da Guerra Fria.

O cenário de 2025 mostra-se ainda mais desafiador, com uma escalada dramática de conflitos que coloca em xeque qualquer esperança de estabilização global. O International Crisis Group alerta que “o regresso de Trump adiciona imprevisibilidade a um mundo já volátil”, enquanto a contagem mundial de mortos, deslocados e famintos devido a combates atingiu o nível mais alto em décadas. A situação se agravou drasticamente em junho, quando Israel e Irã iniciaram ataques diretos mútuos, culminando na entrada dos Estados Unidos no conflito através de bombardeios a três instalações nucleares iranianas. Esta escalada, que já deixou mais de 240 mortos nos dois países, representa um ponto de inflexão que especialistas temem possa desencadear uma conflagração regional com repercussões globais.

A própria ONU reconhece publicamente suas falhas. Em maio de 2025, o subsecretário-geral de Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, admitiu que a proteção de civis em conflitos armados está “desmoronando”, apesar das lições históricas e dos compromissos legais assumidos pelos países. A organização registrou mais de 36 mil mortes de civis em apenas 14 conflitos durante 2024, número que Fletcher considera subestimado. O ano também se tornou o mais letal para trabalhadores humanitários, com 360 mortes registradas, evidenciando o colapso dos mecanismos de proteção internacional.

Especialistas em relações internacionais não poupam críticas à paralisia institucional da ONU. Fawaz Gerges, professor da London School of Economics, afirma categoricamente que “a ONU está em coma” e considera o momento atual “pior que a Guerra Fria”. Para o acadêmico, o Conselho de Segurança encontra-se “paralizado e disfuncional”, enquanto a Assembleia Geral funciona mais como “uma instituição simbólica que uma agência executiva”.

A multiplicação de focos de tensão em 2025 evidencia a incapacidade da ONU de conter a fragmentação global. Além do conflito Israel-Irã, persistem as guerras na Ucrânia e em Gaza, enquanto novos pontos de instabilidade emergem no Mar do Sul da China, na península coreana e em torno de Taiwan. Analistas alertam que os conflitos interconectados aumentam exponencialmente a probabilidade de consequências imprevistas, com o risco de que um erro de cálculo em qualquer teatro de operações desencadeie uma reação em cadeia global.

Economia, Internacional

Irã aprova fechamento do Estreito de Ormuz em resposta a ataques americanos

Decisão parlamentar iraniana visa retaliar bombardeios dos EUA contra instalações nucleares do país.

Imagem: REUTERS/Hamad I Mohammed/File Photo

O Parlamento do Irã aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz como resposta aos bombardeios ordenados pelo presidente americano Donald Trump contra três instalações nucleares iranianas. A medida, anunciada pela mídia local, ainda depende da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do aiatolá Khamenei para entrar em vigor.

O Estreito de Ormuz representa uma das rotas marítimas mais estratégicas do mundo, sendo responsável pelo transporte de aproximadamente 20% de todo o petróleo comercializado globalmente. Localizado entre Omã e o Irã, o estreito possui apenas 33 quilômetros de largura em sua parte mais estreita, com canais de navegação de apenas três quilômetros em cada direção.

A região é protegida pelos Estados Unidos através da 5ª Frota da Marinha americana, com base no Bahrein. Países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, exportam a maior parte de sua produção petrolífera através desta via marítima, principalmente para mercados asiáticos.

O anúncio do possível bloqueio já provocou forte impacto nos preços internacionais do petróleo. O barril tipo Brent, referência global, registrou alta de 13,5%, saltando de US$ 69,36 para US$ 78,74. O petróleo WTI, referência nos Estados Unidos, apresentou valorização de 10,9%, passando de US$ 66,64 para US$ 73,88.

Analistas do banco JPMorgan alertam que, no pior cenário, o fechamento efetivo do estreito poderia elevar os preços do petróleo para a faixa de US$ 120 a US$ 130 por barril. Embora o Irã já tenha ameaçado bloquear a passagem em outras ocasiões, como em 2019 durante a retirada americana do acordo nuclear, esta é a primeira vez que o Parlamento iraniano formaliza tal decisão.

Internacional

EUA entram diretamente no conflito e bombardeiam instalações nucleares iranianas

Operação americana atingiu três complexos nucleares do Irã e provocou reações internacionais divergentes.

Trump acompanhou ataque americano ao Irã em sala de situação na Casa Branca – Imagem: The White House/Reuters

Os Estados Unidos entraram diretamente no conflito entre Israel e Irã ao bombardear três principais instalações nucleares iranianas nas primeiras horas deste domingo na região (22). O presidente Donald Trump anunciou que a operação militar atingiu os complexos de Fordow, Natanz e Isfahan, utilizando bombardeiros furtivos B-2 e bombas antibunker de alta precisão.

A decisão americana marca uma escalada significativa na região, nove dias após o início da campanha militar israelense. Trump justificou a ação como necessária para impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã, classificando os ataques como uma “ação defensiva” para proteger os Estados Unidos e seus aliados.

O secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, afirmou que a operação foi planejada para “degradar” e “destruir” as capacidades nucleares iranianas. Segundo ele, foram utilizadas pela primeira vez bombas MOP (Massive Ordnance Penetrator), com seis bombas antibunker lançadas especificamente contra Fordow e cerca de 30 mísseis Tomahawk contra as outras instalações.

O Irã confirmou os ataques, mas tentou minimizar os danos através de sua mídia estatal. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, alertou para “consequências duradouras” e acusou os Estados Unidos de cometerem uma “grave violação da Carta da ONU”. Em resposta, mísseis iranianos atingiram áreas no norte e centro de Israel, deixando pelo menos 16 feridos.

As reações internacionais foram divergentes. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu parabenizou Trump, afirmando que a decisão “mudará a história”. Por outro lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o risco “crescente” de o conflito sair “rapidamente do controle”, defendendo que “não há solução militar” e que “o único caminho é a diplomacia”.

Rolar para cima