Um estudo da Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins apontou que um aumento de 32% para 50% no número de crianças do ensino fundamental que fazem 25 minutos de atividade física, três vezes por semana, evitaria o equivalente a R$ 70 bilhões em custos médicos e salários perdidos ao longo de suas vidas. Publicada no periódico científico “Health Affairs”, a pesquisa também sugere que apenas esse pequeno aumento na frequência de exercício entre crianças de 8 a 11 anos de idade resultaria em menos 340 mil jovens obesos ou com sobrepeso, uma redução de mais de quatro pontos percentuais no índice atual.
Esses números dão a dimensão da importância da prática de atividade física regular. Segundo Thiago Guimarães, doutor em Ciência do Exercício pela Uerj, essa inatividade é considerada, assim como o tabaco, a alimentação deficiente e o estresse mental, uma das causas diretamente relacionadas ao desenvolvimento de doenças crônicas, e que, além disso, envolvem tratamentos com difícil cobertura médica, até mesmo no meio privado.
— A gente sabe que não é somente a inatividade física que facilita o desenvolvimento de doenças. Um ponto que a gente sempre destaca é que não é o exercício físico em excesso que vai fortalecer o sistema imunológico. Mas, principalmente, o estresse crônico e o estresse acumulado. De certo modo, o fato da Síndrome de Burnout estar tão em evidência recentemente é resultado desse cenário, por conta de falta de sono adequado, alimentação precária, entre outros hábitos ruins — destaca.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, essas doenças matam cerca de 41 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, o que seria equivalente a 71% do total de óbitos. Junto com outros dois pesquisadores, Thiago desenvolveu um estudo que mostra como essas doenças crônicas acentuam os efeitos de pandemias como a de Covid-19. A ideia era apontar a importância do controle da saúde a médio e longo prazo, por meio de ações que fomentem a prática de atividade física.
De acordo com o estudo, no Brasil, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) correspondem a cerca de 70% das causas de mortes em adultos e percentual semelhante em gastos no Sistema Único de Saúde. A inatividade física é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento desse tipo de doença, que também apresenta relação direta com a piora das condições clínicas em uma eventual infecção pelo coronavírus.
— A prática do exercício é fundamental. Para uma pessoa sair do zero, existem recursos, flexibilizações que são extremamente importantes para ela atingir um treino satisfatório. Mas a gente também deve ter a precaução com intensidades elevadas, que podem interromper o equilíbrio do nosso organismo, deixando-o exposto a infecções virais, como é o caso da Covid — salienta.
De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, nas primeiras semanas da pandemia, sete de cada dez óbitos registrados pela doença foram de pessoas acima dos 60 anos, e com pelo menos um desses fatores de risco, como doença cardíaca, pulmonar ou diabetes. No entanto, Guimarães destaca que qualquer programa de exercício físico sozinho não garante efeitos positivos permanentes. O ideal é buscar hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada e sono regular.
Neste sentido, o estudo de Guimarães indica possíveis caminhos, a médio e longo prazo, para melhorar o quadro da saúde pública de um modo geral. Na lista estão o estímulo de práticas que promovam imunidade e saúde, o que poderia “amenizar a crise econômica, política e social no Brasil”, estratégias para o controle do estresse mental e da ansiedade, cuidados com a alimentação e o abandono da utilização de drogas lícitas, como o cigarro.
Fonte: O Globo