Chacina em creche deixa a pequena Saudades, em SC, transtornada

A agente de educação Mirla Renner, 20 anos, foi morta

“É uma tragédia, uma cidade de 10 mil habitantes como a nossa, um fato desses, nem nos piores pesadelos a gente poderia imaginar”, disse à Folha Maciel Schneider (PSL), prefeito de Saudades, na região oeste de Santa Catarina.

A tragédia a que ele se refere são as mortes de pelo menos cinco pessoas, depois que um jovem de 18 anos invadiu uma creche e golpeou professores e crianças com uma arma branca semelhante a um facão, na manhã dessa terça-feira (4).

O episódio deixou em choque a cidade, que tem 9.810 habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e nunca tinha testemunhado casos de violência parecidos. Entre os mortos estão uma professora, Keli Adriane Aniecevski, 30, uma agente de educação, Mirla da Costa Renner, 20, e três crianças menores de dois anos.

O jovem também se cortou com a arma, sendo encaminhado a um hospital com ferimentos no pescoço, abdômen e tórax, segundo as forças de segurança do estado.

As professoras da Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela, onde ocorreu o atentando, se trancaram nas salas de aula com as crianças para tentar conter a ação do suspeito. Com as restrições da pandemia, havia cerca de 20 pessoas no local, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

Rosane Puhl Reichert, 49, professora da escola, disse à Folha que estava na sala dos professores no momento do atentado, se preparando para retornar para a sala de aula, quando ouviu gritos de Keli, primeira vítima atingida pelo rapaz.

Segundo ela, a professora o abordou logo que ele entrou na escola, perguntando do que ele precisava, mas, sem maiores explicações, foi atacada pelo rapaz, que vestia roupas pretas.

A funcionária conta que, pelo tamanho e características, chegou a pensar que a arma fosse um cassetete. Logo que percebeu a agressão, ela e outra professora se trancaram na sala de materiais da escola. Ela percebeu depois que as colegas fizeram o mesmo em outros ambientes, na tentativa de impedir a ação do suspeito.

“Eu saí para pegar o meu celular e vi ele com o facão batendo tentando quebrar os vidros e entrar nas salas. Quando ele tentava entrar, as professoras e agentes de educação seguravam a porta”, contou Rosane.

Ao retornar para a sala de materiais, a professora disse ter ouvido muitos gritos e barulhos que pareciam disparos de arma de fogo. Segunda ela, depois soube que ele soltou estalinhos durante a ação.

Quando o barulho diminuiu, ela pulou a janela da sala em que estava para verificar como estavam as crianças das quais cuidava. Naquele momento, o suspeito já havia sido capturado por vizinhos da escola.

Segundo relato de outra funcionária, pediu para não ser identificada, a segunda vítima do rapaz foi Mirla, que chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. Após atacar as funcionárias, ele conseguiu entrar em uma das salas de aula, onde atingiu as crianças.

Uma das fontes ouvidas pela reportagem disse que foi tudo muito rápido e que tentou pegar as crianças no braço, mas não teve força suficiente. O jovem teria vindo, então, em sua direção, e ela correu até o portão para pedir socorro, conseguindo escapar.

À NSCTV, outra professora, Aline Biazebetti, que trabalha em outro turno, mas mora em frente à creche e foi até o local depois de ouvir os pedidos de ajuda, também relatou que professores tentaram esconder as crianças, para protegê-las durante o ataque.

“Elas viram que estava acontecendo alguma coisa, conseguiram levar todos [alunos] para o fraldário e botar debaixo do mármore e uma ‘profe’ conseguiu segurar a porta, ele tentou abrir, mas daí no fim ele [agressor] acabou desistindo. Elas começaram a fechar as janelas para tentar se proteger”, contou ela à emissora.

“É muita tristeza. Não tenho nem palavras porque eu perdi colegas.”

“Foi muito triste porque a gente conhece todos os pais das crianças, um deles inclusive trabalha com o meu marido”, contou a professora Rosane.

Segundo ela, Keli era formada em Sistema de Informação e, para problemas de informática, ela era o “socorro” das colegas. “As crianças todas a adoravam, era muito querida, era o terceiro ano que a gente trabalhava juntas”, contou.

Já Mirla é descrita por Rosane como uma menina sonhadora. Ela tinha 20 anos e cursava Engenharia Química na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

“Ela era muito na dela, muito quietinha, mas muito prestativa. Gostava muito de artes, de desenho”, descreveu a colega.

O prefeito decretou luto no município, suspendeu todas as aulas na rede municipal, colocou profissionais de saúde, especialmente psicólogos, à disposição de familiares das vítimas e testemunhas e conta que está recebendo suporte em serviços de outros municípios vizinhos.

Fonte: Folha de S.Paulo