17 de junho de 2025

Direito e Justiça

TJ-MG condena Meta a pagar R$ 10 mil diretamente a usuários por vazamento de dados

Decisão inédita, tomada no julgamento da apelação 1.0000.24.174731-0/001, dispensa ações individuais e pode beneficiar 170 milhões de brasileiros afetados por falhas de segurança.

A 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou a Meta, empresa proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, a pagar indenização direta de R$ 10 mil a cada usuário brasileiro afetado por vazamentos de dados ocorridos entre 2018 e 2019. A decisão, tomada por maioria de votos, é considerada inédita por dispensar o ajuizamento de ações individuais para o recebimento da indenização.

Além da compensação individual, a Meta foi condenada ao pagamento de R$ 40 milhões por danos morais coletivos ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor de Minas Gerais. Segundo o Instituto Defesa Coletiva, cerca de 170 milhões de brasileiros podem ser potencialmente beneficiados pela decisão, que estabelece um precedente importante na proteção de dados pessoais no país.

Os vazamentos que motivaram a condenação ocorreram em três episódios distintos. Em setembro de 2018, uma falha conhecida como “visualizar como” afetou quase 50 milhões de contas. Em dezembro do mesmo ano, um problema na API de fotos permitiu que aplicativos terceiros acessassem imagens privadas dos usuários do Instagram e Facebook. O terceiro incidente, em maio de 2019, envolveu a instalação de software espião através do sistema de videochamadas do WhatsApp.

O voto vencedor foi proferido pelo desembargador Newton Teixeira Carvalho, acompanhado pelos magistrados José de Carvalho Barbosa, Lúcio Eduardo de Brito e Maria Luísa Santana Assunção. Para a corrente majoritária, a responsabilização da Meta se justifica porque os vazamentos não decorreram de ataques externos imprevisíveis, mas de falhas no próprio funcionamento das plataformas, que poderiam ter sido antevistas e evitadas.

Ficou vencido o relator das apelações, desembargador Luiz Carlos Gomes da Mata, que votou por afastar a responsabilidade da Meta em dois dos episódios e reduzir a condenação por danos morais coletivos para R$ 1 milhão. A decisão considerou a capitalização de mercado da empresa e a necessidade de impor uma condenação suficientemente robusta para inibir práticas similares no futuro, conforme destacou Lilian Salgado, presidente do Comitê Técnico do Instituto Defesa Coletiva, ao classificar o caso como “violação de um direito humano fundamental: o direito à privacidade”.

Economia

Benefícios Sociais e Empregos: a verdade que desafia o discurso dos poderosos sobre cortes que afetam os mais vulneráveis

Dados oficiais desmentem narrativa de “vício” e revelam busca por trabalho digno entre beneficiários.

Imagem: Reprodução

O debate sobre programas sociais no Brasil ganha novos contornos à medida que dados oficiais de geração de empregos contrastam com as declarações de grandes empresários e banqueiros. Enquanto setores da elite econômica defendem cortes em benefícios sociais sob a justificativa de ajuste fiscal e alegam dificuldades em contratar mão de obra, o governo apresenta números que pintam um cenário diferente da inserção dos beneficiários no mercado de trabalho.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, o Cadastro Único, que inclui os beneficiários do Bolsa Família, foi responsável por uma parcela esmagadora dos empregos gerados em 2024. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que 98,87% das vagas criadas no ano foram ocupadas por pessoas inscritas no CadÚnico.

O ministro Wellington Dias enfatizou que “o Caged mostra, na prática, que as pessoas do Bolsa Família e do Cadastro Único querem trabalhar, estão empregadas, mas buscam empregos decentes”. Essa realidade é reforçada pela “Regra de Proteção” do Bolsa Família, que permite aos beneficiários manter 50% do valor do auxílio por até dois anos após a formalização do emprego, incentivando a transição para o mercado formal sem a perda abrupta do suporte.

Contrariando essa perspectiva, figuras proeminentes do empresariado têm vocalizado preocupações. Ricardo Faria, conhecido como “Rei do Ovo”, expressou dificuldades em contratar, atribuindo-as a um suposto “vício” em programas sociais como o Bolsa Família, que, segundo ele, desestimularia a formalização.

Em evento com banqueiros e grandes empresários, a defesa por cortes em benefícios sociais para um ajuste fiscal foi uma tônica. Wesley Batista, da JBS, e André Esteves, do BTG Pactual, argumentaram pela revisão do tamanho dos programas sociais, alegando falta de mão de obra e a necessidade de desatrelar aumentos previdenciários do salário mínimo. O CEO do Itaú, Milton Maluhy, também defendeu cortes em gastos públicos.

Geral

Polícia Federal indicia Bolsonaro e aliados por esquema de espionagem na Abin

Ex-presidente, filho Carlos e deputado Ramagem estão entre mais de 30 pessoas indiciadas no caso da “Abin paralela”.

Imagem: Antonio Cruz/agência Brasil

A Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o caso da “Abin paralela” e indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos Bolsonaro e o deputado federal Alexandre Ramagem. O relatório final, que inclui mais de 30 indiciados, foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira.

ERRATA: O ex-presidente Jair Bolsonaro não teria sido indiciado no inquérito que apura esquema de espionagem na Abin. A Polícia Federal teria considerado que ele tinha conhecimento e era o principal beneficiário do esquema, fazendo parte do núcleo político do grupo que atuou nas ações clandestinas e de instrumentalização da Abin. O indiciamento não teria ocorrido em razão de ele já ter sido indiciado pelo mesmo crime de organização criminosa na ação penal de tentativa de golpe, que também trata do uso ilegal da Abin.

As investigações apontam que durante o governo Bolsonaro foi montada uma estrutura paralela de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), período em que Ramagem ocupava o cargo de diretor-geral da instituição. O esquema teria sido usado para monitorar pessoas consideradas adversárias políticas do então presidente.

Entre os alvos da espionagem ilegal estavam ministros do STF, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Luiz Fux, além do ex-presidente da Câmara Arthur Lira. Políticos, jornalistas e outras figuras públicas também foram monitorados pela estrutura paralela.

O grupo utilizava o software “First Mile” para rastrear celulares de forma reiterada, sistema capaz de detectar a localização de aparelhos através das redes 2G, 3G e 4G. Para localizar os alvos, bastava inserir o número telefônico no programa e acompanhar a posição em tempo real através de um mapa.

A investigação foi aberta no primeiro ano do governo Lula para apurar indícios de que a Abin havia sido aparelhada e utilizada de forma ilegal. As apurações indicam que a estrutura de espionagem atendia interesses políticos e pessoais do ex-presidente e de seus filhos.

Personalidade

Personalidade | Saiba quem foi Delmiro Gouveia

Empresário visionário que desafiou o poder inglês no Nordeste brasileiro.

Imagem: Reprodução

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu na fazenda Boa Vista, no município de Ipu, Ceará, e morreu assassinado em 1917, aos 54 anos, em Vila da Pedra, atual cidade de Delmiro Gouveia, em Alagoas. Filho ilegítimo de um fazendeiro que morreu na Guerra do Paraguai, teve origem humilde e precisou trabalhar desde cedo para sustentar a família.

Aos 19 anos, mudou-se com a mãe para Pernambuco, onde começou como bilheteiro de trem e despachante de barcaças. Sua trajetória empresarial iniciou-se no comércio de peles e couros, atividade que o levou a enriquecer rapidamente e a ser conhecido como o “Rei das peles” no Nordeste brasileiro.

Em 1896, fundou a Casa Delmiro Gouveia & Cia e expandiu seus negócios para outros setores. Urbanizou o bairro do Derby no Recife, construiu o Mercado Coelho Cintra e ergueu uma refinaria de açúcar que chegou a ser a maior da América do Sul na época.

Após conflitos pessoais e políticos, mudou-se em 1904 para Vila da Pedra, no sertão alagoano, próximo ao rio São Francisco. Lá, desenvolveu seu projeto mais ambicioso: uma usina hidrelétrica na cachoeira de Paulo Afonso e uma fábrica de linhas de costura que revolucionou a indústria têxtil brasileira.

A Companhia Agro-Fabril, inaugurada em 1914, produzia as famosas linhas “Estrela”, que chegaram a fabricar mais de 20 mil carretéis por dia. A empresa oferecia benefícios sociais pioneiros, como vila operária, assistência médica, escola e cinema para os trabalhadores.

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