A controversa realidade das bonecas ‘Bebês Reborn’ que desafiam limites e até atraem famosos
Enquanto projetos de lei buscam regulamentar o uso e oferecer suporte psicológico, o fenômeno das bonecas hiper-realistas, impulsionado por celebridades, levanta questionamentos sobre implicações emocionais e o foco do debate público.

Os bebês reborn, bonecas de realismo perturbador que mimetizam recém-nascidos, transcenderam o universo dos colecionadores para se tornarem um controverso tópico na pauta legislativa e social brasileira. Se por um lado há quem defenda seu potencial terapêutico, por outro, o crescente envolvimento de figuras públicas e as inusitadas propostas legislativas – que vão de datas comemorativas a programas de saúde mental e vetos em hospitais – acendem um debate crítico sobre os limites da fantasia, o uso de recursos públicos e a influência midiática na propagação de tendências.
A adesão de personalidades como Gracyanne Barbosa e até mesmo figuras religiosas como o Padre Fábio de Melo, conforme noticiado, parece impulsionar a popularidade dos reborns, transformando o que poderia ser um nicho em uma “febre” com implicações mais amplas. Essa visibilidade contribui para a normalização de um apego que, em alguns casos, beira o insólito, como o episódio em Minas Gerais onde uma mulher buscou atendimento médico para um boneco supostamente febril. Tal situação motivou o deputado estadual Cristiano Caporezzo a propor um projeto de lei que proíbe o atendimento de bebês reborn em hospitais, com multas revertidas para o tratamento de transtornos mentais, questionando o desvio de recursos e atenção de quem de fato necessita de cuidados.
No Rio de Janeiro, a Câmara Municipal aprovou a criação do “Dia da Cegonha Reborn”, em 4 de setembro, uma iniciativa do vereador Vitor Hugo (MDB) para homenagear as artesãs. A justificativa aponta o uso dos bonecos como apoio emocional e até ferramenta terapêutica. Contudo, a mesma cidade vê tramitar um projeto do deputado estadual Rodrigo Amorim para um programa de saúde mental específico para “pais e mães” de reborns, visando prevenir depressão e dependência emocional. A necessidade de tais programas levanta um questionamento sobre a profundidade do impacto psicológico que essas bonecas podem exercer, especialmente quando a linha entre o lúdico e a realidade se torna tênue para alguns usuários.
Enquanto se discute o acolhimento e o suporte, a própria natureza do fenômeno e a atenção legislativa que tem recebido convidam a uma reflexão crítica. Seria o investimento de tempo e recursos parlamentares em questões tão específicas um reflexo de demandas sociais urgentes ou uma distração fomentada por tendências passageiras, amplificadas pelo mundo das celebridades? A discussão sobre os bebês reborn, portanto, vai além da arte e do afeto, tocando em pontos sensíveis sobre saúde mental, responsabilidade social e as prioridades do debate público contemporâneo.